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Cientistas russos identificam gene que causa a depressão

25 jan 2017 - 06h01
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Cientistas russos identificaram um gene que causa a depressão, em uma pesquisa que atormentou os especialistas durante anos e que deve facilitar o caminho para a cura dessa doença mental cada vez mais comum.

"Até então, não havia sido encontrado nenhum gene que fosse catalisador da depressão. A informação contida no gene que identificamos é muito valiosa", disse à Agência Efe Tatiana Axenovich, professora de Biologia do Instituto de Citologia e Genética (ICG) de Novosibirsk, na Sibéria.

Axenovich e sua equipe de especialistas projetaram novos métodos estatísticos para localizar esse gene com a ajuda de computadores.

"Até agora, para identificar o gene era preciso examinar, pelo menos, cerca de 50 mil pessoas, o que era algo irreal. Por outro lado, chegamos com duas mil", explicou.

Os pesquisadores utilizaram os dados cedidos pelo Centro Médico Erasmus, de Roterdã, que se dedica a estudar a depressão, cuja arquitetura genética é extremamente complexa.

Quanto menor for o efeito do gene - algo característico da depressão -, maior será a seleção de pacientes necessária para sua identificação.

"A chave foi não estudar cada variante genética separadamente, como é tradicional, mas o gene completo, especialmente as variantes que alteram o DNA", detalhou.

Além disso, os cientistas se concentraram em estudar não tanto o diagnóstico, mas os sintomas, o que permite determinar a predisposição de uma pessoa a entrar em uma depressão.

Os cientistas já tinham identificado dezenas de genes que provocam a esquizofrenia, doença com uma contribuição genética similar à depressão, mas no caso desta última a busca foi muito mais árdua.

"Foi muito difícil de localizar o gene, mas não é um só. Ninguém sabe com exatidão quantos há, mas podem ser várias dezenas de genes que causam a depressão", admitiu.

Embora já existam antidepressivos, Axenovich acredita que a identificação do gene oferece aos laboratórios informação muito útil ao criar novos remédios para combater uma doença que se transformou em um desafio para a saúde pública.

"Por exemplo, com ajuda do gene será possível investigar mais profundamente o mecanismo que catalisa a aparição dos sintomas depressivos", afirmou.

Axenovich lembrou que a depressão é causada em 40% dos casos por herança genética de cada pessoa e em 60% por motivos externos.

"O entorno, as circunstâncias vitais e o estresse ao qual a pessoa está submetida são fatores decisivos", disse a pesquisadora do instituto dependente da Academia de Ciências da Rússia.

Além disso, lembrou que cada paciente é diferente no que se refere à gravidade, intensidade, duração e frequência da doença, o que dificulta ainda mais o diagnóstico.

De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), um dos principais obstáculos para curar a depressão é a avaliação errônea, já que algumas pessoas que sofrem essa doença nunca são tratadas e outras, sãs, recebem antidepressivos de forma precoce.

Os pesquisadores holandeses, que estudam a depressão exclusivamente entre os europeus, já confirmaram os resultados obtidos em um grupo de pessoas, o que permite considerar "crível" a descoberta dos cientistas siberianos, segundo informou o ICG em comunicado.

Na opinião de Axenovich, o inovador método utilizado pelo instituto de Novosibirsk oferecerá mais possibilidades ao extrair informação genética e discernir como os genes afetam o funcionamento do cérebro.

Axenovich se dedica há mais de 50 anos às análises estatísticas para identificar os genes que causam a aparição das doenças humanas.

Segundo a OMS, a depressão afeta aproximadamente 350 milhões de pessoas, é a principal causa de incapacidade no mundo e afeta mais a mulher que o homem.

Além disso, entre 8% e 15% das pessoas sofrem depressão em algum momento da vida, o que é um autêntico desafio para o sistema de saúde, além de um peso para a economia por conta do afastamento do trabalho e da aposentadoria antecipada.

EFE   
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