O lado oculto de Las Vegas: milhares moram em túneis no subterrâneo
Moradores subterrâneos em Las Vegas: descubra por que milhares vivem nos túneis sob a cidade do luxo, cassinos e riqueza ostentada
Embaixo dos cassinos iluminados de Las Vegas, existe uma realidade pouco visível para quem visita a cidade. Nos túneis de drenagem que cortam a região, moradores em situação de rua transformaram o subterrâneo em abrigo permanente ou temporário. Estimativas de organizações locais indicam que centenas de pessoas vivem nesses corredores de concreto, e alguns levantamentos já apontaram a presença de mais de mil indivíduos ao longo dos anos, embora o número exato mude com frequência.
Essa cena contrasta com a imagem de luxo e entretenimento associada à "capital dos jogos". Enquanto turistas circulam pela Strip, parte da população sem moradia busca proteção justamente onde quase ninguém olha: abaixo do nível da rua. Entre colchões velhos, móveis improvisados e sacos plásticos, forma-se uma espécie de cidade paralela, invisível para a maior parte dos visitantes e pouco explorada nas campanhas oficiais de turismo.
Por que existem moradores vivendo nos túneis de Las Vegas?
A presença de moradores nos túneis subterrâneos está ligada a um conjunto de fatores sociais e econômicos. Las Vegas cresce em torno da indústria de entretenimento, que oferece muitos empregos sazonais e de baixa remuneração. Quando há crise, redução de vagas ou problemas de saúde, parte desses trabalhadores perde a renda e não consegue manter o pagamento de aluguel. Em uma cidade com custo de vida crescente, essa perda costuma significar a queda rápida para a situação de rua.
Outro elemento importante é o clima desértico. As temperaturas em Las Vegas podem ultrapassar 40 graus Celsius no verão e cair bastante à noite no inverno. Nessa condição, os túneis de drenagem acabam servindo como refúgio contra o calor intenso, o frio e o vento. Para muitos moradores em situação de rua, o subterrâneo oferece ao menos um pouco de sombra, abrigo e sensação de segurança em relação à violência que ocorre em algumas áreas abertas da cidade.
Moradores subterrâneos de Las Vegas: o que explica essa contradição?
A expressão moradores subterrâneos de Las Vegas costuma ser usada para descrever esse grupo que ocupa os túneis de drenagem. A contradição entre a riqueza que circula nos cassinos e a pobreza escondida sob o solo está relacionada ao próprio modelo econômico da cidade. Grandes quantias de dinheiro passam diariamente pelos hotéis, casas de espetáculo e jogos, mas isso não significa distribuição equilibrada de renda ou políticas públicas amplas para quem vive na rua.
O mercado imobiliário local também interfere diretamente nessa situação. Com áreas valorizadas e foco em empreendimentos voltados ao turismo, o acesso à moradia popular fica limitado. Aluguéis altos, depósitos exigidos na entrada e a falta de documentação ou histórico de crédito impedem que muitos indivíduos retornem a uma habitação formal. Nesse cenário, o sistema de túneis, construído originalmente para escoar as enxurradas em períodos de chuva, se torna alternativa improvisada.
- Aluguéis elevados em regiões próximas à área turística;
- Empregos instáveis ligados a turismo e jogos;
- Ausência de redes familiares para apoio em momentos de crise;
- Saúde mental e dependência química sem tratamento contínuo.
Como são as condições de vida nos túneis de Las Vegas?
As condições de vida abaixo da superfície são precárias e envolvem riscos constantes. Os túneis foram projetados para drenar água da chuva em uma cidade que, embora localizada em região desértica, pode registrar tempestades intensas e rápidas. Quando isso acontece, o fluxo de água invade os corredores de concreto em poucos minutos, levando embora pertences e colocando vidas em perigo. Muitos moradores já relataram perdas frequentes de documentos, roupas e objetos pessoais.
Além da ameaça de enchentes, há problemas de saúde pública. A falta de saneamento adequado, a presença de lixo acumulado, insetos e roedores favorece o surgimento de doenças. A iluminação é limitada, o que aumenta a sensação de insegurança e dificulta o deslocamento. Apesar disso, alguns moradores organizam seus espaços de forma detalhada, com prateleiras, colchões e até pequenos "quartos" separados por cobertores, numa tentativa de criar um ambiente mais estável dentro do possível.
- Encontrar um trecho de túnel relativamente seco e pouco movimentado.
- Organizar colchões, cobertores e caixas para armazenar roupas e alimentos.
- Estabelecer regras informais de convivência entre os grupos que dividem o espaço.
- Manter rotinas de entrada e saída para recolher doações e buscar água ou comida.
Existem iniciativas para apoiar quem vive no subterrâneo?
Ao longo dos anos, organizações não governamentais, grupos religiosos e voluntários têm atuado junto aos moradores subterrâneos de Las Vegas. Essas iniciativas incluem distribuição de alimentos, roupas, cobertores, kits de higiene e, em alguns casos, apoio para retirada de documentos e encaminhamento a abrigos ou programas de habitação. Algumas equipes percorrem periodicamente os túneis para identificar pessoas em situação de vulnerabilidade extrema e oferecer atendimento básico.
O poder público da região também mantém políticas de combate à falta de moradia, com abrigos de emergência e ações específicas durante ondas de calor ou frio intenso. No entanto, muitos moradores relatam dificuldades para se adaptar a esses espaços, seja por regras rígidas, lotação ou problemas relacionados a dependência química e saúde mental. Assim, parte deles acaba retornando aos túneis, mesmo com todos os riscos envolvidos, reforçando o ciclo que mantém a população subterrânea presente em Las Vegas.
Esse cenário ajuda a explicar por que, em uma cidade conhecida por receber visitantes dispostos a gastar milhares de dólares em poucas horas, ainda há tantas pessoas vivendo embaixo da terra. A combinação de desigualdade econômica, habitação cara, trabalho instável e ausência de redes de apoio cria um ambiente em que o subterrâneo deixa de ser apenas parte da infraestrutura e passa a funcionar como moradia forçada para quem não encontra alternativas na superfície.