Cientista que "matou" Plutão diz que não se arrepende

"Gostaria que as pessoas tivessem aceitado o novo status de Plutão como uma parte interessante do Cinturão de Kuiper", disse Mike Brown

16 jul 2015 - 10h50
(atualizado às 11h16)

As imagens e descobertas da sonda da Nasa New Horizons vêm reforçando os apelos para que Plutão volte a integrar o clube de planetas – do qual foi expulso sem cerimônias em 2006.

No entanto, o professor Mike Brown, da universidade Caltech (Califórnia), conhecido como "o homem que matou Plutão", disse à BBC que os que pedem que o planeta volte ao clube parem de viver no passado.

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"As pessoas que a gente mais ouve pedindo a reinstalação do planeta são aquelas envolvidas na missão (New Horizons). Entendo que seja emocionalmente difícil para eles", disse.

"Eles querem que Plutão seja um planeta porque querem voar para lá. Mas seria bem melhor se aceitassem a realidade de que ele não é um planeta e ficassem empolgados com o fato de que estão indo para um novo tipo de objeto no Sistema Solar."

Golpe de misericórdia

Os pedidos para que Plutão fosse rebaixado começaram após outro objeto no Cinturão de Kuiper ter sido descoberto em 1992. Alguns argumentavam que Plutão era simplesmente o primeiro corpo celeste encontrado nesta pouco explorada área do Sistema Solar.

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No entanto, o golpe de misericórdia foi dado pelo professor Brown, com sua descoberta do planeta anão Eris, em janeiro de 2005. Era como Plutão, mas como uma massa maior.

Essa foi uma das descobertas que fez com que a União Astronômica Internacional (UAI) criasse uma comissão para reavaliar a definição de planetas.

Professor Mike Brown, da universidade Caltech (Califórnia), conhecido como "o homem que matou Plutão"
Professor Mike Brown, da universidade Caltech (Califórnia), conhecido como "o homem que matou Plutão"
Foto: BBC News Brasil

Assim, em 2006, a UAI teve que decidir se admitia Eris, e outros pequenos mundos como Ceres, ou se expulsava Plutão. Era preciso escolher um ou outro – manter o status quo não era possível.

Brown argumenta que a se a UAI tivesse decidido manter Plutão como um planeta e admitisse Eris, a organização eventualmente teria de considerar a candidatura de centenas, talvez milhares, de outros aspirantes a planetas.

"Não há outra maneira de categorizar os Sistema Solar além de descrevê-lo como tendo oito objetos dominantes, que são os planetas que conhecemos. Não há nenhuma vantagem em se manter Plutão e em classificá-lo como um dos planetas maiores, porque ele simplesmente não é."

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Então como o professor Brown reagiu quando soube que Plutão havia sido rebaixado? Foi um momento de alegria ou ele foi tomado pela culpa?

Ele compara o episódio a um assassinato a sangue frio, um ato de misericórdia que era necessário para o bem da ciência.

"Para mim, estava claro já fazia alguns anos que Plutão estava classificado de maneira errada. Então, fiquei bem feliz com a ideia (da demoção de Plutão) de que agora poderíamos voltar e corrigir esses erros", disse.

Sem arrependimentos

Mas o rebaixamento de Plutão continua polêmico. Muitos cientistas afirmam que ele deve permanecer como planeta, argumentando que ele parece um planeta, se comporta como tal e vem sendo considerado um há três quartos de século.

Isso, no entanto, não muda a opinião do professor Brown.

"Não, nenhum arrependimento. Mas fico triste com os acontecimentos desta década desde a demoção de Plutão. Gostaria que as pessoas tivessem aceitado o novo status de Plutão como uma parte interessante do Cinturão de Kuiper, em vez de ficar discutindo se é um planeta ou não", disse.

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Se há alguns anos Mike Brown reagia com certa ironia ao ser cumprimentado como "o homem que matou Plutão", hoje em dia ele parece gostar do apelido. Chegou até a usá-lo seu site e em seu livro "How I killed Pluto and why it had it coming" (Como eu matei Plutão e por que ele mereceu, em tradução livre).

Ele me disse que o título era pra ser uma brincadeira inteligente, mas que ninguém entendeu na época.

"Eu pensei que achariam engraçado falar em matar Plutão, porque ele era o deus do mundo inferior (dos mortos, na mitologia grega), mas ninguém entendeu", disse Brown.

"Era algo forte, para chamar atenção. E isso é importante em termos de educação. Quero que as pessoas entendam o que o Sistema Solar é exatamente. E, se ficar me chamando de "assassino de Plutão" ajudar nisso, aceito o apelido de bom grado."

Mensagens raivosas

O professor conta que ainda recebe mensagens raivosas no Twitter sobre Plutão – na grande maioria, de pessoas que aprenderam na escola que ele era um planeta.

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Mas ele conta que as crianças que cresceram sabendo que Plutão não é um planeta aceitam a ideia sem problemas. Por isso, ele acredita que a polêmica vai morrer.

"Acreditava-se que o Sol e a Lua eram planetas também, mas isso foi superado há muito tempo. Acho bem mais interessante termos um novo tipo de objeto para estudar do que um planeta excêntrico no fim do Sistema Solar."

"Espero que depois da New Horizons essa discussão chegue ao fim e que a gente possa começar a falar sobre Plutão e sobre o que aprendemos sobre o restante do Cinturão de Kuiper."

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