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Criança com dificuldade de coordenação motora tende a perceber menos o ambiente no entorno

Pesquisa da UFSCar reforça necessidade de profissionais da saúde e da educação considerarem processamento sensorial para ampliar estratégias de apoio em casos de dispraxia infantil

19 nov 2025 - 13h57
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Ainda pouco explorado, o transtorno do desenvolvimento da coordenação (TDC) também influencia a maneira como a criança percebe e responde aos estímulos do ambiente. Ou seja, aquela que tem dificuldade de equilíbrio ou de pegar objetos, por exemplo, - por causa de sua coordenação motora - pode não notar facilmente sons e movimentos ao seu redor, limitando suas atividades diárias.

Quem tem dificuldade de equilíbrio, por exemplo,
Quem tem dificuldade de equilíbrio, por exemplo,
Foto: com sua coordenação motora - pode não notar facilmente sons e movimentos ao seu redor - depositphotos.com / OnlyZoia / Bons Fluidos

Pesquisa sobre coordenação motora

Essa ligação é um dos resultados de estudo realizado em um município do interior de São Paulo. O trabalho contribui para compreender a relação entre o desempenho motor e alterações no processamento sensorial. Embora a literatura científica sugira uma ligação, essas condições ainda estão descritas de forma incipiente.

O transtorno do desenvolvimento da coordenação (dispraxia infantil) caracteriza-se principalmente por dificuldades ao desempenhar habilidades motoras fundamentais e complexas. Por exemplo, subir escadas, andar de bicicleta, cortar com tesoura e escrever. Algumas vezes, pessoas chegam a considerar a criança como "desajeitada" e "lenta".

Participaram da pesquisa 694 estudantes de 6 a 11 anos matriculados em escolas públicas e particulares do município de São Carlos. A coleta de dados ocorreu entre março de 2022 e junho de 2024. Depois de passar por testes baseados no Movement Assessment Battery for Children (um dos mais utilizados para detectar dificuldades motoras leves a moderadas), as crianças foram classificadas em três grupos: com transtorno do desenvolvimento da coordenação - 52 delas -, com possível transtorno - 137 - e com desenvolvimento dentro do esperado - 505.

Os cuidadores, incluindo pais e familiares, responderam a questionários para completar o perfil sensorial. Forneceram dados que permitiram a análise sob quatro padrões de processamento: criança que busca estímulos ao seu redor (explorador); a que percebe intensamente os estímulos do ambiente (sensível); a que evita estímulos ou situações sensoriais (esquivador); e a que tende a não percebê-los (observador).

Descobertas

O estudo identificou diferenças significativas entre os grupos nos quatro padrões. As crianças com o transtorno do desenvolvimento da coordenação apresentaram mais frequentemente o padrão observador - 35% delas. Essa menor sensibilidade para perceber o ambiente pode atrapalhar o aprendizado e a participação em atividades do dia a dia. Ou seja, parte das dificuldades motoras pode estar ligada não apenas à coordenação, mas à forma como processam as informações sensoriais.

Além disso, os padrões sensível e observador têm correlação negativa com o desempenho motor - quanto mais presentes, pior o resultado nas tarefas motoras. Entre eles, o observador apareceu como importante preditor, sugerindo que a dificuldade em perceber estímulos sensoriais pode estar diretamente ligada aos problemas de coordenação vivenciados por essas crianças. Os resultados estão publicados na revista European Child & Adolescent Psychiatry.

Importância do resultado

"Quando comecei o doutorado, quis entender como os estímulos do ambiente afetavam crianças com dificuldades motoras. Pouco se fala sobre isso. Entendi que valeria a pena estudar o tema, já que o motor e o sensorial andam lado a lado. Aí resolvemos trabalhar diretamente com as crianças", conta a fisioterapeuta Meyene Duque Weber, pesquisadora da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) e primeira autora do artigo.

Por sua vez, Eloisa Tudella, coordenadora do Núcleo de Estudos em Neuropediatria e Motricidade da UFSCar, afirma que os resultados são importantes para alertar as famílias e os profissionais da saúde e da educação sobre as dificuldades motoras na infância.

"Crianças com transtorno do desenvolvimento da coordenação frequentemente são denominadas como 'desastradas', 'atrapalhadas' e não recebem a atenção de que precisam. Os resultados do estudo reforçam a necessidade de um preparo da equipe para identificar essas crianças e encaminhá-las a um serviço especializado. Vamos continuar essa linha de pesquisa, com o trabalho de um aluno de doutorado, dentro de uma proposta de intervenção para crianças identificadas como TDC", acrescenta Tudella, destacando a continuidade da parceria com o professor Jorge Lopes Cavalcante Neto, da Universidade do Estado da Bahia, também autor do artigo.

O transtorno

Não há levantamentos estatísticos do número de indivíduos com transtorno do desenvolvimento da coordenação, mas pesquisadores estimam que essa condição afeta entre 5% e 8% das crianças em idade escolar em todo o mundo.

A causa ainda é desconhecida. Complexo, o diagnóstico clínico do TDC é feito por médicos. Fisioterapeutas e terapeutas ocupacionais compõem a equipe multidisciplinar que garante uma avaliação completa.

O diagnóstico é feito com base em quatro critérios: desempenho motor substancialmente abaixo do esperado para a idade cronológica; déficits motores que interferem significativamente em atividades diárias adequadas à idade cronológica; dificuldades presentes desde o início da infância; e déficits não decorrentes de deficiência intelectual ou visual nem atribuídos a condições neurológicas que afetam o movimento. É comum a coocorrência de outras alterações emocionais e comportamentais, como transtorno do déficit de atenção e hiperatividade (TDAH) e transtorno do espectro autista (TEA).

O tratamento

O tratamento inclui terapia ocupacional e fisioterapia visando desenvolver a coordenação motora.

"Os resultados da pesquisa podem contribuir para que pais, escolas, profissionais de saúde e de educação fiquem atentos para além dos sinais motores, percebendo a importância de fazer uma avaliação. Afinal, as dificuldades motoras podem ter sérias consequências na vida da criança, incluindo reflexos na saúde emocional e mental. Nesse sentido, um trabalho multiprofissional ajuda no desenvolvimento dessa criança", afirma Weber.

A fisioterapeuta lembra que, além do estudo de caso, fez uma revisão sistemática de 2.609 pesquisas, das quais cinco identificaram alterações no processamento sensorial em crianças com TDC. As características sensoriais que apareceram como as mais afetadas foram tato, equilíbrio e movimento.

Os resultados desse estudo de caso estão na edição de fevereiro da Research in Developmental Disabilities.

*Texto de Luciana Constantino, da Agência FAPESP

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