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'Unicórnios' lotarão ruas de São Francisco com milionários

Com abertura de capital de Uber, Slack e outras, cidade vive inflação de luxo causada por milhares de novos ricos

24 mar 2019 - 05h11
(atualizado em 25/3/2019 às 13h50)

No Vale do Silício, a grande riqueza não chega em salários mensais. Acontece quando uma startup abre capital, transformando dinheiro hipotético - ações dadas como pagamento em troca de trabalho duro por anos - em dinheiro real. Em 2019, com Uber, Lyft, Slack, Postmates, Pinterest e Airbnb montando suas ofertas públicas iniciais de ações (IPOs, na sigla em inglês), a Baía de São Francisco está prestes a ser tomada por milhares de novos milionários.

Não é à toa: após abrir mercado, o Uber pode chegar a valer US$ 120 bilhões; já o Lyft e o Pinterest podem bater a marca de US$ 23 bilhões e US$ 20 bilhões, respectivamente. Não é preciso saber muita matemática para fazer as contas.

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É difícil visualizar mais dinheiro em São Francisco, mas é possível imaginar que haverá uma nova casta que pode se dar ao luxo de viver confortavelmente na região. Eles querem carrões. Querem novos restaurantes, festanças e casas.

Em uma reunião recente de investidores imobiliários, especulou-se o tamanho da alta na demanda. "Não veremos mais casas para uma família sendo vendidas por preços entre US$ 1 milhão e US$ 3 milhões", disse Deniz Kahramaner, agente imobiliário especializado em análise de dados da Compass. "Os preços das casas podem subir para uma média de US$ 5 milhões. Tudo será pago em dinheiro vivo."

Zilionários. Já prevendo essa onda, há quem tenha retirado suas casas do mercado - esperando lucros maiores no futuro. "Mesmo que apenas metade dos IPOs se concretize, haverá dez mil milionários da noite para o dia", disse Herman Chan, agente imobiliário da Sotheby's. "Todo mundo pensa: 'não vou vender até o ano que vem porque zilionários estarão por toda a parte'."

Haverá especial foco em São Francisco - e menos nos subúrbios do Vale. Primeiro, porque várias das grandes startups do momento, têm sede na cidade, e não espalhadas pela região, como Google ou Facebook. Além disso, há uma questão geracional. "Quem trabalha com tecnologia hoje busca conveniência. Muitos parecem não querer depender de carros. Eles querem estar perto do entretenimento, então vão ficar na cidade", disse Christine Kim, presidente da consultoria Climb Real Estate.

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Com a alta nos preços das residências, haverá uma nova geração de desabrigados em São Francisco - uma das cidades com moradores de rua dos EUA. Com isso, claro, uma nova geração de protestos e militantes nas ruas contra as empresas de tecnologia. "Haverá desalojamento em massa", disse Sarah Zimmer, diretora executiva do Comitê por Direitos de Habitação de São Francisco.

Nova demanda. Em cidades como Oakland, Berkeley e São Francisco, os millenials estão obcecados com a deputada democrata Alexandria Ocasio-Cortez e a nascente corrente dos democratas socialistas. Essa tendência política não teve impacto na demanda da cidade por grandes festas comemorando fortunas. Mas agora, Jay Siegan, ex-dono de uma casa noturna que hoje organiza festas privadas, está aquecendo os motores. Ele já trabalha em eventos para os esperançosos milionários do Airbnb, Uber, Slack, Postmates e Lyft.

"Há inúmeras festas para os IPOs. Uma para a empresa que está abrindo capital, outras para os fundos associados e prestadores de serviços", disse Siegan. O orçamento de uma celebração dessas pode passar de US$ 10 milhões - incluindo a presença de celebridades. Uma festa recente organizada por Siegan para um executivo fã dos anos 80 parecia um festival retrô, com bandas como B-52s, Devo, Bangles e Tears for Fears.

Cuidado. Depois de esperar por anos pela sorte grande, é natural que muitos funcionários dos unicórnios, como são chamadas as startups que valem mais de US$ 1 bilhão, queiram gastar dinheiro. E essa tem sido a maior preocupação de consultores financeiros. "Estamos tentando pedir a eles que sejam cautelosos", disse Ryan S. Cole, consultor da Citrine Capital. Ele diz ter recebido muitos clientes nos últimos meses - vários se preparando para se tornarem ricos da noite para o dia.

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Há motivos para ser cauteloso: o Uber, por exemplo, ainda dá muito prejuízo, Cole tenta lembrar seus clientes. IPOs nem sempre dão certo: a Groupon abriu capital com ações a US$ 26; agora, elas custam US$ 3. Já a Snap chegou à Bolsa por US$ 27 e hoje, seu papel vale US$ 9. "Muitos são jovens e não entendem a volatilidade do mercado", afirmou Cole. "Eles não deveriam estar comprando barcos. Estamos vendo isso acontecer um bocado." / TRADUÇÃO DE CLAUDIA BOZZO

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