'Avatar: Fogo e Cinzas' traz Jake Sully em dúvida pela primeira vez, afirma Sam Worthington

A Rolling Stone Brasil conversou com o protagonista do terceiro capítulo da franquia de James Cameron, que já está em cartaz nos cinemas brasileiros

19 dez 2025 - 16h03

Já em cartaz nos cinemas brasileiros, Avatar: Fogo e Cinzas, terceiro filme da franquia criada por James Cameron , promete ir ainda mais fundo no drama dos personagens. Segundo Sam Worthington (Fúria de Titãs), que vive Jake Sully, essa intensidade nasce da maneira como a saga coloca a família de seu personagem no centro do conflito.

'Avatar Fogo e Cinzas' traz Jake Sully em dúvida pela primeira vez, afirma Sam Worthington (Divulgação/20th Century Studios)
'Avatar Fogo e Cinzas' traz Jake Sully em dúvida pela primeira vez, afirma Sam Worthington (Divulgação/20th Century Studios)
Foto: Rolling Stone Brasil

Em entrevista exclusiva à Rolling Stone Brasil, o ator falou sobre a evolução emocional de Jake junto ao peso de liderar, proteger e amar, além das escolhas que colocam o personagem diante do medo, da dúvida e da responsabilidade. Confira o papo completo a seguir:

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Uma família em transformação

Questionado sobre se Jake Sully ainda consegue surpreendê-lo depois de tantos anos, Sam Worthington diz que a relação com o personagem continua sendo uma jornada em constante transformação. "Eu caminho com esse personagem mais do que qualquer outro", afirma. Para ele, a principal novidade de Avatar: Fogo e Cinzas está justamente na recusa em repetir fórmulas. "Tudo evoluiu. Não estamos tentando fazer os mesmos filmes de antes, nem contar a mesma história ou mostrar os personagens da mesma forma."

Segundo Worthington, essa evolução contínua é o que diferencia Avatar de outras franquias de longa duração. "Os personagens estão sempre se transformando, e isso é o que torna essa saga tão empolgante", diz. Ele credita essa postura a James Cameron que, de acordo com o ator, faz questão de que o elenco continue aprofundando seus papéis. "O Jim quer que a gente siga se desenvolvendo."

Em Fogo e Cinzas, esse processo se manifesta de forma direta na dinâmica da família Sully. Worthington explica que Jake e seus familiares lutam para se manter unidos em meio ao caos. "Toda a família está tentando não se despedaçar", resume. Para ele, o filme acompanha esse esforço coletivo para reconhecer que o afeto é essencial. "Eles precisam perceber que o amor que sentem uns pelos outros é o que pode fazê-los seguir em frente."

O ator retoma, inclusive, uma fala de Jake ao final de Avatar: O Caminho da Água (2022), que funciona como ponto de partida para o novo capítulo. "Jake diz: 'Eu não posso salvar minha família fugindo. É aqui que vamos fazer nossa resistência'", relembra. A partir daí, Fogo e Cinzas se constrói sobre essa certeza. "Nós sabemos o que está por vir. E essa é uma família que vai precisar permanecer unida, aconteça o que acontecer."

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O que há de Jake Sully em Sam Worthington?

Worthington observa que Jake Sully reflete aspectos que ele próprio ainda busca desenvolver. "Jake é um personagem muito mais confiante do que eu, muito mais corajoso", admite. Ainda assim, ele reconhece uma afinidade essencial entre os dois. "O espírito dele é o mesmo que o meu. Se ele vai fazer algo, ele faz. Ele tenta." Em Avatar: Fogo e Cinzas, essa disposição se manifesta de forma urgente: Jake luta desesperadamente para manter sua família unida.

Segundo o ator, o arco emocional do personagem é atravessado por uma batalha interna constante. Jake tenta não ser dominado pelo medo e pela culpa, ao mesmo tempo em que busca preservar o amor da família e seguir adiante. "É tudo sobre não deixar que a escuridão vença", resume. Ao refletir sobre essas camadas, o ator amplia o sentido da experiência: "Aprendi muito sobre mim mesmo com isso."

Ao ser questionado se houve momentos durante as filmagens que o fizeram refletir sobre a própria vida e família, Worthington é direto: "Sempre". Para o ator, interpretar personagens nunca foi uma forma de fuga, mas de confronto. "Quando faço filmes, gosto de andar nos sapatos de outras pessoas. Isso me ajuda a entender quem eu sou", explica. Segundo ele, ao longo da carreira, esse processo tem funcionado quase como um espelho. "Algumas pessoas usam personagens para escapar de si mesmas. Comigo, acontece o oposto."

