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Saiba como doar seu cérebro para a ciência

Em caso de doação de cérebro, o órgão não será transplantado para outro paciente. A doação irá ajudar a ciência a compreender algumas doenças, como o Alzheimer

11 ago 2022 - 13h27
(atualizado às 16h03)

Doar órgãos para transplantes é algo relativamente comum no Brasil. Entre as doações mais frequentes, estão as de coração, fígado e pulmão. Apesar de não ser uma prática tão popular, as pessoas também podem doar seus cérebros para a ciência. Obviamente, isso só pode ser feito após a morte, mas poderá salvar outras milhares de vidas.

Quando um cérebro é doado, ele é armazenado em um banco de cérebros, normalmente coordenado por instituições de pesquisa. No Brasil, a Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FM-USP) lidera o Projeto Envelhecimento Cerebral e Biobanco para Estudos no Envelhecimento, desde 2004. Através da iniciativa, milhares de doações de cérebro já foram recebidas.

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Foto: Pete Linforth/Pixabay / Canaltech

É como doar um órgão qualquer?

A doação de cérebros é um pouco diferente da doação de órgãos comuns, já que este segundo grupo de doações é direcionado para transplantes. Aqui, a ideia é que os tecidos do cérebro doados sejam usados em pesquisas científicas para compreender o funcionamento deste órgão e entender como algumas doenças progridem, como o Alzheimer e o Parkinson. Em outras palavras, os fins são exclusivamente científicos e ninguém receberá um transplante cerebral.

Algo semelhante ocorre quando pessoas doam seus corpos — incluindo todos os órgãos dentro dele — para universidades. Neste caso, o objetivo costuma ser, na maioria das vezes, a formação de estudantes da área de saúde, como médicos. Aprender com um corpo é uma oportunidade única para compreender a anatomia humana e se preparar para cirurgias reais.

Que tipo de cérebro é procurado pelos cientistas?

Dependendo dos projetos de uma instituição de pesquisa, todos os tipos de cérebro podem ser doados, já que podem contribuir igualmente para o estudo de uma doença, como algum tipo de demência ou de depressão.

"Para entender o porquê de certas pessoas terem doenças cerebrais, os cientistas precisam comparar os cérebros afetados com os de pessoas sem doença cerebral", explica Greg Sutherland, médico e professor associado da Universidade de Sydney, na Austrália, em artigo para o site The Conversation. Inclusive, sua universidade também recebe doações de cérebros.

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Como o cérebro será estudado?

"Ao estudar o tecido cerebral, os pesquisadores podem aprender sobre como a doença cerebral progride. Ao estudar as doenças no nível microscópico, estamos tentando descobrir como elas podem ser melhor diagnosticadas e tratadas. Ainda sabemos muito pouco sobre o que acontece no cérebro para causar essas condições [como a demência] e as razões pelas quais os tratamentos mais promissores não conseguem melhorá-las", explica o médico Sutherland.

O que ocorre após a doação?

Antes de entrarmos nas etapas da coleta e da doação do cérebro, é preciso lembrar que, se você quer ser um doador e contribuir com o avanço da ciência, é necessário informar seus familiares e amigos sobre. Isso porque é eles terão autonomia para concretizar essa vontade. E diferente das outras formas de doação de órgãos, a pessoa deve se inscrever em programas do tipo ainda em vida.

Pensando na doação propriamente dita, após a morte do indivíduo, o centro de pesquisa é acionado. Antes da remoção do órgão, é feita uma necrópsia apenas do cérebro da pessoa. Em seguida, ele é transportado para o banco de cérebros.

Segundo o professor Sutherland, o cérebro será dividido em dois dentro do banco. "Uma metade é colocada em um fixador químico, enquanto a outra metade é dissecada e colocada em um freezer -80 ℃. O tempo entre a morte e a fixação ou congelamento é chamado de intervalo post-mortem e precisa ser o mais curto possível para maximizar o sucesso de futuras técnicas analíticas", detalha.

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A parte do cérebro que entrou em contato com o fixador fica em uma solução por cerca de três semanas. Após esse período, é cortada em blocos e estes serão embebidos em cera, o que os deixará endurecer. "Esses blocos são então cortados com uma lâmina muito fina para produzir seções de um centésimo de milímetro de espessura", conta Sutherland. A partir desses fragmentos, um neuropatologista deve diagnosticar se o paciente tinha alguma doença.

Passado todo esse processo inicial, os cérebros são armazenados na instituição. Pesquisadores interessados em estudar alguma condição devem se inscrever em um comitê científico e, caso aprovados, terão acesso ao material. Na maioria dos casos, essas investigações envolvem tanto o uso de tecidos cerebrais que foram congelados quanto os que foram fixados.

Fonte: The Conversation  

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