As surpreendentes vantagens de se andar com os pés descalços

Embora o calçado desempenhe funções importantes, especialistas acreditam que pode haver vantagens em caminhar sem ele.

14 mai 2024 - 15h57
(atualizado às 16h57)
Pessoa descalça em piso de casa
Pessoa descalça em piso de casa
Foto: Getty Images / BBC News Brasil

Nas últimas décadas, o hábito de caminhar de pés descalços ganhou cada vez mais adeptos.

Enquanto alguns vêem a moda como passageira, outros argumentam que é uma prática saudável, enraizada em nossa natureza.

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Na verdade, muitos pais e mães de crianças que ainda não aprenderam a andar mostram grande preocupação com o desenvolvimento dos pés infantis, o que ajuda a explicar a ampla adoção, atualmente, do chamado calçado minimalista (aquele que proporciona uma experiência semelhante à de andar descalço) na idade pediátrica.

Mas andar descalço seria igualmente importante para os adultos?

Uma obra-prima

Com alguns centímetros quadrados, os pés nos permitem muitas tarefas
Foto: Getty Images / BBC News Brasil

O pé não é simplesmente um elemento para caminhar e suportar o nosso peso.

Trata-se de um complexo sistema biomecânico composto por 28 ossos especializados em outras várias funções relacionadas à estabilidade, ao equilíbrio e à eficiência ao caminhar.

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Em alguns centímetros quadrados, o pé assegura que possamos realizar uma atividade tão básica quanto nos deslocarmos de um lugar a outro.

Além disso, a sola do pé tem quase tantas terminações nervosas quanto as mãos e é uma grande reguladora da nossa postura e movimento.

Retorno à naturalidade

Andar descalço por vontade própria não é uma invenção moderna. Algumas culturas antigas consideravam que ao fazê-lo, era estabelecida uma conexão direta com a terra.

No entanto, com a invenção do calçado, priorizou-se a proteção e o status em detrimento da naturalidade.

Nas sociedades modernas, o calçado é um elemento essencial de vestuário, tanto por razões de higiene quanto de posição social.

Faz sentido então prescindir dele em muitos momentos?

As pesquisas científicas revelam que talvez sim: favoreceria a conexão com a natureza e, de um ponto de vista emocional, com nós mesmos.

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Algumas pessoas preferem caminhar ou correr sem calçado
Foto: Getty Images / BBC News Brasil

No que diz respeito aos aspectos meramente físicos, há diferenças entre andar calçado ou de pés descalços, e sabe-se disso há algum tempo.

Já em 1905, o Dr. Phil Hoffman comparou os pés de pessoas que andavam descalças com os de quem usava calçados e encontrou grandes diferenças entre eles, tanto na forma quanto na função do pé.

Uma revisão sistemática realizada em 2015 endossou os achados de Hoffman e detectou várias diferenças-chave.

A primeira é que andar descalço aumenta a dispersão da parte anterior do pé (o antepé); ou seja, os dedos podem se expandir e ocupar seu local natural, melhorando a estabilidade corporal.

O membro inferior precisa de espaço para se adaptar ao terreno e maximizar a aderência e a estabilidade, e o calçado contemporâneo baseia essa aderência nas solas, o que limita essa adaptação.

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Em segundo lugar, dispensar o calçado permite distribuir melhor as pressões sobre o pé. No entanto, o fato de usar ou não sapatos não parece afetar o risco de sofrer uma lesão.

A alternativa: o calçado minimalista

O calçado minimalista imita a sensação de andar descalço
Foto: Getty Images / BBC News Brasil

Obviamente, há um problema: ninguém discorda que pisar no chão diretamente, com os pés desprotegidos, traz riscos em certas superfícies ou terrenos.

Uma das alternativas, e que faz sucesso atualmente, é o uso de calçados minimalistas, que mencionamos brevemente no começo do texto.

Ele possui um design simples e leve que imita a sensação e a biomecânica de andar descalço, sem abrir mão da proteção contra elementos e superfícies duras.

Entre suas características, destacam-se a sola fina e flexível - sem queda ou elevação do calcanhar -, peso leve e uma amplo espaço para os dedos, mais largo na parte da frente.

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Já o calçado convencional apresenta uma forma estreita que impede a posição correta do antepé, com um excesso de fixação no retropé (a parte de trás). E também sobreleva o calcanhar, encurtando o tendão de Aquiles.

As alternativas minimalistas trazem benefícios na estabilidade e na diminuição do risco de quedas, bem como na prevenção de certos problemas como joanetes, neuroma de Morton ou fascite plantar.

No caso dos corredores, parecem induzir melhorias na economia de corrida e na frequência de passo.

Isso gera maior mobilidade e estabilidade nas pernas, o que contribui para uma forma mais eficiente de correr e com menor impacto nas articulações.

Estudos sugerem que o calçado minimalista é mais saudável
Foto: Getty Images / BBC News Brasil

Além disso, acredita-se que o calçado convencional atrofia a musculatura do pé.

Alguns estudos mostraram que o uso de opções minimalistas não só melhora a força da musculatura intrínseca dos pés dos corredores, mas também aumenta significativamente o arco longitudinal e a força elástica.

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Segundo uma publicação de 2022, a introdução desse tipo de calçado parece ajudar a manter um arco plantar mais alto.

Riscos e contraindicações

Como dito anteriormente, andar completamente descalço não é isento de perigos.

A exposição a superfícies perigosas e a falta de proteção podem levar a lesões cutâneas ou infecções. E a mudança de hábito é desaconselhada para quem sofre de doenças como o pé diabético.

Além disso, o uso sistemático de calçado convencional muda a forma, força e função do pé, e começar a praticar esportes com calçado minimalista sem que se faça uma adaptação pode elevar a probabilidade de lesão ao promover uma mudança abrupta da biomecânica da caminhada.

Em resumo, caso decida andar descalço ou com calçado minimalista, é crucial fazer a mudança gradualmente e considerar circunstâncias individuais. Assim, será possível otimizar os benefícios e evitar riscos.

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* Beatriz Carpallo Porcar, Daniel Sanjuán Sánchez e Paula Cordova Alegre são docentes e pesquisadores de Fisioterapia e Enfermagem na Universidade San Jorge, na Espanha.

O artigo original foi publicado em The Conversation e reproduzido sob licença Creative Commons. Você pode lê-lo aqui.

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