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Desmotivada, ela largou cargo de gestão; o que fazer quando o trabalho de líder não é o que pensava

Insatisfação em cargos de liderança foi acelerada pós-pandemia e evidencia falta de propósito nas empresas e mudanças no estilo de vida dos profissionais, sugerem especialistas

8 nov 2023 - 09h40
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O que começou como uma meta de carreira em 2014, aos poucos, foi desencadeando um quadro de estresse e ansiedade. A administradora Cris Zanata, de 45 anos, trabalhou como consultora, gerente e diretora até chegar à liderança global de logística em uma empresa de energia solar. Depois de seis anos, Zanata perdeu a motivação e decidiu abrir mão do cargo. A história da executiva não é isolada.

No exterior, a desistência de profissionais em altos cargos tem se tornado cada vez mais comum. Nos Estados Unidos, mais de 1.440 CEOs deixaram seus cargos até setembro deste ano, o que representa um aumento de quase 50% em relação ao mesmo período em 2022, segundo pesquisa global da Challenger, Gray & Christmas, empresa de recolocação profissional e transição de carreira.

No cotidiano, Zanata não se sentia motivada e, muitas vezes, considerava que era excluída das tomadas de decisão da empresa. "Me sentia sozinha resolvendo tudo em uma área predominantemente masculina. O que mais me desanimava era a falta de empatia e processos que reconhecessem as pessoas que realmente geravam resultados positivos para a companhia", relata.

Um dos fatores que explica esse alto número de dispersão do alto escalão tem como reflexo a pandemia de covid-19. O período despertou a busca por locais de trabalho que gerem transformação social e não apenas resultados financeiros, explica Luciana Ferreira, professora de liderança da Fundação Dom Cabral.

"Existe uma crise dentro das empresas sobre o que elas fazem com o reforço geracional. Temos novos adultos que querem saber se faz sentido trabalhar para empresas que vendem uma falsa positividade, seja do ponto de vista da transparência, de práticas não humanizadas e práticas corrosivas do caráter dos indivíduos", esclareceu.

Desalinhamento com a cultura da empresa

Assim como a executiva Cris Zanata, não demorou muito para o profissional de Políticas Públicas - que pediu para não ser identificado - perceber que o cargo de gestor não se encaixava com seu planejamento de carreira.

A falta de valorização e a sobrecarga desanimavam o desenvolvimento do profissional que atuava como gestor na área de Customer Experience (experiência do cliente) em uma companhia aérea no exterior. O salário não era atrativo, a contratação deixou a desejar e os próprios chefes não seguiam a regulamentação da corporação, revela o profissional.

A maior dificuldade apontada pelo gestor era exigir que as equipes lideradas por ele realizassem tarefas que violavam as regras da empresa. Após um ano no cargo, pediu demissão.

A professora Luciana Ferreira, da Fundação Cabral, afirma que novos e antigos líderes viraram a chave. As motivações para se manter em um cargo mudaram. Agora, eles almejam não só estabilidade financeira, mas também desenvolvimento na carreira, qualidade de vida, bem-estar no trabalho e ambientes que os estimulem.

"Esse lugar para chamar de seu é aquele que a pessoa vai aprender e ser valorizada não pelo que é agora, mas pelo que pode ser no futuro. O efeito reverso disso é a falta de autenticidade e a capacidade de liderar o outro", comenta.

Afinal, o que fazer quando o trabalho não é aquilo que pensava? Especialistas ouvidos pelo Estadão indicaram algumas sugestões, aqui vão as dicas:

Identifique os motivos que te fizeram escolher o cargo

É importante considerar o porquê de ter escolhido o cargo e o local de trabalho. "Pessoas de alto escalão são muito experientes, então foi um erro de avaliação ou desejo de mudança?", provoca Luciana Ferreira.

Por isso, o profissional deve refletir se o arrependimento partiu por causa de um motivo pessoal ou externo. Isso porque pode acontecer de empresas venderem uma falsa imagem de modelo de trabalho que não existe e, por consequência, desmotivarem o profissional.

Por outro lado, a insatisfação também pode ser resultado de uma mudança no estilo de vida da pessoa.

Não tenha medo de mudar a rota

Muitas vezes os profissionais tomam decisões baseados nas expectativas que têm em algo. Neste caso, a professora Luciana Ferreira e a especialista em liderança Daniela Bertoldo sugerem algumas reflexões, como:

  • O que eu estou fazendo aqui e como eu posso mudar essa situação?
  • Este trabalho me traz satisfação?
  • As minhas expectativas são realistas?

A depender da situação, o líder tem possibilidade de apontar as mudanças que devem ser feitas na empresa e mobilizar recursos para ajustar o que está dando errado, ainda que não seja de maneira rápida.

Outra aliada nessa jornada é a transparência consigo mesmo. Segundo Bertoldo, a habilidade é essencial para reajustar o curso da carreira, funcionando como uma papel de troca entre a empresa e o funcionário. Avalie suas metas profissionais, calcule a reserva financeira se a decisão for se demitir e verifique o que será preciso se deseja migrar de empresa.

Sentir propósito no trabalho é importante, mas não é tudo

Programas de desenvolvimento e sessões de feedbacks são ferramentas que devem ser incorporadas na cultura de uma empresa.

Vale trocar conselhos com liderados e com profissionais que estão em cargos superiores. Esses momentos podem gerar reflexões para aspirações pessoais ou objetivos de carreira.

"Na prática, essas estratégias se transformam em histórias de sucesso. As empresas mostram que podem oferecer mais do que um bom salário, mas também propósito e pertencimento", explica Daniela Bertoldo.

Buscar suporte com profissionais também é uma tática na hora de tomar uma decisão em relação a mudanças na carreira. "O líder não precisar fazer isso sozinho, ter alguém que te ajuda a refletir sobre sua carreira, o que a empresa te propõe e qual seu papel na corporação é importante para sua autorreflexão e saúde mental", explica a professora de liderança Luciana Ferreira.

Estadão
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