Para ele, o filme toca em algo universal. "Às vezes, a escuridão na nossa própria vida pode nos dominar", diz com franqueza. "E, para ser honesto, a única saída é olhar uns para os outros." É nesse gesto — de apoio mútuo — que Worthington enxerga o próximo passo, tanto para Jake quanto para qualquer um. "Ele é um líder, um marido, um pai", conclui, reforçando o peso e a responsabilidade que definem o personagem neste novo capítulo da saga.

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O maior peso de Jake Sully em Fogo e Cinzas

Questionado sobre qual dos muitos papéis de Jake Sully pesa mais neste capítulo — líder, marido ou pai —, Worthington prefere não hierarquizar. Para ele, a força do personagem está justamente na multiplicidade. "Eu adoro o fato de existir um prisma do que é ser um homem", afirma. Jake, segundo o ator, carrega responsabilidades imensas, mas segue sendo "como uma criança", alguém que "ainda não cresceu totalmente" e continua "fazendo coisas idiotas".

Essa contradição é parte essencial do fascínio do personagem. Worthington lembra que Jake é movido por uma coragem quase impulsiva. "É um personagem que foi do planeta Terra para outro planeta, se apaixonou por uma mulher e traiu a própria raça", define. No centro dessa trajetória, ele vê antes de tudo uma história de amor. "É isso que eu mais amo no Jake", diz. "Ele se apaixona pelo mundo, se apaixona por Neytiri, se apaixona pela família."

Em Avatar: Fogo e Cinzas, no entanto, esse amor passa a carregar um peso crescente. A responsabilidade deixa de ser apenas doméstica e se expande para algo maior. "Agora ele tem uma responsabilidade com todos os clãs", explica o ator. A grande questão, para Jake, é saber se será capaz de unir esses povos para enfrentar uma força ainda mais poderosa. "E com isso vem uma responsabilidade enorme."

É justamente esse desafio que Worthington mais admira no personagem. "Ele está disposto a tentar qualquer coisa." Mesmo permanecendo impulsivo, quase infantil em certos momentos, Jake assume o risco de errar — e é nesse equilíbrio instável entre ingenuidade e liderança que o ator enxerga a essência do personagem neste novo capítulo da saga.

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A essência de Jake Sully

Ao imaginar que conselho daria a alguém prestes a "calçar os sapatos" de Jake Sully pela primeira vez, Sam Worthington não hesita: "Sem medo". Para o ator, essa é a essência do personagem — e também o princípio que guia todas as suas ações. "Esse é o jeito do Jake", resume. Segundo ele, Jake simplesmente não pensa nas consequências antes de agir.

Worthington reconhece que isso talvez nem soe exatamente como um conselho prático, mas reforça que é a lógica interna do personagem. "Quando dizem para o Jake ir laçar um banshee, ele não pergunta por quê. Ele só vai: 'orrah, vamos fazer!'", conta. O mesmo vale para situações extremas: "Quando dizem para pular de uma gôndola, cair em cima de um pássaro e sair atirando nos vilões, ele não pensa duas vezes. Ele simplesmente faz."

Essa postura instintiva, quase inconsequente, é algo que o ator descreve com admiração. "É um jeito meio incrível de viver", diz. Ao mesmo tempo, ele reconhece que a maturidade tende a cobrar seu preço. "De vez em quando você cresce e passa a lembrar das consequências." Ainda assim, para Worthington, não há dúvida: se a missão é interpretar Jake Sully, a regra é clara. "É assim que você joga o jogo. Sem medo."

Apesar disso, Worthington destaca que, ao longo do filme, Jake é pressionado a assumir um novo papel: liderar uma guerra maior, unindo os clãs. No entanto, essa exigência gera um conflito interno inédito para o personagem. "Ele entende que, se for para a guerra, milhares vão morrer", explica. "Não apenas o filho dele." Pela primeira vez, Jake hesita diante da responsabilidade e vai contra seu próprio ethos de "sem medo". Para o ator, esse foi um dos aspectos mais interessantes de interpretar o personagem neste capítulo. "Foi uma dinâmica interessante para mim, porque ele é um personagem sem dúvida, muito instintivo."

