Estudos recentes sugerem que o uso intenso de ferramentas de inteligência artificial (IA) e redes sociais pode estar associado a uma queda no desempenho cognitivo e na capacidade de aprendizado. Pesquisadores de universidades como Wharton, MIT e Califórnia, EUA, observaram que, embora essas tecnologias prometam facilitar tarefas e melhorar a produtividade, seu uso excessivo pode enfraquecer habilidades mentais básicas, como memória, concentração e raciocínio.
Nos experimentos analisados, pessoas que usaram chatbots e resumos automáticos para escrever ou pesquisar demonstraram menor atividade cerebral e dificuldade de lembrar o que haviam produzido. Entre crianças e adolescentes, o tempo prolongado em redes sociais foi ligado a piores notas em testes de leitura e memória.
A tendência, apelidada de "podridão cerebral" (tradução de brain rot, termo eleito palavra do ano em 2024 pela Oxford University Press) descreve o efeito do consumo constante de conteúdo superficial e respostas automáticas sobre o cérebro humano. Pesquisadores alertam que a combinação entre vídeos curtos, distrações digitais e dependência de IA está transformando o aprendizado em um processo cada vez mais passivo.
Veja a seguir cinco descobertas sobre os efeitos da IA e das redes sociais na cognição.
Ferramentas de IA produzem textos mais genéricos e pouco úteis
Em um experimento conduzido por Shiri Melumad, professora da Wharton School da Universidade da Pensilvânia, 250 pessoas foram convidadas a escrever conselhos sobre como adotar um estilo de vida mais saudável. Um grupo utilizou a pesquisa tradicional do Google; outro, os resumos automáticos da IA do próprio Google.
Os resultados mostraram que os participantes que usaram IA escreveram textos genéricos e óbvios, com recomendações simples como "comer bem", "dormir mais" e "beber água", enquanto aqueles que usaram o mecanismo de busca tradicional apresentaram conselhos mais variados, abordando saúde física, mental e emocional.
Usuários de IA têm menor atividade cerebral e memória
Um estudo do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT) avaliou o impacto do uso do ChatGPT na escrita de textos. Ao todo, 54 estudantes foram divididos em três grupos: um usou o ChatGPT para escrever uma redação, outro pesquisou no Google e o terceiro trabalhou sem auxílio de tecnologia.
Os participantes usaram sensores para medir a atividade elétrica cerebral. Os que utilizaram o ChatGPT apresentaram a menor atividade, enquanto os que escreveram sem ferramentas digitais tiveram a mais alta. Um minuto após terminarem, foram convidados a citar trechos de seus textos: 83% dos usuários de IA não lembraram de nenhuma frase.
Redes sociais estão associadas a notas mais baixas em leitura e memória
Outro estudo, conduzido pela Universidade da Califórnia em São Francisco e publicado na revista médica JAMA, acompanhou 6,5 mil jovens de 9 a 13 anos entre 2016 e 2018. As crianças foram questionadas sobre o tempo de uso de redes sociais e submetidas periodicamente a testes de vocabulário, leitura e memória.
Os resultados mostraram que aquelas que passavam de uma a três horas por dia em aplicativos como TikTok e Instagram tiveram desempenho significativamente inferior em comparação às que relataram não usar redes sociais.
O achado reforça a preocupação de que o consumo constante de conteúdo rápido pode estar prejudicando a concentração e o desenvolvimento linguístico de crianças e adolescentes.
Consumo de conteúdo superficial piora a atenção
O termo "brain rot", popularizado em 2024, refere-se o desgaste mental provocado pela exposição prolongada a conteúdo de baixa qualidade. Plataformas como TikTok e Instagram têm viciado usuários em vídeos curtos, reduzindo a capacidade de atenção e de reflexão.
A expressão foi escolhida como palavra do ano pela Oxford University Press e simboliza uma preocupação crescente entre pesquisadores com a "economia da distração", o modelo de negócios das plataformas digitais que competem pela atenção do usuário e o mantém conectado por meio de estímulos constantes, como vídeos curtos e notificações.
Pesquisadores alertam que a dependência de estímulos rápidos e respostas instantâneas pode estar moldando cérebros menos pacientes e menos capazes de lidar com tarefas complexas.
Pandemia e tempo de tela agravam o declínio cognitivo
Nos EUA, as notas de leitura entre alunos do oitavo ano e do ensino médio atingiram novos mínimos. Os resultados, medidos pela Avaliação Nacional do Progresso Educacional, foram os primeiros desde a pandemia de covid-19, período em que o tempo de exposição a telas aumentou bastante.
Embora a pandemia tenha afetado diretamente o ensino, pesquisadores acreditam que a combinação entre isolamento, excesso de tempo online e uso intenso de IA e redes sociais contribuiu para um declínio maior na compreensão de leitura e no raciocínio.