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Modelos negras ainda lutam por mais espaço na moda

20 nov 2009 - 08h57
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Apesar de a crise econômica ainda ocupar o principal espaço nas discussões no mundo da moda, a presença de mais modelos negros continua gerando polêmica. E o apelo mais recente veio de uma das mais importantes top models de todos os tempos, a inglesa Naomi Campbell. A modelo de 39 anos declarou a jornais internacionais que as grandes marcas de moda continuam a ignorar modelos negras e asiáticas.

negros na moda, interna + repre
negros na moda, interna + repre
Foto: Getty Images

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Naomi foi a primeira negra a posar na capa da revista Vogue francesa em 1988, mas afirma que desde então não viu as oportunidades aumentarem. Em seu blog, a top escreveu. "Infelizmente, não vejo muitas mulheres negras ou de outras raças em grandes campanhas publicitárias. Eu adoro cabelos loiros e olhos azuis, mas o mundo também é feito de outras cores que são tão inspiradoras e interessantes e que deveriam ser incorporadas nas campanhas."

E a modelo vai além afirmando que tempos de recessão seria uma oportunidade para tentar novos conceitos. "É quando as empresas deveriam ampliar horizontes."

A primeira modelo negra a ganhar a capa da Vogue americana foi Beverly Johnson em 1974. Mas Naomi Sims (morta em agosto aos 61 anos em decorrência de câncer) é considerada a primeira top model negra da história. Em 1967, ela foi capa do suplemento de moda do jornal The New York Times. No começo da carreira, Sims ouvia das agências que sua pele era muito escura para seguir carreira e, desde então, saiu batendo nas portas de estúdios de fotógrafos procurando trabalho. A Playboy norte-americana também só teve uma negra na capa em 1971, com fotos da modelo Darine Stern.

Brasil

O Brasil tem representantes de peso da raça, como Emanuela de Paula, recém-nomeada angel da grife Victoria´s Secret; Carmelita, que ganhou como new top no Prêmio Moda Brasil 2009, e Gracie Carvalho, em ascensão dentro e fora do Brasil. Mesmo assim, em junho, o Ministério Público do Estado de São Paulo firmou um acordo com a Luminosidade, empresa que produz a São Paulo Fashion Week, para que as grifes que participam do evento tivessem pelo menos 10% do casting formado por pessoas de outras etnias. Apesar de não se tratar de uma imposição e sim de um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) pelos próximos dois anos, a imposição de cotas não está descartada.

A medida divide opiniões, mas recebeu apoio até da mais importante modelo brasileira de todos os tempos. "Acho que as pessoas têm de ter o direito de se apresentar... Nada do que é feito por obrigação tem uma boa aceitação. Nesse caso, porém, vale a pena tentar. Acho que pode ser positivo", disse Gisele Bündchen, ao desfilar para a Colcci.

"Por um lado eu acho que essa tática pode ser favorável, pois vai incentivar os clientes a colocar mais modelos negras nos castings e trabalhos. Por outro, achei que isso acabou gerando ainda mais preconceito, pois não devemos julgar o profissionalismo pela cor e sim pelo reconhecimento do seu trabalho, pela sua atitude e outros fatores profissionais", afirmou a modelo Gracie Carvalho.

A modelo diz que se sente mais valorizada fora do Brasil. "O mercado no exterior valoriza mais a beleza negra. Eu trabalho muito fora, participo de campanhas publicitárias, desfiles e editorais com muita facilidade", diz ela que recentemente participou de campanhas das marcas BCBG Max Azria, DKNY Jeans, Kenneth Cole e Anna Sui.

Para ela, o profissionalismo supera discussões sobre cotas e, por esse motivo, disse nunca ter sofrido preconceito em sua carreira de modelo. "Se você tem talento e é profissional, você vai conquistar o seu espaço com certeza, independentemente da cor e raça. O preconceito existe em vários aspectos não é só no mundo moda. Por se tratar de um segmento que trabalha com ego, beleza e glamour, não é difícil encontrar algum tipo de preconceito nesse setor", disse.

Questão de corpo

Para a historiadora Mary Del Priori, a discussão maquia outras questões mais profundas. "A ausência de negros na moda é mais uma exigência de classe do que uma questão de beleza", afirmou. Ela lembra que o debate é recente, vem do final dos anos 1980, quando ações afirmativas foram feitas em várias áreas e foram responsáveis pela valorização da autoestima dos negros. Mas ressalta que encontra diferente cenário no Brasil. "Esse debate está truncado numa outra realidade histórica. Não temos um grupo de negros como os Estados Unidos. Enquanto receberam 500 mil escravos africanos, recebemos 7 milhões. Além disso foram se mestiçando. Do ponto de vista histórico, é um paradoxo, um discurso que valoriza minoria sendo que no Brasil os negros são maioria", disse.

E o mundo da moda reflete esse padrão. "Não é ideológico, é a importação de um modelo que não nos pertence e que foi apresentado pelas elites, que é quem consome moda. A questão é a valorização de um único tipo de corpo." A historiadora lembra que a valorização da mulher curvilínea, "cadeiruda" faz parte da cultura brasileira e foi homenageada na música, pintura, poesia e literatura. E com a popularização da pílula anticoncepcional e a cultura do body building, incluindo os regimes alimentares, não ter curvas passou a ser símbolo de status.

"O corpo passou a ser uma questão de classe social, de uma elite que pode se permitir e pagar por essas transformações corporais. E as classes sociais mais baixas ficam com a mulher da laje, a melancia..., com a estética da mulher cheia", disse, lembrando que no Rio de Janeiro, usam-se as gírias filé e franga para identificar as mulheres curvilíneas e as magras, respectivamente.

"E a negra pelo biótipo do corpo, mais curvilínea, acaba se incompatibilizando com esse universo, a não ser que seja esquálida. Pois a Barbie não tem bunda."

Fonte: Especial para Terra
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