Tirzepatida manipulada: onde termina a segurança e começa o risco? Médico alerta
Esses medicamentos podem transformar uma estratégia de emagrecimento em um problema de saúde se você não tiver cuidado
O uso de tirzepatida manipulada acende um alerta entre especialistas e pacientes: embora proporcionem resultados ágeis, sem controle rígido sobre dose, pureza e procedência, esses medicamentos podem transformar uma estratégia de emagrecimento em um problema de saúde. Um ponto que não pode passar despercebido é: a fronteira delicada entre resultado rápido e o risco grave.
O Dr. Mateus Drummond, médico, com pós-graduação em nutrologia, que atua com foco especial em obesidade, resistência insulínica e terapias farmacológicas modernas,esclarece quais são os riscos e o que a lei realmente defende sobre o uso seguro desses medicamentos.
Medicina, mercado e ética: o ruído que obscurece o essencial
A discussão em torno da tirzepatida manipulada virou um ambiente onde interesses comerciais, divergências profissionais e pressões de mercado se misturam — e, nesse caos, o foco no paciente acaba ficando em segundo plano.
O que diz a ANVISA: permissão, sim — mas condicionada
A ANVISA, na Nota Técnica 200/2025, deixou claro: a manipulação da tirzepatida é permitida, mas somente se houver:
• Controle rigoroso do IFA
• Rastreabilidade total
• Testes de qualidade robustos
Não é uma liberação ampla. É uma permissão condicionada à segurança, e não uma carta branca para qualquer tipo de manipulação.
Quando o interesse comercial pesa mais que a saúde
Outro ponto crítico é a dimensão ética. Quando profissionais utilizam o debate para defender benefícios próprios — e não a segurança do paciente —, o tratamento deixa de ser medicina e vira mercado. O resultado? Perda de confiança, de acesso e de efetividade terapêutica.
A polêmica do pedido de suspensão: por que tantas entidades são contra?
O pedido de suspensão total da manipulação enviado à ANVISA provocou reação de várias entidades médicas — ABGREF, SBMP, SOBRAPEM e SOGAGIR. Elas não defendem irregularidades, mas defendem proporcionalidade.
As entidades afirmam que farmácias clandestinas e IFAs ilegais devem ser combatidos, mas proibir tudo criaria monopólio terapêutico, aumentaria custos e reduziria o acesso.
Dentro da lei (NT 200/2025 e Lei 9.279/96), a manipulação faz parte da medicina personalizada e do direito do médico de ajustar dose e custo ao paciente.
Com ou sem controle: o que os dados realmente mostram?
O problema nunca foi "manipulado vs. industrial". O problema sempre foi controle vs. falta de controle.
• Com rigor técnico, fiscalização e rastreabilidade → risco diminui
• Sem padronização ou controle de IFA → risco aumenta
Esse é o ponto central: segurança não está no rótulo da embalagem, mas no processo.
O que realmente importa: saúde em primeiro lugar
A solução não é demonizar a manipulação nem santificar a indústria. É garantir padrões claros, controle firme e acesso seguro.
No fim das contas, o debate não é sobre interesses do mercado. É sobre saúde — e o paciente deve ser sempre o centro.