Por que nos esquecemos dos nossos sonhos? Veja a explicação científica
Por que acordamos lembrando de alguns sonhos e esquecendo tantos outros? Especialistas explicam como o cérebro seleciona o que guardar e o que descartar
Todos já passamos pela experiência de estar em meio a um sonho vívido e, ao despertar, ver cada detalhe escapar rapidamente da memória. Por mais intensas que sejam essas vivências noturnas, a lembrança quase sempre se desfaz em segundos, deixando apenas fragmentos. Mas afinal, por que nosso cérebro insiste em apagar nossos sonhos?
Beth Ann Malow, professora de Neurologia e Pediatria da Universidade Vanderbilt, explica que o modo como acordamos interfere bastante em nossa percepção dos sonhos. "Quando você acorda de manhã sozinho, geralmente é porque você chegou ao fim de qualquer estágio de sono em que estava. Isso ocorre de forma natural, como sair de um trem quando ele chega à estação. Mas quando um alarme te acorda, é como pular do trem entre as paradas, o que pode ser um choque", disse ela ao The Conversation.
O papel do hipocampo e dos neurotransmissores
Durante o sono, nosso cérebro segue ocupado em diversas funções essenciais. O hipocampo, região responsável pela consolidação da memória, dedica-se a transferir informações importantes da memória de curto para a de longo prazo. Nesse processo, os sonhos não recebem a mesma prioridade, e por isso tendem a ser descartados.
Outro fator envolvido é a atividade de neurotransmissores como a acetilcolina e a noradrenalina. Enquanto a primeira sobe durante a fase REM (quando os sonhos são mais intensos), a segunda permanece baixa. A combinação desequilibrada dessas substâncias dificulta o registro dos sonhos, fazendo com que se percam ao despertar.
Emoção: a chave para a lembrança
Do ponto de vista biológico, os sonhos não são tratados como prioridade. O cérebro considera mais relevante restaurar funções vitais e consolidar aprendizados. Ainda assim, para nós, seres humanos, eles carregam valor simbólico e emocional.
Embora muitos sonhos desapareçam da memória, alguns ficam gravados por mais tempo. Isso ocorre porque o cérebro tende a guardar experiências carregadas de emoção. Pesadelos intensos ou sonhos com narrativas muito coerentes, por exemplo, têm maior chance de permanecer vivos em nossa mente.
Como lembrar mais dos sonhos?
Apesar da tendência natural ao esquecimento, é possível treinar a memória onírica. Anotar imediatamente o que foi sonhado em um diário ao lado da cama é uma das técnicas mais eficazes. Criar um ambiente de sono calmo, sem interrupções, também aumenta as chances de recordar detalhes.
Respeitar os ciclos do sono ajuda tanto na disposição ao acordar quanto na lembrança dos sonhos. Acordar sem despertador, por exemplo, favorece a transição suave entre os estágios, reduzindo a chance de que memórias oníricas se dissipem de imediato.