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As cenas em que Jake confronta essa hesitação, muitas delas contracenando com Tonowari, personagem vivido por Cliff Curtis, reforçam esse embate interno. Segundo Worthington, havia momentos em que o caminho parecia claro — lutar, unir os clãs, seguir adiante —, mas Jake precisava voltar atrás e reafirmar outra prioridade. "Não, o amor da minha família é o mais importante. Vamos encontrar outro jeito", resume. Para o ator, esse dilema sintetiza o coração de Fogo e Cinzas: personagens tentando encontrar um novo caminho, uma nova forma de seguir em frente diante de perdas irreparáveis.

A relação com Neytiri

Ao falar sobre a relação entre Jake e Neytiri em Avatar: Fogo e Cinzas, Worthington descreve uma parceria colocada sob enorme pressão pelo luto e pelas consequências dos eventos anteriores. Para o ator, Jake está menos preso ao que aconteceu e mais empenhado em seguir em frente. "O que ele quer é continuar", afirma, explicando que o objetivo central do personagem passa a ser reconstruir a família. "Ele diz no segundo filme: 'quero proteger minha família. Minha família é a fortaleza'. Mas a fortaleza foi quebrada. O filho morreu."

Essa quebra é profundamente humilhante para Jake, segundo Worthington, e redefine sua jornada emocional. Diante da perda, o personagem tenta "recuperar o amor" — o amor que sabe existir entre ele e Neytiri, e também aquele que o ligava ao filho. É uma luta difícil, que atravessa toda a dinâmica familiar. "Foi muito intenso", diz o ator, destacando como o compromisso entre os membros da família é constantemente colocado à prova em Fogo e Cinzas.

Fazer dois filmes "ao mesmo tempo"

Ao comentar as filmagens simultâneas de Avatar: Fogo e Cinzas e O Caminho da Água, Worthington descarta a ideia de dificuldade. Para o ator, o processo foi mais um aliado do que um obstáculo. "Na verdade, não houve um desafio real em filmar os dois ao mesmo tempo", afirma. Segundo ele, o fato de Fogo e Cinzas se passar apenas duas semanas após os acontecimentos do filme anterior ajudou a dar clareza emocional ao percurso de Jake Sully: "Saber exatamente o que tinha acontecido antes realmente nos orientou sobre para onde a história estava indo."

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Worthington explica que algumas cenas-chave — como a morte de Neteyam — foram gravadas logo no início justamente por seu impacto narrativo. "Nós gravamos essa cena bem no começo porque sabíamos que ela teria repercussões profundas quando estivéssemos fazendo o três", conta. Mesmo com a lógica fragmentada típica das filmagens — "você grava tudo fora de ordem, como acontece na maioria dos filmes" —, ele acredita que atravessar os acontecimentos de O Caminho da Água primeiro ajudou a compreender o outro lado emocional de Fogo e Cinzas. "Isso nos permitiu entender melhor o contraponto do que o terceiro filme poderia ser", conclui. Para Worthington, longe de ser um desafio, o método acabou sendo "muito positivo" para a construção da história.

O que há de novo em Fogo e Cinzas?

Ao comentar o que Avatar: Fogo e Cinzas pode trazer e novidade para o público, Worthington aponta para uma expansão que vai muito além do cenário. O ator lembra que há uma fala no terceiro filme que resume bem essa ideia: "este lugar vai muito mais fundo do que você pensa ou do que consegue imaginar". Para ele, a saga sempre funcionou como um processo de descoberta em camadas, que começou nas florestas, passou pelos oceanos e agora avança para territórios ainda mais extremos, como as montanhas flutuantes e os vulcões.

Segundo Worthington, essa ampliação do universo visual caminha lado a lado com os personagens. "Toda essa saga está ficando maior e mais profunda", afirma, explicando que, dentro disso, os próprios personagens também são empurrados para camadas mais intensas. Ele conta que essa era uma orientação constante de James Cameron durante as filmagens. "Não é só sobre Pandora ficar maior", diz. "É sobre o que Pandora faz com você."

Para o ator, o verdadeiro desafio de Fogo e Cinzas está justamente aí: na carga emocional. "As emoções precisam ser mais fortes, mais profundas e mais cruas", resume, apontando esse aspecto como o mais exigente do novo capítulo. Worthington vê um paralelo direto entre o avanço tecnológico conduzido por Cameron e o trabalho dos atores. "A gente percebe que pode se forçar mais, assim como o Jim está forçando a tecnologia e o visual", conclui.

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