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Como ser feliz de verdade? Veja como cultivar uma vida melhor

A felicidade é múltipla e complexa. Por isso mesmo, não existe uma regra universal, mas o autoconhecimento pode ajudar

17 nov 2022 - 10h10
(atualizado às 17h22)
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Ao pensar na palavra felicidade, pode ser que você associe o pensamento a uma pessoa especial, uma imagem bonita, um acontecimento inesquecível ou simplesmente o jeito que seu cachorro te recebe ao chegar em casa. Ao mesmo tempo, a busca pela felicidade é uma das maiores preocupações do ser humano - a Organização das Nações Unidas (ONU), inclusive, divulga todos os anos um relatório com indicativos para eleger o país mais feliz do mundo. Mas se sempre buscamos algo que na verdade já temos, como responder, afinal, se somos ou não felizes?

Definir a felicidade não é simples. Mas, em poucas palavras, é um estado de contentamento. Nossa dificuldade em defini-la vem justamente por não sabermos para onde olhar em nossa vida para procurar o sentimento. "A felicidade é uma construção histórica, ela não existia antigamente. Mas foi construída pela capacidade do ser humano de abdicar do prazer imediato e projetá-la a longo prazo", explica o neurocientista Álvaro Machado Dias. Ou seja, criamos algumas bases do que é preciso para ser feliz e buscamos, incansável e incessantemente, essas premissas como realizações de sonhos. Sejam viagens, dinheiro, amor ou família.

Apesar de uma reflexão de vida sempre ser válida, a busca pela obrigação de ser feliz pode ser algo negativo. "Essa obrigação de ser feliz é chamada, dentro da ciência da felicidade, como ditadura da felicidade, a qual nos impacta de acordo com o nosso nível de consciência sobre o que está acontecendo", explica Gustavo Arns de Oliveira, idealizador do Congresso Internacional de Felicidade. "As pessoas imaginam que precisam estar felizes 100% do tempo e começam a forçar um estado irreal, mascaram tudo que acontece de negativo ou qualquer outra emoção que não seja compreendida dentro de um aspecto positivo da vida. Isso é muito perigoso."

Essa felicidade superficial passa a fazer com que os momentos felizes sejam cada vez mais efêmeros e pautados no prazer ou no "sentir-se bem". Algo que a sociedade contemporânea nos lembra diariamente, seja por meio da publicidade (o produto que você precisa ter) ou das redes sociais (a vida que você precisa ter). "Essa busca pelo prazer faz com que a vida seja mais vazia", declara Gustavo.

Isso não impede, porém, que o humor e o riso façam parte do dia a dia. "Essas são formas de a gente restaurar o nosso bem-estar, assumindo que ele não é contínuo e trazendo a ideia de felicidade como uma possibilidade", reflete o psiquiatra Daniel Martins de Barros, colunista do Bem-Estar e autor do livro Rir é Preciso: Descubra a ciência por trás do humor e aprenda a usá-lo para atravessar períodos difíceis e criar relações mais próximas.

O psicólogo Viktor Frankl (1905-1997) também deixa isso claro em seu livro Em Busca de Sentido. Ali, ele conta sobre sua experiência verídica em um campo de concentração e como encontrar uma razão para viver o ajudou em meio à tragédia. No entanto, no dia que essa razão não estava tão clara, o humor era algo que ajudava.

'Felicidade é como você se sente com você mesmo', afirma Mateus
'Felicidade é como você se sente com você mesmo', afirma Mateus
Foto: WERTHER SANTANA/ESTADÃO / Estadão

"O riso é uma estratégia de sobrevivência nesse sentido, pois ajuda a trazer alívio, mesmo que temporário. Então não negamos a dor, não negamos a tristeza, mas buscamos nos alegrar. E esse é um dos grandes poderes do humor, né? Porque quando você está rindo, está olhando a vida de uma maneira que não era óbvia - porque se fosse óbvia não teria graça. A graça vem justamente de descortinar um aspecto que você não tinha visto e isso pode ser revelador", afirma Daniel.

Encontrar um sentido foi algo que ajudou o empresário Mateus Guisasola, de 28 anos, a encontrar a sua felicidade. Ele nasceu com uma síndrome rara chamada artrogripose, e nem sempre lidou bem com a condição.

"Teve um período que eu usei muita droga, quase diariamente, mas quando eu entendi quem eu queria ser e o que eu queria da minha vida, não deixei me verem como um coitadinho que andava de muletas. Eu podia fazer tudo dentro das minhas limitações. Isso me deu muita força interna", conta.

A síndrome fez com que Mateus tivesse má formação nas articulações, o que o levou a encarar desafios como mais de 20 cirurgias, uma parada cardíaca e muito bullying. "Felicidade é como você se sente com você mesmo", afirma. "Mesmo com muita coisa ruim acontecendo na minha vida, eu nunca achei que não iria melhorar. Quando eu olhava para as minhas conquistas, mesmo as pequenas, elas me traziam felicidade."

