Velhos são mais felizes; ciência busca as razões

3 jun 2010 - 13h38
Nicholas Bakalar

É inevitável. Os músculos enfraquecem. A audição e a visão falham. Ficamos enrugados e curvados. Não conseguimos correr, ou mesmo andar, tão rápido quanto costumávamos. Temos incômodos e dores em partes do corpo que nunca sentimos antes. Nós envelhecemos. Parece miserável, mas aparentemente não é. Uma sondagem da Gallup descobriu que, em quase todos os aspectos, as pessoas ficam mais felizes à medida que envelhecem. E os pesquisadores não têm certeza do motivo.

Segundo pesquisa, a felicidade pode vir com a idade
Segundo pesquisa, a felicidade pode vir com a idade
Foto: Getty Images

"Pode ser que haja uma mudança de ambiente", disse Arthur A. Stone, autor líder do estudo baseado na sondagem, "ou podem ser mudanças psicológicas sobre a forma como vemos o mundo, ou pode até ser biológico - por exemplo, química cerebral ou mudanças endócrinas".

Publicidade

A pesquisa por telefone, realizada em 2008, envolveu 340 mil pessoas de todos os Estados Unidos entre 18 e 85 anos, com perguntas sobre idade e sexo, acontecimentos correntes, finanças pessoais, saúde e outros assuntos.

A pesquisa também perguntou sobre "bem-estar global", pedindo a cada um que avaliasse a satisfação com a vida em geral numa escala de 10 pontos, uma reflexão que muitos talvez façam periodicamente, mesmo se não de uma maneira estritamente formalizada.

Finalmente, foram feitas seis perguntas de sim ou não: você vivenciou os seguintes sentimentos durante grande parte do dia de ontem: diversão, felicidade, tensão, preocupação, raiva, tristeza. As respostas, segundo os pesquisadores, revelam o "bem-estar hedônico", a experiência imediata da pessoa nesses estados psicológicos, livre de lembranças revisitadas ou julgamentos subjetivos que uma pergunta sobre satisfação com a vida em geral pode gerar.

Os resultados, publicados online no dia 17 de maio no periódico Proceedings of the National Academy of Sciences, foram boa notícia para os idosos e para aqueles que estão envelhecendo. Na média global, as pessoas aos 18 anos começam se sentindo muito bem em relação a si mesmas, para depois, aparentemente, a vida começar a pregar suas peças. Elas se sentem cada vez pior até chegarem aos 50 anos. Nesse ponto, existe uma brutal reversão, e as pessoas passam a ficar felizes à medida que envelhecem. Aos chegarem aos 85, elas estão ainda mais satisfeitas consigo do que estavam aos 18.

Publicidade

Ao medir o bem-estar imediato - o estado emocional de ontem -, os pesquisadores descobriram que a tensão diminui a partir dos 22 anos, alcançando seu ponto mais baixo aos 85. A preocupação fica relativamente estável até os 50, e então cai drasticamente. A raiva diminui consistentemente a partir dos 18, e a tristeza alcança seu máximo aos 50, cai até os 73 anos e depois sobe levemente de novo até os 85. Diversão e alegria possuem curvas similares: ambas diminuem gradualmente até os 50, sobem consistentemente nos 25 anos seguintes e depois caem levemente no fim, mas nunca alcançam novamente o ponto baixo do início da faixa dos 50.

Outros especialistas ficaram impressionados com o trabalho. Andrew J. Oswald, professor de psicologia da Escola de Negócios Warwick, na Inglaterra, que publicou diversos estudos sobre a felicidade humana, considerou as descobertas importantes e, de certa maneira, encorajadoras.

"É um fato muito encorajador que possamos esperar ser mais felizes no início dos 80 anos do que éramos na faixa dos 20", disse. "Isso não é predominantemente motivado por coisas que acontecem na vida. É algo muito profundo e bem humano que parece provocar isso."

Stone, que é professor de psicologia da Universidade Estadual de Nova York em Stony Brook, disse que as descobertas levantam questões que necessitam de mais estudos. "Esses resultados dizem que existem padrões distintos nisso", disse, "e vale a pena algum esforço de pesquisa para tentar entender o que está acontecendo. Por que aos 50 anos alguma coisa parece começar a mudar?"

Publicidade

O estudo não foi desenhado para descobrir quais fatores tornam as pessoas felizes, e as perguntas sobre saúde dos questionários não foram específicas o bastante para tirar nenhuma conclusão sobre o efeito de uma doença ou deficiência na felicidade em idade avançada. Mas os pesquisadores checaram quatro possibilidades: o sexo do entrevistado, se a pessoa possuía um parceiro, se ela tinha filhos em casa e sua situação profissional.

"Eram quatro candidatos razoáveis", disse Stone, "mas não fizeram muita diferença". Para pessoas com menos de 50 anos que às vezes se sentem deprimidas, pode haver certo consolo aqui. As coisas parecem um pouco ruins agora, mas veja o lado positivo: você está envelhecendo.

Tradução: Amy Traduções

Fique por dentro das principais notícias
Ativar notificações