Grupo teatral completa 20 anos contando histórias de um bairro da periferia de SP
Pesquisa sobre memória do território de Perus, na zona noroeste da capital paulista, é a base do trabalho de duas décadas
Um dos espetáculos mais conhecidos do grupo é COMUM, que fala da ditadura militar e da descoberta, em 1990, da vala clandestina no Cemitério Dom Bosco, em Perus, onde mais de mil ossadas de desaparecidos políticos foram encontradas muitos anos depois.
Não é todo dia que um grupo de teatro periférico completa 20 anos, ainda mais dedicando seu trabalho a pesquisar e contar as histórias da sua própria quebrada. O Grupo Pandora de Teatro, de Perus, zona noroeste de São Paulo, chega a essa marca consolidando uma relação profunda com a comunidade.
Entre os espetáculos mais conhecidos está COMUM, que fala da ditadura militar e da descoberta, em 1990, da vala clandestina no Cemitério Dom Bosco, em Perus, onde mais de mil ossadas de desaparecidos políticos foram encontradas muitos anos depois.
Outro trabalho importante é Relicário de Concreto, que lembra a Fábrica de Cimento Portland Perus e a Greve dos Queixadas (1962-1969), a greve operária mais longa da história do Brasil. Foram sete anos de luta, com cerca de 3.500 trabalhadores enfrentando repressão, mas mantendo firmeza com resistência e tática não violenta.
Ações sociais do grupo teatral em Perus
Para além dos espetáculos, o grupo também agita a quebrada com ações como o Ato Artístico Coletivo Perus, festival que leva cultura de graça para a galera e aproxima a comunidade da criação artística. Em sua última edição, o evento celebrou os nove anos da Ocupação Artística Canhoba, mostrando como o espaço se tornou um ponto de encontro e resistência.
Sede do grupo, a Ocupação Artística Canhoba nasceu de uma ocupação criativa. O prédio foi construído pela Prefeitura de São Paulo em 2010, mas ficou abandonado e nunca cumpriu sua função social. Em 2016, o Grupo Pandora, junto com moradores e outros coletivos, tomou a frente da revitalização. A Ocupação virou um polo cultural aberto para a galera do bairro.
Além de receber os espetáculos do grupo, o espaço abriga apresentações de várias linguagens artísticas e mantém uma programação gratuita para crianças, jovens e famílias. O Curso de Teatro Pandora, por exemplo, aproxima a juventude e formas novos atores e atrizes. O projeto já gerou frutos com a criação de novos coletivos teatrais no bairro.
Documentário marca 20 anos de atuação em Perus
A Biblioteca Comunitária e o projeto Brincantes em Ação levam cultura e aprendizado para as famílias da comunidade. O grupo Pandora mantém diálogo constante com escolas públicas e abrigos de crianças e adolescentes, garantindo que a arte chegue pra todo mundo.
Essa trajetória pode ser vista no documentário Pandora 20 Anos, lançado pelo coletivo. Nele, o grupo nascido dentro do Programa de Teatro Vocacional da Prefeitura de São Paulo e formado por artistas da periferia mostra como a criação artística pode ser ponte entre passado e presente, memória e vida.
Pandora 20 Anos reafirma o compromisso do coletivo com Perus: manter a história viva, o espaço de arte aberto e a galera da quebrada perto da criação. É a prova de que cultura feita na periferia é resistência, identidade e também futuro.