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O olhar espanhol que enxergou doenças negligenciadas na Amazônia

13 jul 2013 - 07h04
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Imagine morar no meio da Floresta Amazônica há 20 anos sem contato com os luxos e facilidades das grandes cidades, por escolha própria. Assim é a vida da médica espanhola Antonia López González, que trabalha para melhorar as condições de vida da comunidade ribeirinha do rio Purus.

Antonia, ou Tony como é mais comumente chamada, vive em um local há sete dias de barco de Manaus. Lá não há a facilidade de luz elétrica a um toque de interruptor, nem água encanada ao abrir a torneira, nem ligação telefônica com a comodidade do celular, muito menos alimentos a uma simples ida ao mercado da esquina.

Tony estuda doenças pouco conhecidas do restante do país e do mundo e "muitas vezes erroneamente consideradas erradicadas", disse a própria em entrevista à Agência Efe.

Enfermidades como malária, hanseníase, hepatite negra, puru-puru, Jorge Lobo, herpes, leishmaniose, entre outras, afetam e dificultam a situação de aproximadamente 24 % dos moradores.

Ao chegar no Brasil no final da década de 1980, a médica especialista em medicina tropical se deparou com a realidade da região Amazônica. Lá criou a Associação Comitê Ipiranga, uma ONG privada, independente e que não visa lucro.

A associação se define pelo slogan "saúde para todos" e tem duas frentes de ação. A primeira leva atendimento sócio sanitário continuado para as comunidades e a segunda busca a formação e capacitação das populações locais para o atendimento de saúde e superação dos problemas sociais enfrentados.

Segundo Tony, o objetivo é que a própria comunidade possa cuidar dos seus doentes e sair da situação em que se encontram.

Com esses dois objetivos, a associação assessora a comunidade para definir planos de saúde locais e financia bolsas de estudo para que os moradores possam se formar como agentes de saúde, enfermeiros e médicos em Manaus.

Além de atender e formar as pessoas, a médica também escreveu um Atlas de Dermatopatologia Tropical da Região Amazônica Brasileira.

O livro é resultado de mais de 11 anos de trabalho, junto a uma população de cerca de 150 mil habitantes, enfrentando doenças que são negligenciadas, mas tem caráter de pandemia.

O Atlas veio da intenção de oferecer aos agentes de saúde locais uma fonte de pesquisa didática que mostra claramente os problemas que são encontrados no dia a dia.

O livro também incorpora a sabedoria local dos índios, unindo as terapias xamanistas que apresentam bom resultado com a medicina ocidental.

Tony López percorre agora algumas cidades do país em busca de apoio para mais um projeto que envolve medicina, coragem e inovação.

A médica quer encontrar recursos para a construção de um centro de pesquisa de doenças tropicais negligenciadas na própria região do rio Purus.

Segundo ela, é muito diferente poder estudar as enfermidades diretamente no local onde elas ocorrem do que realizar pesquisas que ficam na região por algumas semanas e depois voltam ao laboratório de uma cidade distante.

Além disso, doenças quase desconhecidas e que ocorrem principalmente na área amazônica como a enfermidade de Jorge Lobo também poderiam ter estudos aprofundados se fossem pesquisadas no local.

"A Jorge Lobo é muito pior do que a hanseníase e não tem cura. Sabemos que as pessoas que a tem trabalham ou estão ligadas à atividade de seringueiro. Essa é uma conexão clara que temos, mas não podemos pesquisar pela falta de um centro", acrescentou.

Tony explicou que já tem contato e parceria com profissionais e médicos que trabalhariam no centro de pesquisa do local.

Ela busca agora a quantia de cerca de R$ 1 milhão para construir e equipar o prédio que pode se tornar referência mundial no estudo de doenças que afetam populações distantes e esquecidas pelos programas públicos.

A ONG se mantém com doações de empresas e instituições de Espanha, Brasil, Itália e Reino Unido, além de doações e apoio de voluntários. A associação planeja agora chamar a atenção da população brasileira para a situação que enfrentam os povos das áreas mais afastadas da floresta símbolo do Brasil.

"Estamos a sete dias de barco de Manaus. Lá não chega médico, Bolsa Família, comida e lazer como em outras cidades. Se nós não estivermos lá, essas pessoas não têm ninguém", concluiu.

EFE   
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