PUBLICIDADE

Parabólica

O que a Indy 500 tem a ensinar para a previsível Fórmula 1

No dia em que Helio Castroneves se consagra como o maior piloto das 500 Milhas de Indianapolis, a corrida deixa ensinamentos à Fórmula 1

30 mai 2021 - 22h52
(atualizado em 31/5/2021 às 22h40)
Compartilhar
Exibir comentários
Largada das 500 Milhas de Indianápolis: nunca se sabe quem vai ganhar.
Largada das 500 Milhas de Indianápolis: nunca se sabe quem vai ganhar.
Foto: IndyCar Series

A tradicional corrida “Indianapolis 500'', hoje chamada apenas de Indy 500, trouxe não apenas uma vitória brasileira, mas também lições para a Fórmula 1. Enquanto no superspeedway a dúvida sobre quem seria o vencedor durou até os últimos metros das 500 Milhas, na F1 as corridas têm sido previsíveis há anos.

Antes do brasileiro Helio Castroneves, três americanos haviam vencido quatro vezes as 500 Milhas de Indianápolis. Mas nenhum piloto na história conseguiu a façanha de Helinho: vencer a maior prova do automobilismo das Américas com 20 anos de diferença entre a primeira e a última vitória.

Helio Castroneves venceu em 2001, 2002, 2009 e 2021. Al Unser conseguiu um espaço de 17 anos, com vitórias em 1970, 1971, 1978 e 1987. A.J. Foyt, uma lenda nos Estados Unidos, conseguiu a primeira e a quarta vitória com 16 anos de diferença: 1961, 1964, 1967 e 1977. Outro tetracampeão da Indy 500, Rick Mears, venceu em 1979, 1984, 1988 e 1991.

Helio Castroneves também obteve a façanha de vencer em suas duas primeiras participações em Indianápolis (2001 e 2002), além de obter o segundo lugar em sua terceira participação. Considerando todos esses fatos, o piloto brasileiro se consagra como o maior vencedor da história das 500 Milhas de Indianápolis.

Helio Castroneves: maior piloto da história das 500 Milhas.
Helio Castroneves: maior piloto da história das 500 Milhas.
Foto: IndyCar Series

Se não bastasse tudo isso, Helinho ainda fez quatro pole positions na prova, em 2003, 2007, 2009 e 2010, sendo superado nessa estatística apenas por Rick Mears, que foi pole position em seis ocasiões. Rex Mays e A.J. Foyt também marcaram quatro poles na Indy 500.

Manter um regulamento que permite a um piloto de 46 anos vencer uma corrida tão disputada, com vários carros em condições de vitória, é apenas uma das lições que as 500 Milhas de Indianápolis podem dar à Fórmula 1. Não me refiro de forma generalizada à IndyCar Series (Fórmula Indy) pois o Mundial da FIA é incomparável em tradição, qualidade dos pilotos e tecnologia. Mas a corrida de Indianápolis tem coisas muito interessantes, que listo a seguir.

1. Na Indy 500 existe apenas um composto de pneu slick. É o mesmo para todo mundo e os pilotos que se adaptem. Na Fórmula Indy são apenas três tipos de pneus: slick macio, slick duro e de chuva. Na Fórmula 1, ao contrário, existem sete tipos de pneus, sendo cinco para cada Grande Prêmio: cinco compostos diferentes de slick, indo do super macio ao super duro e dois de chuva (sendo um para pista molhada sem chuva ou com garoa). Precisa tanto? Essa superproteção às equipes torna as corridas previsíveis.

2. Na Indy 500 cada piloto ou equipe para nos boxes quantas vezes quiser. Na Fórmula 1, pelo menos uma parada é obrigatória, pois não é permitido repetir o pneu. Assim, as grandes equipes sempre têm a chance de correrem com os pneus ideais, faturando a maioria das provas.

3. A Indy 500 permite um pacote aerodinâmico um pouco diferente da IndyCar Series, por se tratar de um super speedway longo. Na Fórmula 1, pistas rapidíssimas, como Monza, Silverstone e Hockenheim, foram muito modificadas, com uma série de chicanes e novas curvas reduzindo a velocidade. O Grande Prêmio da Itália, em Monza, não poderia ser um espetáculo à parte? Por outro lado, o GP de Mônaco, com pista estreita, não poderia ter alguma regra diferente para devolver a imprevisibilidade à corrida? 

4. Nas 500 Milhas de Indianápolis, cada fila da largada tem três carros. Na Fórmula 1 já foi assim também. Durante muitos anos, a primeira fila tinha três carros, a segunda tinha dois, a terceira tinha três, a quarta tinha dois, e assim por diante. Hoje, não há sequer 10 filas de dois carros e sim 20 filas de um carro. É quase proibido que um piloto perca sua posição na largada.

5. As 500 Milhas têm 33 carros, enquanto as corridas de Fórmula 1 têm apenas 20. Virou um clube fechado demais, com todas as vantagens financeiras a apenas quatro grandes equipes. Isso matou times como Tyrrell, Minardi, Lotus, Williams e, pelo que vemos, nem a McLaren conseguiu se reerguer totalmente ainda. Que tal liberar quatro vagas em cada Grande Prêmio para pilotos que não disputam regularmente o Mundial?

6. Na Indy 500 é quase impossível ver algum piloto sendo punido na pista. Na Fórmula 1, tudo merece punição. Se o piloto está rápido demais e vai com o carro para além da pista na saída da curva (mesmo sem cortar a trajetória), logo recebe uma punição. Além disso, as regras são confusas -- tem hora que pode, tem hora que não pode.

Toda certinha, a Fórmula 1 não surpreende nem na hora da foto oficial.
Toda certinha, a Fórmula 1 não surpreende nem na hora da foto oficial.
Foto: F1

7. Nas 500 Milhas, se o piloto errar, bate no muro e sai da corrida. Na Fórmula 1, se o piloto errar, quase sempre tem uma área de escape gigante e asfaltada, que o permite voltar à pista; às vezes, não perde nem a posição. A volta da brita resolveria isso.

8. Nas 500 Milhas de Indianápolis, a melhor estratégia é acelerar, pegar o vácuo e ir para cima do carro da frente. Na Fórmula 1, é preciso passar no ponto A a menos de 1 segundo do carro da frente para poder abrir a asa móvel no ponto B e tentar a ultrapassagem no ponto C. É quase impossível para o piloto da frente defender sua posição.

Portanto, os carros mais rápidos SEMPRE ganham a corrida. É justo? Talvez. Tem graça? Nem sempre. A graça do esporte é não saber quem vai vencer. Na Indy 500, quase nunca se sabe. Na F1, quase sempre se sabe.

Parabólica
Compartilhar
Publicidade
Publicidade