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Longevidade saudável: o que a história de Fernanda Montenegro ensina sobre viver mais e melhor

Geriatra revela como hábitos, propósito e conexões sociais podem ser mais determinantes que a genética para envelhecer bem

23 out 2025 - 03h57
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Aos 95 anos, Fernanda Montenegro segue ativa na dramaturgia e inspira não apenas pelo talento, mas pela forma como envelhece com saúde, propósito e vitalidade. Seu exemplo mostra que a longevidade saudável vai muito além da genética, dependendo de hábitos, conexões sociais, estímulo cognitivo e acompanhamento médico.

Fernanda Montenegro
Fernanda Montenegro
Foto: Divulgação / Mais Novela

A geriatra Sumika Mori diz que exemplos como o da atriz mostram que é possível envelhecer com saúde e propósito. Ela explica que existem padrões claros de engajamento social e intelectual, que exigem disciplina e comprometimento. Segundo a médica, pesquisas sobre os chamados superidosos (pessoas entre 85 e 105 anos que permanecem lúcidas e ativas), divulgadas na revista científica norte-americana PLoS One (Public Library of Science One), revelam pontos recorrentes, como laços familiares fortes, vida social ativa, otimismo e, em alguns casos, variantes genéticas favoráveis nos genes APOE e FOXO3.

Esses idosos costumam ter uma rede de apoio sólida e se envolver em atividades comunitárias, o que reforça o senso de pertencimento e propósito. A socialização também tende a ser mais seletiva: "Eles priorizam relações de qualidade e se afastam de vínculos que geram conflito", aponta. Mesmo diante de limitações físicas, mantêm uma percepção positiva de saúde e autonomia, com traços marcantes entre quem envelhece bem.

Os pilares da longevidade

Alimentação, exercício físico, sono e saúde mental são os quatro pilares fundamentais de uma vida longa. No entanto, eles são interdependentes, e o peso de cada um varia conforme a história e o contexto de cada pessoa.

De acordo com a especialista, uma pessoa que sempre se alimentou bem, mas se exercitou pouco, talvez tenha tido na alimentação o principal fator de proteção. Além desses quatro pilares clássicos, gestão de riscos e acesso à saúde também são fundamentais. "Em alguns países, como os africanos, a longevidade ainda é fortemente afetada por esses fatores. Muitas mortes precoces acontecem pela falta de controle de riscos e de acesso a serviços de saúde", afirma.

Genética e estilo de vida

Durante muito tempo, acreditou-se que envelhecer bem era "sorte de berço". Entretanto, Sumika comenta que os estudos mostram que os hábitos de vida têm muito mais peso do que a genética. "Hoje sabemos que a genética responde por apenas 20% a 30% da longevidade", pontua.

Estudos recentes reforçam que o estilo de vida pesa mais que a genética na forma como envelhecemos. Uma pesquisa com gêmeos publicada na revista Clinical Nutrition mostrou que padrões alimentares ruins podem acelerar o envelhecimento biológico, mesmo em jovens com o mesmo DNA.

Começar cedo ou agora?

Conforme a geriatra, o maior erro é acreditar que já não vale a pena mudar. Ela reforça que o corpo é generoso e responde rapidamente a pequenas mudanças, como caminhar mais, dormir melhor e cuidar da alimentação, impactando diretamente na autonomia e na disposição.

Como lembra Sumika, o ideal é que os cuidados comecem cedo, em ambientes saudáveis e com boas oportunidades de educação e convivência. Além disso, a médica chama atenção para os órgãos sensoriais, especialmente a audição. "A perda auditiva na meia-idade está fortemente associada ao Alzheimer. Evitar fones de ouvido altos e sons intensos é uma medida simples de prevenção", alerta. Mesmo em idosos frágeis, intervenções combinadas, com alimentação adequada, atividade física e controle de doenças, podem melhorar a mobilidade, a cognição e a qualidade de vida.

Envelhecimento ativo

As conexões sociais, o trabalho e a atividade intelectual são peças-chave para manter o cérebro saudável e o bem-estar. A geriatra esclarece que viver com outras pessoas, participar de grupos e manter contato frequente com familiares e amigos reduz o risco de declínio cognitivo e demência. O isolamento social, por outro lado, aumenta esse risco. Manter-se intelectualmente ativo, seja por meio do trabalho, da leitura ou de jogos de tabuleiro, também ajuda a preservar a memória.

O propósito de vida é outro fator de proteção. Pessoas com alto senso de propósito têm menor risco de comprometimento cognitivo, declínio mental mais lento e até menor mortalidade. "Ter um propósito funciona como um escudo psicológico. Ele aumenta a resiliência, reduz os efeitos da solidão e estimula hábitos saudáveis", argumenta.

O futuro da longevidade

Com o aumento da expectativa de vida no Brasil, o desafio é duplo: zelar pela saúde e planejar financeiramente a velhice. A médica orienta que é primordial se cuidar, mas também pensar na sustentabilidade financeira. Ela destaca que investir e poupar com um horizonte mais longo é uma necessidade real.

Na medicina, Sumika conta que novas tecnologias prometem revolucionar o envelhecimento saudável, como senolíticos, metformina, inibidores de mTOR, reprogramação epigenética, terapias celulares e genéticas, além de biomarcadores digitais. Embora promissoras, essas inovações ainda estão distantes do uso em larga escala.

No curto prazo, soluções simples e acessíveis já fazem diferença, como o Icope (Integrated Care for Older People, ou Cuidado Integrado para Pessoas Idosas), um programa desenvolvido pela Organização Mundial da Saúde (OMS), que ajuda a prevenir perdas de capacidade funcional em idosos. "É uma medicina mais voltada ao indivíduo do que às doenças. Essa, acredito, será uma das grandes transformações da medicina do futuro", finaliza.

Especialista

Sumika Mori é especialista em Clínica Médica pela Associação Médica Brasileira e em Geriatria pela Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia, além de doutora em Ciências Médicas pelo Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP). Ela é coordenadora da equipe de geriatria do Hospital Santa Cruz e do Ambulatório de Fragilidade do Hospital das Clínicas da USP. A médica também é especialista em Medicina do Estilo de Vida pelo American College of Lifestyle Medicine e fundadora da Goki Geriatria, clínica que oferece atendimento multiprofissional focado na abordagem global do idoso, valorizando não só a biologia, mas a humanidade de cada paciente.

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