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Red Bull, Ferrari e Mercedes se mobilizam para quebrar o teto na F1

Mattia Binotto jogou a letra do limite orçamentário para a Red Bull, mas toda a F1 está de olho no teto. Entenda.

13 mai 2022 - 08h00
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Red Bull e Ferrari: rivais na pista, unidas para quebrar o teto
Red Bull e Ferrari: rivais na pista, unidas para quebrar o teto
Foto: Pirelli / Divulgação

O teto orçamentário na F1 é tipo namoro: você conhece alguém. No início, é excitante. Aos poucos, se conhece os detalhes. Aí vai vendo se era o realmente que se pensava mesmo ou a encrenca era complicada. Mas no caso da F1, não tem como se separar...

Embora fosse discutido desde sempre, o controle de custos na F1 era uma daquelas coisas que pareciam impossíveis. A Liberty Media colocou como uma de suas prioridades e a pandemia da COVID ajudou a criar consensos diante das condições econômicas ditadas pela necessidade de continuidade dos negócios.

De certa forma, todos bateram palmas quando o pacote foi anunciado. Embora realmente representasse um avanço diante de tudo que fora tentado até então, ainda era uma tremenda quantidade de dinheiro a ser gasta e com uma série de exclusões (salário de pilotos, por exemplo).

Em tese, o esquema era simples: de 2021 a 2023, redução de US$ 5 milhões por ano no valor a ser gasto, iniciando em US$ 145 milhões para uma temporada de 21 etapas. Para cada etapa adicional, um acréscimo de US$ 1,2 milhões. E para cada Sprint Race, o direito de abater até US$ 200 mil dos custos dependendo a situação. O resumo está no quadro a seguir:

Quadro do teto orçamentário da F1 de 2021 a 2023, já com os bonus de provas adicionais
Quadro do teto orçamentário da F1 de 2021 a 2023, já com os bonus de provas adicionais
Foto: do autor

Como diria aquele velho ditado, o diabo mora nos detalhes. Embora não apareça para o grande público, não se tem notícia de questionamentos até aqui de possíveis descumprimentos das regras até aqui. Mas este ano, com a queda inicial dos valores e o novo regulamento em ação, a resistência do teto foi posta em dúvida...

Além do aumento dos custos ainda vindo da desestabilização causada pela pandemia, um outro risco apareceu no horizonte: o conflito Rússia / Ucrânia. Com a introdução de sanções econômicas, a inflação apareceu com força no horizonte europeu. O Reino Unido ainda tem o agravante dos efeitos do Brexit.

Com o novo regulamento, a curva de desenvolvimento inicial acaba por ser bem acelerada. O teto orçamentário por si só já forçava os times a calibrar seus movimentos. Para estabelecimento do teto, os times fizeram estimativas de quanto gastariam para produzir determinadas peças. Não há um valor formal, mas a versão italiana da Motorsport divulgou que esta lista estaria orçada em US$ 10 milhões (informação vinda de Gunther Steiner, chefe da Haas).

Nesta linha, Mattia Binotto deu uma declaração dizendo que tinha dúvidas se a Red Bull conseguiria manter o ritmo de desenvolvimento visto até aqui, estimando que os taurinos teriam gasto cerca de 75% do valor estimado de desenvolvimento. Lembrando que a Ferrari até agora não trouxe tantas novidades para a pista.

Embora verdadeira, a fala de Binotto tem por objetivo fomentar a guerra de nervos. Até porque a Ferrari também olha com atenção a questão do teto de gastos e divide a pressão com a Red Bull para pressionar a FIA e a Liberty para aumentar o valor desembolsado pelas equipes.

A desculpa oficial é acomodar o aumento da inflação observado na Europa. Os custos com materiais e logística aumentaram acima do esperado e com isso, acabam pressionando os orçamentos. A preocupação é totalmente defensável pois esta é uma preocupação nossa de todo dia. Mas tem um detalhe muito interessante por trás disso...

O Regulamento Financeiro da FIA (eis aqui o link) prevê um reajuste nos valores dos tetos para 2022 e 2023, caso a inflação anual média nos países que compõem o G7 (a saber: EUA, Canadá, Japão, Reino Unido, Itália, França e Alemanha) ultrapasse os 3% até setembro do ano anterior do período, usando como base os dados do site do FMI.

Segundo o site indicado no próprio Regulamento (aqui), a inflação média nestes países atingiu 3,3% em 2021. Mas com o cenário descrito antes, segundo o mesmo site, a inflação anual até aqui quase dobrou (6,3%) e deve aumentar ainda mais.

Diante do quadro, as equipes, especialmente Red Bull, Ferrari e Mercedes, estão pedindo uma mudança no reajuste: estão querendo que seja aplicado o índice deste ano para poder fazer frente a este aumento de custos. Mas vejam no quadro abaixo como ficaria:

Valores do teto orçamentário considerando proposta das equipes e o que prevê o regulamento. O valor de 2023 considera o reajuste de 6,3%, conforme as regras.
Valores do teto orçamentário considerando proposta das equipes e o que prevê o regulamento. O valor de 2023 considera o reajuste de 6,3%, conforme as regras.
Foto: do autor

Basicamente, é o seguinte: se o regulamento for cumprido, os times poderão gastar US$ 4,6 milhões a mais este ano. Porém, se a proposta das equipes passar, poderão desembolsar quase o dobro: US$ 8,8 milhões, além dos US$ 2,4 milhões por conta das 2 provas adicionais aos 21 GPs originais.

Em uma briga apertada por ganhos por décimos, qualquer valor adicional disponível para as equipes faz toda a diferença. Ross Brawn, sabendo como são os times, prometeu uma solução para breve. Mas uma definição é cobrada para logo, pois impacta no cronograma de desenvolvimento e pode ser crucial na disputa do campeonato.

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