São Paulo - Começou a "queda de braço" entre as seleções feminina e masculina de vôlei. Motivo: o técnico Bernardo Rezende. Depois do decepcionante sexto lugar na Olimpíada de Sydney, Radamés Lattari disse, ainda na Austrália, que não continuaria no comando da seleção masculina.
Assim, os jogadores começaram uma fervorosa campanha para que Bernardinho, medalha de bronze nos Jogos com a equipe feminina, assuma o posto. Mas, os homens não terão moleza. As atletas da seleção não estão dispostas a perder o treinador, responsável pelos excelentes resultados dos últimos sete anos, e entraram na briga por Bernardinho.
"Ele não sai e eu não vou deixá-lo sair", avisa a atacante Érika. "O Bernardinho não falou sobre isso com a gente, mas se for preciso eu choro porque apesar dos berros dele, a gente o adora."
"Não sei o que pode acontecer com o grupo se o Bernardinho for embora", declara a atacante Elisângela. "Ele é mais que o nosso técnico, é a base, o pilar de sustentação deste grupo e, acima de tudo, amigo de todas as atletas."
"Fico até assustada com esta idéia", emenda a ponteira Raquel. "Não acho justo que este trabalho seja interrompido e não consigo pensar em alguém tão bom quanto ele para substituí-lo."
Elisângela brinca que ao lado das companheiras pretente até fazer chantagem emocional para que Bernardinho continue. "Se a gente puder influenciar a opinião dele, vamos fazer de tudo."
De acordo com ela, este grupo foi descoberto e lapidado por Bernardinho. "Todas nós somos crias dele e mesmo com pouco tempo de seleção conseguimos ficar com o bronze em Sydney, igualando a campanha da melhor seleção brasileira de todos os tempos, a de 1996", observa a atacante, referindo-se à equipe de Fernanda Venturini, Ana Paula, Ana Moser Márcia Fu e companhia.
O segredo, segundo ela, é confiança, muito trabalho e paciência. "O Bernardo gosta e tem paciência de investir em novas promessas, será que o próximo treinador terá este perfil também?" As atletas apoiam-se também no fato de que a seleção feminina ainda passará por mudanças até os Jogos de 2004, em Atenas. Leila, Virna e Fofão, as mais experientes do grupo não devem concluir mais um ciclo olímpico. "O trabalho nunca acaba", observa a líbero Ricarda. "Cuba também deve renovar e a gente pode chegar tão forte quanto elas na Olimpíada e brigar pelo ouro."
A líbero Andréia Teixeira, que pretende voltar a seleção depois de dar a luz ao segundo filho, explica que Bernardinho tem muito respeito entre as atletas. "Todas acreditam nele e fazemos tudo o que ele pede de olhos fechados." Raquel acrescenta que o trabalho é sempre no limite. "Aprendemos com ele que o que importa é dar sempre 100%, ganhar ou preder faz parte do esporte."