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Negra e da periferia, Ashley fala o que queria ter ouvido

Por falta de referências, alisamentos capilares e fuga do sol para não ficar mais retinta eram atitudes comuns na adolescência da influencer

7 mar 2022 - 05h00
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Foto: Arquivo pessoal/divulgação

Ashley Malia é como seus 40 mil seguidores a chamam, mas a influenciadora, criada na periferia da Boca do Rio, em Salvador, na verdade, foi nomeada em cartório como Camila. Mas, junto com o medo de se expor e se reconhecer como mulher negra, Camila foi ficando na adolescência, enquanto Ashley, se torna sua assinatura, e expande cada dia mais a sua voz.

“Achava Camila um nome muito comum, e escolhi Ashley para me diferenciar”, contou a influenciadora.

Foto: Arquivo pessoal/divulgação

Blogueira é um termo que se popularizou para todas as influenciadoras e influenciadores. Mas, surge da produção de conteúdo para blogs, ou seja, escrita de resenhas, dicas, relatos pessoais e profissionais etc publicados em um endereço web, no caso, o endereço do seu blog. 

“Eu comecei a escrever em blogs, sempre gostei muito de escrever, criei o fã clube de percy jackson, comecei a ficar mais envolvida nesse universo de livros, então escrevia resenhas de livros, filmes e séries, um conteúdo muito voltado para o geek”, contou Ashley. 

Foto: Arquivo pessoal/divulgação

Mas, foi em 2015 que a blogueira se aproximou do conteúdo que faz hoje. “Quando eu entrei na faculdade de jornalismo, começou também meu processo de autoconhecimento e descobertas enquanto mulher negra e comecei a compartilhar essas descobertas com as pessoas que já me seguiam, e mais pessoas começaram a me seguir”, lembrou. 

Como ama ser blogueira de blog, apesar de ter aderido ao formato de produção das redes sociais, Ash seguiu compartilhando suas descobertas, através também do blog Ashismos, e agora por meio do Papo Afro, mas sem pretensão de ter milhares de leitores e seguidores. “Eu sei que a tendência hoje é o conteúdo em vídeo, as pessoas não têm tanta paciência para ler”, comentou a blogueira, compreendendo também o vídeo como uma forma de relação digital, mais próxima do presencial.

Referência negra e periférica

Foto: Arquivo pessoal/divulgação

Devido aos traumas e privações na infância e adolescência, o medo da escassez é algo recorrente no discurso de Ashley mesmo com a melhoria da sua realidade financeira e social. Nesse sentido, a comunicóloga mantém dois empregos, além do trabalho de influência.

“Sou formada em jornalismo, já trabalhei em mídias negras como portal Correio Nagô, Afro TV, sou social media da Batekoo, tenho orgulho de ter uma trajetória profissional enriquecida por mídias negras, já trabalhei em veículo tradicional também como A Tarde e sou Community Manager da Stratostorm para Netflix”, pontuou a jornalista.

Para Ashley é latente a diferença de oportunidades para influenciadores negros, pois “enquanto muitos influenciadores brancos surgem do nada e ganham milhões de seguidores, ainda não é um trabalho que eu consiga tranquilamente trabalhar apenas com isso”, considerou Ashley. 

“É muito difícil você encontrar um influenciador negro que trabalha com pautas sociais, ou conteúdo sobre moda, beleza, entretenimento que tenha mais de um milhão de seguidores. E não existe outra explicação, a sociedade é racista, os algoritmos são racistas, já deu pra perceber que as redes sociais preferem entregar conteúdos o mais branco possível, o mais higienizado possível”, comentou.

Foto: Arquivo pessoal/divulgação

Por falta de referências negras e periféricas, alisamentos capilares, fuga do sol para não ficar mais retinta eram atitudes comuns de Ashley, na adolescência. “Eu acho que a minha vida seria totalmente diferente se eu tivesse alguém para me falar todas essas coisas que compartilho nas redes sociais hoje”, disse. 

“Hoje, eu busco ser a voz que eu gostaria de ouvir quando eu era adolescente”, disse a influenciadora. 

Com uma voz mais tensa, Ash conta que enquanto mulher negra, periférica e de família pobre, produzir conteúdo no início foi um desafio, por não ter um celular com memória suficiente, nem câmera boa. “Acaba sendo bem discrepante a diferença em qualidade técnica para as influenciadoras brancas e ricas”, desabafou. 

“Apesar de poucos recursos, da timidez, eu produzia conteúdo mesmo assim, porque minha vontade de compartilhar o que eu acreditava era muito maior, e a internet me ajudou muito a fazer isso”, contou Ashley. 

Foto: Arquivo pessoal/divulgação

Mas, se por um lado a qualidade técnica pode deixar a desejar, “os influenciadores negros e periféricos têm um cuidado muito maior na hora de produzir conteúdo porque além de sermos alvos mais fáceis, qualquer criador de conteúdo preto que produz sobre questões sociais ele já sabe o que é sofrer com discurso de ódio na internet diariamente”, argumentou. 

Esperançosa, Ashley acredita ser possível mudar essa realidade de desvalorização da influência negra e periférica, e pede para todos se perguntarem: “Quantos influenciadores negros você segue? Quantos produtores de conteúdo pretos e periféricos você acompanha e apoia?”.

ANF
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