Parada cardíaca após cheirar pimenta: saiba o que pode acontecer em uma crise alérgica
Caso de jovem em estado grave após reação alérgica é raro; neurologista explica como asma pode ter agravado o quadro
O caso de uma jovem de 25 anos que ficou em estado grave após cheirar pimenta gerou surpresa na web. A trancista Thais Medeiros de Oliveira, de Anápolis (GO), deve sofrer uma "lesão neurológica" após o episódio ocorrido no último dia 17.
Tudo aconteceu durante um almoço na casa do namorado. A família conta que a jovem falava sobre pimentas quando cheirou um recipiente com pimenta-bode em conserva. Rapidamente, veio a reação alérgica.
Thais relatou coceira na garganta e mal-estar. Como o uso da bombinha de asma nem o antialérgico ajudaram, os familiares a levaram ao Hospital Evangélico de Anápolis, onde ela precisou ser reanimada, pois chegou sem pulso.
No dia seguinte, diante da gravidade da crise alérgica, foi transferida para a Santa Casa de Anápolis. Ao longo desse mês, Thais foi internada na UTI, entubada, sedada e recebeu ventilação mecânica.
Com quadro considerado estável desde a última semana, foi transferida para o quarto. Na avaliação dos médicos, a pimenta desencadeou crise de asma que a jovem sofreu, tendo como consequência a parada cardiorrespiratória.
O que acontece em uma crise alérgica?
"As crises alérgicas, felizmente, na maioria das vezes, não chegam a dar uma repercussão tão grave", pondera o neurologista Felipe Mendes em entrevista ao Terra. Ele ressalta que as reações mais comuns são as manifestações cutâneas e o indivíduo costuma saber qual antialérgico utilizar para atenuar os sintomas.
"Nessa pequena parcela de casos que têm uma manifestação mais grave, o sintoma mais perigoso é o edema de glote, que é quando afeta as vias respiratórias. É como se elas se fechassem por causa da crise alérgica. Por isso, a pessoa não consegue respirar adequadamente, falta oxigênio e, se não for resolvido de forma imediata, pode evoluir pra uma parada cardiorrespiratória, uma parada cardíaca", detalha o médico, que é membro titular do Sociedade Brasileira de Neurocirurgia.
Foi esse o caso de Thais Medeiros. Além de asma, ela também tinha bronquite e, conforme pontua a nutricionista Renata Brasil, ela teve uma reação aguda imediata em sua forma mais grave.
Como a pessoa asmática tem uma hipersensibilidade das vias respiratórias, a crise funcionou como um agravante à reação alérgica sofrida pela trancista. Somados, esses fatores provocaram os problemas neurológicos.
"A partir do momento que alguém está em uma parada cardiorrespiratória é como se o coração parasse. O sangue não é mais bombeado, então o cérebro, o sistema nervoso que é uma estrutura altamente dependente de oxigênio, não consegue funcionar adequadamente. Por mais que o corpo direcione o fluxo sanguíneo para órgãos vitais, como o próprio coração já não está mais batendo, o cérebro começa a sentir os efeitos dessa falta de oxigênio generalizada", afirma Mendes.
De acordo com o médico, a partir disso, quanto mais tempo o processo demora, maior risco de evolução para um quadro desfavorável com sequelas graves.
O que significa lesão neurológica grave?
O chefe da UTI da Santa Casa, Rubens Dias, disse ao "Fantástico", da TV Globo, que a expectativa é de que Thais tenha sofrido uma "lesão neurológica grave". O neurocirurgião Felipe Mendes esclarece que a expressão é usada quando várias regiões do cérebro, onde existem muitos neurônios, são comprometidas.
Não é possível afirmar quais funções foram atingidas no caso de Thais, mas, de modo geral, uma lesão do tipo pode afetar a linguagem, a movimentação e o estado de alerta. Tal estado se refere ao nível de interação que faz o indivíduo ficar acordado e reagir aos estímulos do ambiente.