Mulher sente dores nas pernas, pensa que é ‘jet lag’ e descobre meningite causada por parasita
Caso foi apresentado em revista científica neste mês; entenda
Após três semanas de viagens por países como Tailândia, Japão e Havaí, uma mulher de 30 anos, que tinha boa saúde, começou a sentir uma queimação em suas pernas e uma forte dor de cabeça. Com desconfortos, buscou hospitais e apenas na terceira tentativa, quando o caso estava agravado e foi apurado a fundo, conseguiu um diagnóstico. Ela estava com meningite eosinofílica devido à infecção por angiostrongylus cantonensis, um tipo de lombriga que chegou ao seu sistema nervoso central.
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O caso, que o Terra teve acesso, foi relatado em publicação na revista científica New England Journal of Medicine no último dia 12. Não se trata de uma pesquisa científica, mas de um relato, que é uma contribuição para a literatura médica para auxiliar outros profissionais em casos semelhantes.
A identidade da mulher não foi revelada. O que se sabe é que a mulher morava na região costeira de Nova Inglaterra, nos Estados Unidos, com uma colega de quarto e trabalhava em um escritório. Não fumava, não bebia álcool, nem usava drogas ilícitas. Os médicos apontam que ela pode ter tido contato com o parasita ao longo da viagem internacional que fez.
“A paciente havia retornado de uma viagem de 3 semanas 12 dias antes da apresentação atual [dia em que deu entrada no terceiro horpital, onde teve o diagnóstico]. Durante a primeira semana da viagem, ela visitou Bangkok, Tailândia. Ela fez um tour pela cidade e comeu várias comidas de rua, mas nenhuma comida crua. Durante os 5 dias seguintes, ela estava em Tóquio, Japão, onde passou a maior parte do tempo no hotel e comeu várias refeições de sushi. Durante os últimos 10 dias da viagem, ela estava de férias no Havaí, onde nadou no oceano várias vezes e frequentemente comia salada e sushi”, relataram os especialistas que acompanharam o caso na publicação.
Entenda o caso
O primeiro sintoma que ela teve, após retornar da viagem, foi uma queimação nos pés. Dois dias depois, a queimação passou para as penas e piorou, ficando sensível ao toque. Junto com a dor veio a fadiga, que ela atribuiu ao ‘jet lag’ – uma ‘descompensação horária’, quando há uma alteração no ritmo biológico da pessoa devido a viagens que atravessam fusos horários. Mas não era isso.
Ela chegou a buscar atendimento em um outro hospital devido ao desconforto nas pernas. Ela mediu a pressão, temperatura, batimento cardíaco e a frequência respiratória, assim como fez exames de sangue, e tudo deu “normal” e ela recebeu alta.
Até que a queimação, formigamento e a sensibilidade ao toque passou para os braços e uma forte dor de cabeça se desenvolveu. Mesmo com remédios, a dor piorava. Com febre de 38,3ºC, a mulher buscou por um segundo hospital. Assim como na primeira vez, ela fez exames e foi liberada.
Quando chegou em casa, tomou um medicamento para dormir – que não foi prescrito por médicos, mas por um membro da família. Foi aí que a confusão mental apareceu: “Quando ela acordou, ela pensou que precisava fazer as malas para as férias e não foi redirecionável quando sua colega de quarto tentou ajudá-la a deitar-se novamente na cama. Quando a confusão não se resolveu após várias horas, o parceiro da paciente a levou a este hospital para uma avaliação mais aprofundada”, continua o relato médico.
Foi só no terceiro hospital, então, que a situação começou a se desenrolar. No atendimento médico a mulher estava alerta, mas não orientada. Estava inquieta e não respondia a perguntas de forma consistente, nem seguia comandos.
Os resultados das passagens anteriores dela pelos hospitais foram revistas e muitos novos exames foram feitos, até que os médicos decidiram fazer uma punção lombar e a diagnosticaram com meningite eosinofílica devido à infecção por Angiostrongylus cantonensis, um parasita da “família” da lombriga.
“Em humanos, os sintomas gerais da meningite eosinofílica devido à angiostrongilíase incluem dor de cabeça, náusea e vômito, e febre. Se o caminho do parasita em humanos for semelhante ao visto em ratos e em bezerros infectados experimentalmente, os sintomas neurológicos ocorrem após o parasita deixar a corrente sanguínea, entrar no músculo, migrar para os nervos periféricos e então entrar no SNC [Sistema Nervoso Central]”, informaram os médicos.
Além disso, as “anormalidades sensoriais migratórias” causadas pela condição podem causar dor ou sensação de formigamento, podendo incluir disfunção intestinal ou da bexiga. “O parasita pode entrar no SNC por meio da migração ao longo do nervo periférico ou por disseminação hematogênica direta; ambos os caminhos podem resultar em dor de cabeça, confusão, encefalopatia, convulsões ou envolvimento ocular”, explicaram.
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