Casal surdo adota e ensina Libras a cachorro que também não escuta
No novo lar, Zoki já aprendeu comandos em sinais para sentar, deitar e comer
Casal surdo de São Paulo adota cão também surdo, ensina comandos em Libras e compartilha a experiência de amor, paciência e empatia com o pet que trouxe mais alegria ao lar.
Casal morador de São Paulo, Jean e Mayara comoveram as redes sociais depois da chegada de um novo integrante da família. A dupla é surda e agora divide o apartamento com o Zoki, cachorrinho de menos de um ano de idade, que também não escuta. Agora, eles ensinam comandos em Libras para o novo pet, que com poucos dias já aprendeu alguns dos sinais para 'sentar', 'deitar' e 'comer'.
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A história do Zoki começa quando ele ainda se chamava Cotton, no Instituto Eliseu, em Santos, no litoral de São Paulo, e um vídeo em que ele aparece dormindo viralizou. Na gravação, um rapaz aparece soprando levemente no focinho do filhote para acordá-lo sem susto.
A surdez de Zoki é uma condição que costuma ser comum em animais com heterocromia --condição ocular ou corporal de animais com uma variação na cor de uma íris ou de outras partes do corpo
Com a web comovida, era questão de tempo até Zoki ser adotado. No entanto, o instituto queria encontrar tutores que pudessem proporcionar uma boa adaptação para ele. O perfil buscado era de um casal maduro e que tivesse paciência para lidar com as particularidades de um animal deficiente auditivo.
Mas a afinidade entre o filhote e os novos tutores superou as expectativas do instituto. O profissional de Tecnologia da Informação Jean Fenato, de 36 anos, conta que ele e a esposa, a bancária Mayara Mangolin, de 33, não planejavam adotar um pet naquele momento. Ao se depararem com a história do cãozinho nas redes sociais, eles mudaram de ideia.
Eles fizeram contato com o instituto e foram a Santos para seguir com o processo de adoção. "Muita gente não queria adotar ele por ser surdo, aí meu coração falou alto", diz Jean. De volta a São Paulo, o casal passou a apostar na comunicação em Libras com Zoki, utilizando o corpo e, em especial, as mãos, para comunicar comandos e orientações.
"Estamos adaptando muito rápido, porque já entendemos como é ser surdo. É preciso ter mais paciência com ele e é preciso repetir várias vezes. Nossa estratégia é simples: é repetir os sinais até ele aprender e acertar. Aí nós damos petisco como recompensa. Isso é importante porque é uma comunicação de sinais, assim como com a comunidade surda", explica Jean.
Encarar o desafio de criar um filhote que não escuta se tornou mais natural pela própria vivência com a surdez de Jean e Mayara. "O que mudou para nós é a responsabilidade, amor, empatia... Ele nos faz mais alegres, e a casa não é mais silenciosa porque ele é barulhento de energia boa", continua. Segundo o casal, Zoki já aprendeu comandos como "sentar", "deitar", "esperar" e "parar".
Leila Abreu, presidente do Instituto Eliseu, entidade que acolheu o animal, conta que Zoki chegou até ela depois de a antiga tutora desistir de cuidar dele. Na ocasião, a mulher teria alegado falsamente que o havia encontrado na rua, afirma Leila. A equipe suspeitou da história e, ao notar a heterocromia, realizou testes que confirmaram a surdez.
Durante as avaliações, percebeu-se que o filhote não reagia a nenhum tipo de som, mas acordava com um simples sopro no focinho --gesto que mais tarde se tornaria viral nas redes sociais.
"A gente percebeu que realmente ele não reagia a sons metálicos, a voz, a sons abafados. E quando ele deitava para dormir, que ele estava completamente desligado, você podia bater com uma panela do lado dele que ele não acordava", lembra a presidente do instituto.
A falta de experiência com um pet não foi problema, aponta Leila. "Eles nunca tiveram cachorro, eles não têm experiência nenhuma com cães, mas entendem a dificuldade que é se comunicar e não poder. Então eu tinha certeza de que eles iam ter toda a paciência do mundo com esse animal", completa.
