Prefira brincadeiras no pátio ao ar condicionado nas escolas
O que para alguns pais representa um vilão na decisão sobre a escolinha, para outros é requisito essencial. O ar condicionado traz conforto às crianças, mas pode causar mais problemas do que soluções. Mantê-lo em uma temperatura muito baixa, não fazer a manutenção correta ou substituir o ar livre por ambientes fechados causa prejuízos à saúde dos pequenos.
Na Escola Nova, localizada no Rio de Janeiro, a instalação do ar no início deste ano foi uma decisão tomada em conjunto entre pais e professores, que percebiam as crianças inquietas quando voltavam suadas do recreio. Como conta a diretora Ana Lúcia Prior, apesar da área verde ao redor, o calor prejudicava, principalmente, alunos de ensino fundamental, que passam mais tempo dentro das salas. "Os pequenos da educação infantil não sofrem tanto, pois ficam mais ao ar livre", relata a pedagoga.
O pediatra Jorge Andrade Pinto, presidente do Comitê de Alergia Pediátrica da Sociedade Mineira de Pediatria e professor da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), recomenda que o ar condicionado seja ligado somente nos dias em que a temperatura está em torno de 30°C. "Nós temos um termostato interno que faz nosso corpo tolerar oscilações de tempertura, com tranquilidade, na faixa entre 15°C e 28°C", explica o médico.
O ar condicionado pode trazer malefícios às crianças em um espaço que fica permanentemente fechado, com pouca circulação de ar. Nessa situação, há um aumento de agentes infecciosos no ambiente, como bactérias, vírus e fungos, que podem causar viroses, como a gripe, e infecções bacterianas, como amigdalite e sinusite. Aparelhos que não passam por manutenção periódica, com limpeza de filtro de seis em seis meses, fazem circular essas partículas, além de poeira.
Segundo a pediatra Raquel Pitchon, integrante do Departamento Científico de Alergia e Imunologia da Sociedade Brasileira de Pediatria, crianças que sofrem de alergias respiratórias, como rinite e asma, têm maior tendência a sofrer com o aparelho em temperatura inadequada. A inalação de um ar frio e seco pode desencadear os sintomas. Por isso, o ar condicionado deve ser mantido entre 20°C e 24°C - a mesma temperatura é indicada para crianças e adultos.
Mais do que na temperatura estável, a preocupação dos pais deve estar concentrada na qualidade do ar na escola. É preciso observar se os ambientes são bem ventilados e se há área verde. Não é recomendável que a escola se localize em áreas industriais, onde há concentração excessiva de poluição. Entrar sol pelas janelas também é essencial. "O sol induz a pele a produzir vitamina D, importante para a formação óssea e para a imunidade do organismo", explica a especialista.
Brincar ao ar livre é, além de diversão, uma questão de saúde. Na escola de educação infantil Zilah, o ar condicionado é ligado somente depois do almoço, quando os pequenos vão tirar uma soneca. A coordenadora pedagógica Helena Soares conta que, durante a manhã, os pequenos passam a maior parte do tempo no solário, uma varanda forrada para as brincadeiras.
Pracinhas e espaços ao ar livre, além de oferecerem um ar mais limpo, favorecem o desenvolvimento cognitivo dos pequenos, que se sentem desafiados com as opções de atividades. Mesmo crianças mais velhas, que não brincam tanto no pátio da escola, devem passar a maior parte do tempo em ambientes arejados. O ar condicionado, embora torne as temperaturas mais agradáveis, não deve se tornar essencial, mas ser ligado apenas nos dias mais quentes e desde que forneça um ar limpo e saudável.