Sete coisas para um fumante fazer depois da lei anti-fumo
Estamos a um mês da aplicação da lei anti-tabaco no estado de São Paulo (agora acompanhado de outros estados brasileiros também) e nós fumantes ainda estamos na fase de adequação ao novo costume de sair para pitar na rua. Algumas coisas até que ficaram divertidas como socializar na frente de bares ou entrar na discussão pseudo-filosófica-etimológica do significado da palavra "toldo", uma vez que debaixo de um você não pode acender seu bastonete nicotinoso.
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Enquanto os não-fumantes e os inimigos do tabaco se rejubilam, os bares e boates paulistanas amargaram um declínio de até 38% em seu faturamento no mês de agosto, segundo nota divulgada pela Associação Brasileira de Gastronomia, Hospedagem e Turismo (Abresi). E não é que o pessoal simplesmente deixou de frequentar os locais. O problema é que os fumantes agora ficam menos à mesa, tendo que se deslocar a todo o momento para fora, curtir seu vício em paz, e vão embora mais rapidamente dos locais. Além disso, alguns lugares não planejaram o fluxo de saída e reentrada de nós, pobres viciados, e a coisa acabou apertando. Some isso à Lei Seca e o estrago aos estabelecimentos está feito. Em tempo, o site fumanteunidos.org promoveu uma pesquisa entre os internautas e dos 155 respondentes, 42% não frequenta mais estabelecimentos fechados.
A gritaria geral dos fumantes é que já havia uma legislação federal (lei 9294 de 1996) que regulamentava o assunto, mas previa fumódromos, desde que a área fosse devidamente isolada e com arejamento conveniente. Quantos bares, restaurantes, boates etc você conhece que realmente separava fisicamente fumantes de não-fumantes ou impedia que o cheiro e fumaça passassem de um lado para outro? Que tipo de fiscalização, os governos fizeram para garantir isso até então? Esse descaso generalizado levou a um engessamento da lei e até quem fuma acabou apoiando-a, já que em alguns locais respirar era impossível.
Outros efeitos colaterais também começaram a ser sentidos. O governo comemorou a aprovação à lei com muito alarde, mas esqueceu de um detalhe pequeno: nas mesas dos bares havia cinzeiros. Na rua, não há, então toca as calçadas e guias (meio-fio, se você for carioca) estarem atulhadas de bitucas, ótimas para entupir bueiros. Como os botecos não podem dispor de recipientes para os filtros de cigarro jogados fora e é impraticável andar com um cinzeiro no bolso, a coisa se complica. Se tem uma coisa porém que o brasileiro é especialista é em sua capacidade de adaptação. Sendo assim, aqui vão sete coisas que você, tabagista, pode começar a praticar para tornar sua vida mais fácil:
1. Sinta-se um adolescente: lembra quando você tinha 15 anos de idade e fumava escondido dos seus pais? Esses bons tempos voltaram. Se além de fumante, é paulistano e utiliza ônibus fretado, use camiseta furada e corte de cabelo moicano, porque você é um legítimo punk, totalmente anti-social.
2. Ande de guarda-chuva: como você não pode fumar debaixo de qualquer área coberta, é bom estar preparado para eventuais chuviscos e tempestades. Se sua criatividade for boa o suficiente, adote o terno preto e o chapéu coco. Alie o traje à névoa causada pela poluição dos ônibus e carros, e sinta-se em Londres.
3. Filie-se a uma torcida organizada: una duas paixões em uma só, mesmo porque fumar em estádios é liberado.
4. Faça reuniões em casa: reúna os amigos para uma cervejada ou festival da caipirinha ¿ aquele que começa com vodca de primeira e termina com pinga de segunda. O bacana é que as sacadas de apartamento estão liberadas, apesar de possuírem (mais um termo bacana para discussão) ¿marquises¿, então se sinta burlando a lei. Se os vizinhos ou síndico reclamarem, convide-os para a festa.
5. Procure bares onde fumar é permitido: o site aquipode.org dá a lista de locais onde é possível fumar em São Paulo, já que possuem locais abertos e com ventilação. É um ótimo guia para quem não dispensa o companheiro nicotinoso em meio ao bate-papo e não quer ser detonado por quem odeia o cigarro.
6. Deixe de ser tímido: a lei acabou obviamente desenvolvendo uma ligação forte entre os fumantes, ou seja, todo mundo está no mesmo barco. Assim, tenha sempre seu isqueiro à mão, converse à vontade com outro apreciador de tabaco e imagine quantos novos amigos (e amigas) você não pode fazer a cada escapadela.
7. Pense em parar: ironias à parte, agora pode ser uma ótima hora de encerrarmos esse hábito que nos deixa, no mínimo, sem fôlego e fedendo. Embora a ciência e a medicina já tenha declarado, em algum momento, que o ovo, o refrigerante, o sanduíche, a poluição, a carne vermelha, a bebida alcoólica, o leite de soja, falar ao celular, o glúten, trabalhar demais, dormir de menos, fast food, forno de microondas, exercício em excesso, pouco exercício, compartilhar a cama, calcinha de tecido sintético, açúcares, adoçantes e até fumaça de incenso sejam prejudiciais à saúde, o cigarro ainda figura como um dos campeões de morte no mundo. Só que faça isso por você e não pelo patrulhamento ideológico da coisa toda.