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Nem mesmo reabertura de shoppings garante faturamento aos lojistas

Restrições de circulação e temor dos consumidores freiam retomada do setor

25 jun 2020 - 12h11
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Antes da pandemia, a professora Marcela Malta, de 26 anos, e a vendedora Alessandra Jazra, de 49 anos, tinham rotinas muito parecidas. Marcela chegava a frequentar três vezes por semana o shopping próximo de casa. "Ia sempre para fazer uma comprinha, passear e aproveitava para jantar ou tomar um café", conta. Uma vez na semana, pelo menos, Alessandra visitava o shopping para levar alguma coisa para casa, ir ao cinema ou só para passear. Mesmo com os shoppings reabertos há mais de uma semana na cidade de São Paulo, mas ainda com horário reduzido, a rotina de ambas não voltou ao normal.

"Não estou indo ao shopping não, tenho medo, vou esperar até agosto", diz Alessandra, preocupada com o risco de contaminação da covid-19. Ela conta que até o filho adolescente, que adorava ir ao shopping antes da pandemia, está em casa. "Fui até o mercado, que é perto do shopping, deu aquela vontadezinha de entrar, mas ainda não me sinto confortável", conta Marcella. Ela mora com a mãe, que faz parte do grupo de risco. Por isso, teme ir ao shopping, se contaminar e transmitir o vírus para a mãe.

Tanto Marcella como Alessandra reconhecem que os shoppings estão cumprindo um rígido protocolo por conta da pandemia: medem a temperatura dos clientes na entrada, oferecem álcool em gel, demarcaram o chão para promover o distanciamento entre os clientes, não permitem a entrada no empreendimento sem o uso máscaras, por exemplo.

No entanto, o temor é com o comportamento de outros consumidores. "Acredito até que o shopping esteja bem preparado, mas nas outras pessoas eu não confio", diz Marcella. Alessandra diz que teme aglomerações e acrescenta que não tem graça ir ao shopping sem poder experimentar a roupa ou tomar o café, que tanto gosta.

O comportamento de Alessandra, Marcella e de milhares de consumidores já bateu nos shoppings. Dependendo do segmento, as lojas estão vendendo depois da reabertura entre 15% e 20% do que faturavam no mesmo período do ano passado, segundo a Associação de Lojistas de Shoppings (Alshop) e a Associação Brasileira dos Lojistas Satélites (Ablos).

"Com limitação de tempo, sem abertura do setor de alimentação e de lazer não acontece nada nos shoppings", reclama o presidente da Alshop, Nabil Sahyoun. Hoje lazer, entretenimento e alimentação representam, em média, metade da área dos shoppings, diz o empresário. Nos últimos tempos, os empreendimentos agregaram mais operações de serviços para atrair um fluxo maior de pessoas para os shoppings e gerar a compra por impulso.

Para Sahyoun, não permitir o funcionamento das áreas de alimentação é "como cortar um dos braço dos shoppings". O outro braço "cortado" dos shoppings nesta pandemia, segundo ele, foi o horário de funcionamento, reduzido para quatro horas.

Tito Bessa, presidente da Ablos, ressalta que, ao liberar o funcionamento por um período de quatro horas diárias, o fluxo de consumidores ficou concentrado e os lojistas mal conseguem cobrir a folha de funcionários com a venda obtida nesse curto período. Além disso, a capacidade de receber os clientes foi limitada a 20% da loja. "Não sei se as pessoas não estão indo para a loja ou desistem de ir porque o fluxo é limitado e não vão conseguir entrar", diz, destacando que o que se vê é a rua cheia e o shopping vazio.

Bessa, que também é dono da rede varejista de artigos de vestuário TNG, observa que as lojas de ruas reagiram melhor depois da retomada. Estão fazendo entre 35% a 40% do faturamento do ano passado, enquanto as lojas de shopping entre 15% e 20%. "Não há restrição de circulação de pessoas às ruas, não sei se ao ar livre as coisas melhoram."

Entra e sai

Sahyoun lembra que os shoppings estão seguindo 25 procedimentos de segurança e, mesmo assim, o movimento está "muito fraco, horrível". Quem está indo às compras está "entrando e saindo".

Glauco Humai, presidente da Associação Brasileira de Shopping Centers (Abrasce), observa que o consumidor está indo às compras de forma bem mais programada. "O tempo médio do frequentador de shopping antes da pandemia era de 72 minutos e hoje está em 25 minutos", diz. Atualmente 448 shoppings do país ou 78% do total de empreendimentos foram reabertos. Segundo Humai, o fluxo de consumidores está dentro do esperado. "Semana após semana, temos visto uma retomada gradual e responsável dos clientes, assim como deve ser."

A expectativa de Sahyoun, da Alshop, é a ampliação do horário de funcionamento de quatro para seis horas na cidade de São Paulo, o principal mercado consumidor do País na virada do mês, se a capital paulista passar da faixa laranja, a atual, para a amarela. Se a mudança ocorrer, os shoppings poderão reabrir as praças de alimentação. Neste caso, o empresário defende a divisão do tempo de funcionamento dos shoppings em dois períodos: três horas no almoço, das 12h às 15h, e três horas no jantar, das 19h às 22h. Desta forma, segundo ele, será possível atender aos consumidores que trabalham em escritórios nas redondezas e vão aos shoppings para fazer as refeições. São esses consumidores que garantem a compra por impulso, que está fazendo falta para os shoppings neste momento.

A testagem dos funcionários das lojas de shoppings não faz parte do protocolo do setor de shoppings desenhado pelo Hospital Sírio-Libanês a pedido da Associação Brasileira de Shopping Centers (Abrasce).

Estadão
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