'Pensei que tinha alguma coisa de errado comigo': jovem passou por cinco médicos até tratamento para endometriose
Desde que foi diagnosticada, a influenciadora Isadora Abrahão vem usando as redes sociais para conscientizar outras mulheres sobre a doença
A influenciadora Isadora Abrahão, diagnosticada com endometriose, usa suas redes sociais para conscientizar sobre a doença, destacando a necessidade de tratamento multidisciplinar e a falta de informação como principais desafios.
A influenciadora Isadora Abrahão, de 22 anos, sempre levou uma vida ativa. Nas redes sociais, compartilha com mais de 2 milhões de seguidores dicas e detalhes sobre rotina fitness e hábitos saudáveis. No entanto, nos últimos dois anos, começou a perceber uma queda no "ritmo".
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“Sempre pratiquei muitas atividades físicas. Nunca tive dificuldades de ir ao banheiro, nunca senti cólicas fortes. Então, essa parte da minha saúde e bem-estar sempre esteve em dia. Só que, em 2024, comecei a ter alguns sintomas”, contou em entrevista ao Terra.
O primeiro sinal que fez Isadora notar que algo não estava certo foi a constipação. Ela relata que suas idas ao banheiro se tornaram irregulares e qualquer mudança na alimentação já deixava tudo "louco". “Eu pensei: ‘Tem alguma coisa de errado comigo’.”
Além disso, passou a sentir dor durante a relação sexual, oscilações de humor e uma fadiga bastante intensa. “Foi aí que comecei a ficar preocupada porque sempre tive muita energia e praticava atividades físicas todos os dias. E aí, de repente, eu não queria nem levantar da cama”, relembrou.
Após relatar os sintomas à ginecologista, iniciou a investigação com exames de mapeamento de endometriose e ressonância magnética da pelve. O diagnóstico veio em dezembro do mesmo ano.
“Tive uma resposta: tenho endometriose. Há focos na pelve, perto do intestino, da lombar. Por isso afetava tanto o meu intestino”, explicou.
Com a confirmação, Isadora iniciou uma verdadeira busca por um tratamento para a condição. Ela conta que passou por cinco médicos diferentes até encontrar a melhor abordagem e hoje afirma estar satisfeita com os resultados. “A qualidade de vida da pessoa que tem endometriose, se não tratar, fica muito ruim”, refletiu.
Segundo ela, o tratamento é multidisciplinar, incluindo terapia pélvica, dieta, acompanhamento hormonal e psicológico.
Falta de informação e descaso sobre a doença
A trajetória motivou Isadora a levar o assunto para as redes sociais. “Quando eu descobri, senti que era pouco falada e falei: ‘Cá estou eu com uma oportunidade e tenho um público que me ouve. Eu posso de alguma forma ajudar as pessoas’”, pontuou.
De acordo com ela, a endometriose ainda é negligenciada por pacientes, familiares e profissionais de saúde. "Na época [do diagnóstico], eu tive um parceiro e ele falava: ‘Nossa, você está preguiçosa e tal’, ‘Você não quer levantar da cama'. E não era isso, não era preguiça. Na verdade, eu não tinha energia”, relembra Abrahão.
“Falava: 'Ai, para de frescura. Isso aí é só cólica’. Só que não era cólica, parecia que tinha um dragão dentro de mim. Era muito forte, eu não conseguia me mexer. É sempre muito invalidado”, destacou.
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O que é endometriose?
De acordo com o médico ginecologista e autor do livro Descomplicando a Endometriose, Jardel Pereira Soares, a doença é uma condição crônica em que o tecido que reveste o interior do útero, o endométrio, cresce em outras partes do corpo.
“O endométrio é a camada interna do útero, aquela que a mulher elimina na menstruação. As células endometriais podem refluir pelas trompas e se instalar na pelve, perto dos ovários, das trompas, do reto ou da bexiga. Estudos já mostram que também pode atingir regiões mais distantes, como o diafragma e até o pulmão”, explicou.
Segundo a OMS, entre 10% e 15% das mulheres no mundo têm a condição. No Brasil, a Sociedade Brasileira de Endometriose (SBE) estima cerca de 8 milhões de casos. As causas ainda são estudadas, mas a teoria mais sustentada é a do refluxo menstrual, em que o sangue vaza pelas trompas, afirma o médico.
Não há idade definida para o início dos sintomas. “Há casos de meninas que ainda não menstruaram e já apresentam o quadro e mulheres que entraram na menopausa”, pontua.
“As células, quando estimuladas pelo estrogênio, começam a se conformar, formando nódulos e inflamações, independentemente de a mulher estar menstruada ou não”, acrescentou.
Principais sintomas
O alerta mais comum é a dor. “Mas todo mundo pode sentir dor na menstruação, não é verdade? Toda menina ou mulher sente uma dor, mas a dor que caracteriza a endometriose é diferente. É aquela dor progressiva”, explica Jardel Pereira Soares.
Outros sintomas incluem aumento no fluxo menstrual, diarreia durante o período, constipação e fadiga. No entanto, o especialista destaca que qualquer alteração é motivo de atenção.
Para ele, a normalização da dor e a falta de informação são os principais fatores que atrasam o diagnóstico. “Hoje vemos essa realidade mudando porque vemos personalidades públicas, pessoas conhecidas apresentando a doença e esclarecendo. Mas se você for analisar, há cinco anos isso não existia.”
Outro obstáculo, segundo Soares, é a resistência principalmente por parte dos profissionais da saúde. “No livro que lancei agora em agosto, esse é um dos pontos que falo. A paciente se acha complicada, a família acha ela complicada, e os profissionais acham essa mulher complicada. Então, ninguém quer botar a mão nela. Só que isso aí traz um atraso enorme no diagnóstico e automaticamente maiores repercussões para a vida dessa mulher”, pontua o profissional.