Mateus conta que se encontrou quando começou a frequentar o candomblé. "Não importa o que falem, aquilo me faz bem", diz.

Ponha em prática

Claro que alguns aspectos externos e internos são essenciais para classificar essa felicidade. E daí surge o Relatório Mundial da Felicidade criado pela ONU, que se baseia em variáveis importantes para a vida humana, como o PIB per capita, a expectativa de vida e as percepções de corrupção. "A nossa felicidade individual deve ser cuidada, deve ser olhada, mas ela é logicamente impactada pelo meio onde eu habito. Por mais que esteja tudo bem comigo, se eu coloco o nariz para fora e me deparo com uma sociedade injusta, isso vai me impactar de alguma forma", afirma Gustavo.

Para existir uma felicidade genuína, na qual seja possível lidar com as naturais ondas negativas de sentimento que surgem ao longo da vida, é preciso, além do já citado autoconhecimento, um sentido ou objetivo. A partir dessa premissa, a especialista em bem-estar e mentora em mudança de hábitos Carla Lubisco, garante que a pessoa pode ser treinada. "A felicidade é uma habilidade. A gente pode e deve aprimorar, desenvolver e qualificá-la através de hábitos saudáveis, pois a felicidade está intrinsecamente ligada à saúde", garante. Como exemplos, ela traz terapia, exercício físico, cuidados com a alimentação, sono e amor próprio. "Saber o seu valor, seus pontos fortes é essencial para isso, assim como fazer coisas que você ama. Isso vai melhorar seu estresse e sua rotina."

Uma maneira fácil de encontrar a felicidade como resultado de suas ações é por meio dos chamados "hormônios da felicidade". A satisfação de fazer o que ama, por exemplo, traz a dopamina; já a atividade física pode liberar a endorfina ou a serotonina. Esses hormônios estimulam a sensação de bem-estar e inibem a irritação e o estresse. Seu estímulo pode afetar nossa frequência cardíaca, sono e apetite, mas seu desequilíbrio, por outro lado, traz consequências negativas para a saúde como insônia, estresse e mau humor.

Pote de ouro

Claro que todos os sentimentos são importantes para uma vida saudável - algo que rebate a ilusão utópica da felicidade plena como um pote de ouro no fim do arco-íris. Mas reconhecer a multiplicidade de emoções acumuladas que temos e aceitar os altos e baixos da vida seria uma felicidade possível. "Existe uma conexão entre autoconhecimento e a felicidade porque quando a gente não presta atenção na gente mesmo pode se tornar difícil discernir aquilo que estamos sentindo. E isso é fundamental para a gente se livrar logo das emoções negativas e voltar a sentir as emoções positivas", completa o psiquiatra Daniel.

São muitas as muitas possibilidades de gente engajar nossa atenção a essas emoções positivas - como, por exemplo, refletir qual foi o melhor momento do dia antes de dormir. "Esse estímulo neural faz com que a gente trabalhe uma sinapse, impactando a construção de um cérebro neuroquimicamente mais positivo. Então quando perguntarmos 'como posso ser mais feliz amanhã', isso vai colocar o meu cérebro no trabalho para encontrar essa resposta", explica Gustavo, provando que, no final, a resposta da nossa felicidade está dentro de nós.

Como colocar a felicidade no seu dia a dia?

  • Autoavaliação

A felicidade não é o oposto da depressão, "mas ela pode ser uma forma de prevenção a todas essas doenças de fundo mental, porque é uma combinação de elementos do nosso bem-estar físico, emocional, intelectual, relacional e espiritual", afirma Gustavo. Olhar para esses cinco pontos da sua vida pode ser um bom ponto de partida.

  • Veja o lado bom

Para pensar em defeitos, bastam alguns minutos. Mas as qualidades exigem um pouco mais. Saber o seu potencial, seus pontos positivos e aquilo que te traz feliz é essencial. Apesar do nosso olhar estar voltado para os problemas e o que precisamos melhorar, é preciso não ignorar tudo aquilo que já está bom. Existe até um teste online que pode te ajudar.

  • Coloque novidade

Muita da nossa felicidade em uma viagem ou um encontro é o fator desconhecido. Isso traz mistério e inovação para a nossa vida, o que pode ser ótimo para os dias de mesmice. Então que tal planejar algo inusitado?

  • Aceite

Dias ruins vão acontecer. Ou até momentos ruins. Mas incluir atividades que possam te tirar, nem que seja aos poucos desses momentos de dor, podem ajudar a curto e longo prazo. Uma conversa com alguém que você confia, uma comida gostosa no fim de um dia longo ou uma boa noite de cuidado podem ser prazeres momentâneos interessantes.

Estadão
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