Moda ainda reverencia movimento grunge
Faz 15 anos que Kurt Cobain suicidou-se, mas o legado que deixou mantém-se vivo e atual: o grunge. E isso não vale apenas para o rock de Nirvana e todo o movimento musical implícito a partir do lançamento de
Nevermind, em setembro de 1991, segundo disco da banda, considerado o precursor do movimento. Assim como o contestatório punk inglês deu margens a interpretações de moda com suas tachas, botas, roupas rasgadas, vinil e maquiagem carregada, o grunge (não há um tradução para o termo) foi também transportado para as roupas.
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Ao contrário dos punks, que surgiram no final dos anos 1970 e se instalaram definitivamente nos anos 1980, a moçada de Seattle não queria contestação alguma. Pelo contrário, buscavam apenas espaço para fazer seu som, sem perspectiva de vida, sem almejar algo mais. Tudo meio autodestrutivo. Introspecção. Sentimentos talvez vindos do frio daquela região americana e da chuva, que domina o cenário local.
O visual então era desgrenhado, calças e camisetas largas puídas, camisa de flanela xadrez como a dos lenhadores locais, botas detonadas, gorros e casacos pesados, quase como cobertores. Tudo amarfanhado, amassado. Como se fossem roupas passadas de geração a geração ou pegas nos locais de distribuição para mendigos.
Quem primeiro percebeu essa antimoda, que contrastava com a opulência italiana dos ternos e tailleurs bem cortados, dos brilhos e das cores dos anos 1980, foi Marc Jacobs, então apenas um estilista promissor. Sua ousadia em levar o grunge às passarelas em 1992 valeu-lhe a demissão da grife de luxo Perry Ellis, na qual ele e seu atual sócio, Roberto Duffy, trabalhavam. O mundo do luxo não estava preparado para o grunge. Mas acabou se rendendo ao movimento, que acabou lembrando um pouco também do hippie dos anos 1960.
E foi exatamente essa moda, guiada por um visual meio junkie (lembrando os maltrapilhos e mendigos) que vingou nos anos 90. A modelo Kate Moss, magra demais e com aspecto nada saudável, também foi a cara da década. Para lembrar um pouco mais daquela época, basta rever o visual dos integrantes das bandas Nirvana, Pearl Jam, Alice in Chains, ou alugar o DVD do filme Vida de Solteiro, com Matt Dillon, Bridget Fonda, Campbell Scott, Bill Pullman e Kyra Sedgwick. Estão lá todos os elementos do grunge, da forma de ser a forma de se vestir: a despreocupação com o futuro, os bermudões masculinos e as peças sobrepostas para as meninas.
Uma vez grunge, sempre grunge
E se os anos 1980 passaram como um trator nas últimas passarelas nacionais e estrangeiras para o inverno 2009/2010, o grunge também deu as caras aqui e ali, ainda meio tímido. Mas é bom lembrar: quando a moda de rua ¿ ou aquilo que ninguém chamaria de moda ¿ passa pelas mãos das grandes grifes, acaba ganhando glamour e sofisticação. Um charme e tanto para o visual relaxado.
Para este outono-inverno Marc by Marc Jacobs, Missoni e DSquared foram algumas das marcas que trouxeram alguns elementos daquela época. Ainda nada tão forte quanto os anos 1980, mas isso é uma questão de tempo.
Já faz algumas temporadas que o neogrunge tem ensaiado um retorno. No inverno de 2007, o próprio Jacobs, Anne Sui e Calvin Klein apresentaram referências da época.
No Brasil, elas aparecem principalmente nas marcas de moda jovem. Então, quando você vir uma roupa mais largada, com camisa xadrez (sim o xadrez está bem forte), as modelagens largonas e relaxadas (não como a baggy dos anos 1980) e muitas peças sobrepostas, isto é grunge, ou, melhor neogrunge. Um grunge de butique que talvez nem tenha mais nada a ver com Kurt Cobain, apesar de o músico ter sido um dos inspiradores. De qualquer forma, mantém-se viva sua memória.