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Eu vi um papagaio voar: a visita de um paulista à Amazônia

Em quatro dias navegando pelo Rio Solimões, entramos em contato com a infinita riqueza da floresta amazônica, que vai muito além de botos cor-de-rosa e encontro das águas

5 dez 2014 - 13h02
(atualizado em 19/12/2014 às 14h20)
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Quando saí de São Paulo para percorrer os (praticamente) 3 mil km que separam a maior potência econômica do País de Manaus, capital amazonense, um polo urbano localizado no meio da maior floresta do mundo, tudo o que pensava era em quantas espécies diferentes de animais veria, nos botos cor-de-rosa e, claro, no encontro das águas do Rio Negro com o Rio Solimões. Coisa de turista.

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Ao embarcar no cruzeiro, com um calor úmido que não se pode explicar em palavras, conheci os companheiros de jornada (todos jornalistas), que se abasteciam das mesmas expectativas que eu.

Na primeira saída à Amazônia, pelo Rio Solimões, na altura do município de Manacapuru, cerca de 80 km de Manaus, finalmente comecei a compreender de fato a importância da preservação da Amazônia, que vai muito além de extinções e desmatamentos.

O Terra embarcou em um cruzeiro pelo Rio Solimões, à convite da Iberostar, e conheceu um pouco da parte amazonense da floresta amazônica
O Terra embarcou em um cruzeiro pelo Rio Solimões, à convite da Iberostar, e conheceu um pouco da parte amazonense da floresta amazônica
Foto: João Vieira / Terra

Na região de Manacapuru, comunidades vivem à beira do Rio Solimões (Foto: João Vieira / Terra)

Em uma das comunidades que vivem à beira (e dentro) do Solimões, por meio de casas flutuantes, diversas famílias se atentavam para o grupo de turistas urbanos, todos do sudeste, com cara de quem não faz ideia de onde está. “Só deve ter índio lá”, ouvi um amigo dizer antes da viagem. Mas não, não são índios, e sim pessoas com televisão, telefone e, de vez em quando, até internet.

“Aqui a gente vive muito, não tem estresse, trânsito, comida que faz mal. É tudo muito natural”, diz seu Álvaro, um dos moradores da região, que tem como principal meio de locomoção o barco, seja teco-teco ou uma lancha para 50 pessoas. “Passa um ônibus expresso, que sai do porto de Manaus e vem pra cá todo dia às 18h e de manhã”, explica.

O Terra embarcou em um cruzeiro pelo Rio Solimões, à convite da Iberostar, e conheceu um pouco da parte amazonense da floresta amazônica
O Terra embarcou em um cruzeiro pelo Rio Solimões, à convite da Iberostar, e conheceu um pouco da parte amazonense da floresta amazônica
Foto: João Vieira / Terra

Carro? Que nada! Conexão entre comunidades e Manaus é feita de barco mesmo (Foto: João Vieira / Terra)

Com família grande, filhos fortes (nove, no total), Álvaro mantém todo mundo bem alimentado, na base do vasto cardápio de peixes, como pirarucu e piranha, e frutas. Da banana, a mais pedida nas feiras de Manaus, ao açaí. Mas o de verdade, não esses industrializados com gosto de suco de saquinho que a gente consome por aqui.

“Quando o rio sobe (no meio do ano) a gente fica preocupado, mas é quando seca que dá problema”, diz seu Álvaro. Durante as cheias, o Rio Solimões pode dobrar a quantidade de água que possui entre setembro e outubro. Agora, fim de ano, o “inverno” da região, chove bastante, o que garante uns bons meses de navegação e compras no supermercado.

Mas o convívio com os animais não é tão harmônico quanto se pode imaginar. Certas comunidades às margens do Solimões sofrem com alto índice de “assassinatos”. Frequentemente as páginas dos jornais que circulam pelo Estado mostram casos de crianças sendo atacadas por “gangues” de jacarés, que dominam a região durante a noite.

