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Transiberiana passa por Kazan, a 3ª capital russa; conheça

29 mar 2014 - 18h56
(atualizado em 3/12/2014 às 14h16)
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A primeira parada mais popular da Transiberiana está, na verdade, fora da rota clássica. Kazan é uma das cidades preferidas dos russos e costuma ser usada como exemplo de multiculturalismo que deu certo. Kazan é a capital da região do Tartaristão e se orgulha da convivência pacífica entre cristãos e muçulmanos - 52% dos habitantes da cidade são etnicamente tártaros (majoritariamente muçulmanos) e 43% são russos (pertencentes à Igreja Ortodoxa Russa).

Kazan foi fundada em 1005 e conquistada na metade do século 16 por Ivã, o Terrível. E foi esta conquista que motivou a construção da tão conhecida catedral de São Basílio, em Moscou. Antes da conquista por Ivã, a cidade estava sob domínio tártaro-mongol há pelo menos três séculos. Hoje a cidade é considerada a terceira capital da Rússia, pela sua importância cultural e econômica.

Um dos grandes destaques de Kazan é o seu kremlin (fortaleza), que está listado entre os patrimônios da Humanidade da Unesco. Entre os edifícios e monumentos da fortaleza, vale a pena reparar com atenção a Torre Syuyumbike. Conta a lenda que Ivã, o Terrível, tomou a cidade de Kazan como resposta à recusa da princesa Syuyumbike em se casar com ele. Syuyumbike disse que ela se casaria com o czar se eles construíssem uma torre mais alta que qualquer mesquita da cidade. Para o azar da donzela, Ivã conseguir cumprir o desafio e a torre ficou pronta em uma semana. Syuyumbike, que pelo visto não contava com os poderes de Ivã, se jogou do alto da torre e se suicidou.

Dentro do kremlin, as pontas dos minaretes e cúpulas da Mesquita Kul Sharif, todas azuladas, não passarão despercebidas. Construído em 2005, o templo é hoje o principal cartão-postal da cidade. Um dos monumentos que chama mais a atenção em Kazan é o Templo de Todas as Religiões, um complexo arquitetônico que inclui vários tipos de construções religiosas, como uma igreja ortodoxa, uma sinagoga e uma mesquita. O local funciona como centro cultural e foi concebido por um artista local e filantropo, Ildar Khanov. No espaço, não acontece culto ou celebração de nenhuma religião, já que a ideia é levar o ecumenismo e a convivência cultural.

Se a beleza arquitetônica da cidade não bastasse, Kazan alberga um dos museus mais interessantes de toda a Rússia. Compacto e curioso, o Museu do Estilo de Vida Soviético reúne em um pequeno espaço brinquedos, roupas, acessórios, utensílios e outras milhares de coisinhas e penduricalhos da época soviética. Para as novas gerações, o museu é uma maneira lúdica de entender um pouco a vida no país durante quase 70 anos. Para os que viveram durante a União Soviética, o retorno ao passado pode trazer lágrimas e inevitáveis comparações. As músicas tocam nostalgia e os objetos expostos falam por si só de uma época ainda tão presente no imaginário e na referência do povo russo.

Na região do Tartaristão, a língua tártara é oficial, juntamente com o russo. O idioma é falado por pelo menos 5,3 milhões de pessoas. Aprender algumas expressões básicas. Para o primeiro “olá”, deixe o “Priviet” russo na gaveta e arrisque o tártaro “Sälâm”. A comida é outro atrativo local. Provar o belish (torta crocante, com diferentes recheios) e o chak-chak (uma espécie de torre de bolinhas de mel açucaradas) faz parte da viagem. E o creme tártaro? Não, não foi inventado no Tartarístão.

Hora de seguir viagem. A moderna estação de trem de Kazan vai ficando para trás e o ritual dos trens russos vai tomando conta deste albergue sobre trilhos. Os russos vão desembrulhando suas comidas – quase sempre tomate, pepino, ovo cozido, peixe seco e macarrão instantâneo – e pode ser que o viajante seja até mesmo convidado para comer junto com os locais. Os russos são muito generosos e dividirão o banquete com os estrangeiros que entraram no trem despreparados, apenas com biscoito e água.

Os trens costumam ser seguros, mas vale manter o bom senso com os pertences. A vodka pode – e deve – ser apreciada, mas com moderação. Recusar um gole da bebida nacional russa pode ser uma tarefa difícil, principalmente para os rapazes. Os convites são insistentes e quase sempre tentadores. Quem sabe um golinho não ajude com o idioma e com os 8 mil km que ainda faltam para completar o trajeto?

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