'A literatura pode nos salvar da ignorância e do preconceito', diz jovem escritor
Lucas Der Leyweer relata suas experiências enquanto jovem, negro, LGBT e periférico no livro “Vivências de Peles Negras”
Nascido e criado no interior de Rondônia, onde morou até os 18 anos, Lucas Der Leyweer, 23, hoje mora em Natal, no Rio Grande do Norte. Ele é um talentoso escritor cuja voz ressoa nas páginas de seu novo livro, trazendo à tona as vivências que moldaram sua jornada.
Como um jovem negro e gay, Lucas enfrentou diversos obstáculos: foi expulso de casa aos 18 anos por conta da orientação sexual e encontrou na literatura uma forma de transmitir sua jornada de desafios.
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“Só sei que paguei caro pela minha liberdade. Ser quem eu sou hoje não foi nada fácil. Tenho muito orgulho de mim. Passei por muita coisa, fiquei na rua, até fome e frio passei. Passei por duas cidades desconhecidas, elas eram tão pequenas, que se quer meus sonhos cabiam lá”, diz.
Impactado pela morte de Giovanne Gabriel de Souza Gomes - jovem morador do bairro Guarapes, zona oeste de Natal, que foi sequestrado e assassinado por policiais em 2020 -, Lucas viu a escrita como uma ferramenta poderosa para revelar as complexidades das experiências vividas por pessoas de pele negra.
“'Vivências de Peles Negras' é um livro de poemas que fala sobre racismo no Brasil, conta a vivências de pessoas negras assim como eu. Partindo do meu ponto de vista pessoal, sobre minha bagagem e do povo preto. Vários desses poemas refletem minha indignação e aflição de casos veiculados na TV”, explica, em entrevista ao Visão do Corre.
Escrito e lançado no auge da pandemia, o jovem escritor comenta sobre os desafios enfrentados para dar forma ao livro. “Um dos principais desafios foi ter olhado para dentro de mim mesmo, externalizar essas experiências e ter a coragem de compartilhar com os outros.”
Durante a jornada como autor, Lucas encontrou influência em renomados escritores como Clarice Lispector, Jorge Amado e Carolina Maria de Jesus. Ele acredita que as histórias possam impactar outros jovens negros por meio da reflexão e gerando empatia. Além disso, o jovem diz que a literatura é uma forma eficaz de promover diversidade e inclusão. “A literatura pode nos salvar da ignorância e do preconceito.”
Sobre estereótipos e preconceitos associados à sua identidade como escritor negro, Lucas expressou sua perspectiva, compartilhando que lidar com essas barreiras é uma tarefa desafiadora.
"Lido com essas barreiras à medida que elas vão surgindo. Muitas vezes fui descredibilizado, e acho que seguir com o meu trabalho é a melhor maneira de lidar. O tempo vai mostrando as coisas”, relata.
Com a sensação de dever cumprido após passar por um período difícil para escrever "Vivências de Peles Negras", Leyweer já tem planos para o futuro: “Quero publicar meu próximo livro, um romance com protagonista LGBTQI+. Será meu primeiro romance, e também quero concluir o ensino superior.”
A importância de escritores negros contarem suas próprias histórias reside na capacidade de criar uma literatura mais diversificada, inclusiva e representativa. "Somente eles mesmos saberão da verdade. Ninguém poderá contar suas histórias a não ser eles mesmos.”
No decorrer da carreira, Lucas extraiu diversas lições valiosas que moldaram sua trajetória até o momento atual. "Ainda sou jovem, tenho muito o que aprender, mas já vivi o suficiente para falar que nunca precisei de fato estar em bando ou ter parceria para chegar onde sempre quis estar. Sempre caminhei só, a vida me ensinou a lutar sozinho no mundo e eu venho provando isso”, finaliza.