O Terra embarcou em um cruzeiro pelo Rio Solimões, à convite da Iberostar, e conheceu um pouco da parte amazonense da floresta amazônica
O Terra embarcou em um cruzeiro pelo Rio Solimões, à convite da Iberostar, e conheceu um pouco da parte amazonense da floresta amazônica
Foto: João Vieira / Terra

Número de crianças atacadas por jacarés assusta moradores (Foto: João Vieira / Terra)

Riqueza e renovação: a natureza resistindo ao desmatamento

A ação do homem é forte e agressiva. Não é raro se ver nos braços do Solimões terrenos de fazendas com criação de gado. Magro, evidentemente, já que não há a necessidade de engordá-lo pois não há comércio de carnes na região. Esse pequeno detalhe pode até passar despercebido, mas é resultado da ação nada natural. A exigência de um pasto retilíneo, como um campo de futebol, para se manter a criação e alimentação dos grupos de bois, vacas e até cavalos, exige o corte de árvores e a abertura de um clarão no meio do mato que, visto de cima, choca e entristece.

O Terra embarcou em um cruzeiro pelo Rio Solimões, à convite da Iberostar, e conheceu um pouco da parte amazonense da floresta amazônica
O Terra embarcou em um cruzeiro pelo Rio Solimões, à convite da Iberostar, e conheceu um pouco da parte amazonense da floresta amazônica
Foto: João Vieira / Terra

"Não sobra nem para o cachorro": na base da pesca, comunidades sobrevivem na Amazônia (Foto: João Vieira / Terra)

“Muitos dos que cortam árvores gigantes por aqui são moradores da região”, diz o guia contratado pela Iberostar Wenceslau, o Lau, que acredita que a falta de informação faz com que danos à natureza sejam provocados até de maneira involuntária. “Tem árvore de 15, 20 metros aqui que possui produto medicinal, para curar uma série de doenças comuns entre as pessoas daqui. As comunidades, tribos da região vem aqui (na floresta) atrás disso. Mas a pouca instrução faz com que cortes desordenados sejam feitos e a árvore sofra com um estresse insuportável”, diz ele, que nasceu nas margens do Solimões, com um semblante triste. “Quando cai uma árvore grande, abre aquele clarão e faz um silêncio que dói o coração de uma maneira que você não imagina”, completa, referindo-se ao potente canto dos pássaros, que, como se entrasse em período de luto, silencia enquanto o trauma da perda não passa.

Mesmo assim, a floresta resiste, se renova, e não é raro, durante uma caminhada pelo meio da selva, encontrar árvores jovens, na pré-adolescência, começando a preencher o espaço deixado pelo antecessor, já que a força da raiz fincada no pouco fértil chão amazonense torna difícil a extração completa do tronco.

Sonho de paulista: ver um papagaio voar

Uma das coisas que mais deve impressionar um turista de uma cidade grande, como São Paulo, ao explorar a Amazônia é ver animais que vivem praticamente como escravos na cidade grande em seu habitat natural. Como é o caso do papagaio.

Mesmo ilegal, a criação da ave em gaiolas na área de serviço de apartamentos e casas é comum, e muitos dos bichinhos têm a asa cortada para que não fujam caso a jaula esteja aberta. “Uma das coisas mais lindas daqui é assistir um pôr-do-sol com uma família de papagaios e araras voando pelo céu”, garante Lau.

O Terra embarcou em um cruzeiro pelo Rio Solimões, à convite da Iberostar, e conheceu um pouco da parte amazonense da floresta amazônica
O Terra embarcou em um cruzeiro pelo Rio Solimões, à convite da Iberostar, e conheceu um pouco da parte amazonense da floresta amazônica
Foto: João Vieira / Terra

Amazônia conta com renovação da natureza para resistir ao desmatamento (Foto: João Vieira / Terra)

A sensação de liberdade dos animais contagia até o menos conectado com esse tipo de ambiente. Logo de manhã o canto dos pássaros e o barulho de botos fazendo seu show na água torna desnecessário o uso do despertador. Dormir até tarde está fora de questão, tanto pelo calor quanto pela atividade da natureza, que começa cedo e exige disciplina.

Em uma terra tão distante da realidade de centros econômicos cheios de carros e prédios, a Amazônia segue impondo seu ambiente poderoso e resistindo aos diversos golpes que sofre diariamente, com o apoio e ajuda de pessoas que vivem bem com pouca grana, mas com muita, muita riqueza. 

O Terra visitou a Amazônia com o cruzeiro IBEROSTAR Grand Amazon, à convite da IBEROSTAR. (Foto: João Vieira / Terra)

Fonte: Terra
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