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Comunidade indígena aposta em banhos, chás e raízes para curar covid-19

Receitas no tratamento contra o coronavírus incluem jambu, mangarataia, mel e limão

24 mai 2020 - 05h10
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Os pais de Elizângela da Silva Baré, de 36 anos, se lembram quando o sarampo chegou ao Alto Rio Negro. Casada e mãe de três filhos, ela sabe do cataclismo que se abateu sob as etnias do Alto Rio Negro. E, como no passado, mais uma vez foi na medicina tradicional que os povos indígenas foram buscar o lenitivo e a cura para um novo mal: a covid-19.

Elizângela trabalha na campanha Rio Negro, Nós Cuidamos, uma iniciativa da Federação das Organizações Indígenas do Rio Negro. Seu trabalho lhe permite que em tempo de pandemia contatar as mais diversas comunidades da região. E testemunhar o interesse renovado dos índios de lascas da carapanaúba, com a qual se faz o banho e uma infusão, com propriedades anti-inflamatórias, ou ainda a saracura-mirá, cujo chá é tão conhecido como o do jambu ou o de mangarataia, misturado ao mel das abelhas e ao limão. Há ainda a folha de capeba. "Tudo isso tem funcionado. A medicina tradicional é como as comunidades estão tratando os doentes. E com sucesso", disse.

Elizângela mesmo adoeceu nos primeiro dias da chegada do Sar-Ciov-2 a São Gabriel da Cachoeira. "Eu estava na linha de frente com a comunidade." Ela ficou 15 dias afastada do trabalho e se tratou com os chás e com banhos de manhã. "Mesmo na cidade, os índios não aldeados estão recorrendo à medicina tradicional. Tem funcionado até como prevenção." Elizângela mora com a família na sede do município desde 2017 - ela nasceu na terra indígena Cuê-cuê Marabitanas, que reúne quase dois mil indígenas dos grupos linguísticos tukano e arawak.

A cidade cada vez mais atrai os índios das proximidades. A região do Rio Negro não tem pescado suficiente nem as roças garantem toda a subsistência. "Os povos criaram o hábito de vir até a cidade para levar mantimentos para as aldeias", afirmou Marivelton Barroso, presidente da Federação. É por isso que Elizângela e outros voluntários estão distribuindo cestas básicas para as comunidades da região.

"As pessoas vêm à cidade para receber o auxílio de 600 reais e voltam para as comunidades com o vírus", disse Elizângela. Não há como evitar aglomerações na cidade. "Às vezes o parente (índio) não entende português." Mas todos entendem a medicina tradicional . "Ela tem ajuda a superar a doença", diz Marivelton. Para uma doença que o homem branco não sabe como tratar, os índios apostam na proteção dos espíritos.

Estadão
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