Viktor & Rolf fez do tule um material rígido
As apresentações da dupla belga Viktor & Rolf são mais do que um desfile: são um show. Neste sábado, na sala montada no Jardim das Tulherias, em Paris, não foi diferente. Quando a luz da boca da passarela se abriu, apareceu um globo terrestre enorme de um lado, e uma mulher com um tutu de balé cor-de-rosa, com muito tule desde a parte de cima, sobre um bloco preto. Era a cantora Roisin Murphy (ex-vocalista da banda Moloko), que como numa caixinha de música nada delicadinha, entoava a trilha sonora. A moça, grávida (mas com a peça volumosa e arredondada, não dava para ver a barriga), rivaliza com Lady Gaga em excentricidade ao se vestir. De qualquer forma, a dupla de estilista belga tem certa culpa. Foi uma peça dos dois que Roisin vestiu para seu disco
Overpowered(2007).
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As camadas exageradas de tule, na verdade, deram o tom do desfile da dupla, cuja maioria das peças nunca é certinha. Costuma-se falar que são surreais. E são. O contraste, o jogo do cheio e do vazio, do leve e do pesado estavam lá. Para o verão 2010, os vestidos vinham sempre com os volumes trabalhados pelas muitas camadas de tule, mas em determinadas partes dos looks a dupla resolveu cortar a laser os tecidos, dando o mesmo efeito que se tem quando se corta um pedaço de espuma.
Chanfrados, retângulos, orifícios e vazados davam o tom à coleção, cujas cores eram apasteladas, com um pouco de nude e preto também. Se num lado, a peça mostrava certa fluidez, lembrando as roupas de bailarinas; no outro, cortado, a estrutura era rígida e angulosa. Um balé pós-moderno.
Um dos vestidos trazia o corpete e, em seguida, o início da saia que tinha a intenção de se avolumar, mas era interrompida na altura das coxas por um vazio, como se uma fatia dela tivesse sido arrancada de lá. E uns 20 cm mais para baixo voltava a ganhar volume. Outra simplesmente tinha um círculo vazado nas laterais e um bloco retangular faltando do outro lado. Mais do que roupa, as peças podem ser classificadas como obras de arte modernas.
Mas o uso da seda em peças mais molengas e menos tules nas laterais dos braços, além de bordados em túnicas e nas laterais das calças, sempre larguinhas, provam que a House of Viktor & Rolf não é apenas surreal.