Mounjaro é aprovado para apneia do sono: especialistas comentam decisão
Saiba como tirzepatida, princípio ativo do medicamento, atua e o que muda na prática clínica
A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) aprovou esta semana o uso do medicamento Mounjaro (tirzepatida) para o tratamento da apneia obstrutiva do sono (AOS) em pacientes com obesidade. Essa decisão representa um avanço significativo na abordagem de duas condições intimamente ligadas.
Segundo o estudo SURMOUNT-OSA, publicado no The New England Journal of Medicine, o uso do medicamento levou a uma redução expressiva dos episódios de apneia e hipopneia durante o sono, além de perda de 40% a 50% do peso corporal em muitos pacientes. O resultado do uso do remédio apontou melhora na respiração, redução da inflamação e, em alguns casos, até abandono do CPAP, aparelho tradicional usado para tratar o distúrbio.
“É um avanço importante no manejo da apneia obstrutiva do sono em pacientes com obesidade. A aprovação reconhece a obesidade como fator determinante na fisiopatologia da apneia e oferece uma nova opção terapêutica medicamentosa para casos moderados e graves”, explica a otorrinolaringologista Dra. Roberta Pilla, membro da ABORL-CCF.
A médica destaca que a perda de peso é o principal mecanismo envolvido na melhora da apneia: “Ao reduzir a gordura em torno do pescoço e das vias aéreas superiores, diminuímos o colabamento durante o sono, o que melhora a oxigenação, reduz o ronco e o número de apneias. Mesmo uma perda de 10% a 15% do peso corporal já gera impacto importante”, complementa.
Dra. Tassiane Alvarenga endocrinologista e metabologista, membro da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM), reforça a relevância da decisão da Anvisa. “Já vínhamos acompanhando os resultados do estudo SURMOUNT-OSA, que mostrou benefícios muito além da balança. É muito bonito ver, como médica que trata a obesidade, os efeitos do tratamento para além do peso. O Mounjaro encontra aqui um sentido ampliado tratar a apneia e a obesidade de forma integrada.”
Segundo a endocrinologista, a correlação entre as duas doenças é alta: cerca de 40% das pessoas com obesidade têm apneia do sono, e 70% dos pacientes com apneia sofrem de obesidade.
“Precisávamos de uma abordagem capaz de atuar nas duas frentes. A aprovação do Mounjaro representa exatamente isso: uma resposta para o corpo que sofre com o excesso de peso e com a falta de sono reparador”, explica.
Embora a aprovação seja um passo importante, as especialistas reforçam que o uso da tirzepatida deve ocorrer sob acompanhamento médico e não substitui mudanças no estilo de vida nem o tratamento convencional quando indicado.
“O medicamento amplia as possibilidades terapêuticas, mas precisa ser visto como parte de um tratamento combinado, com acompanhamento multiprofissional. É o conjunto de estratégias que garante o sucesso e a manutenção dos resultados”, finaliza a Dra. Roberta Pilla.