PUBLICIDADE
URGENTE
Saiba como doar qualquer valor para o PIX oficial do Rio Grande do Sul

Volkswagen Nivus tenta resgatar o Pointer no século 21

Análise: VW já teve um cupê abaulado como o SUV cupê no passado. Era o Pointer, um grande fracasso. Veja como ficará o Nivus sem camuflagem

17 abr 2020 - 00h01
(atualizado às 11h11)
Compartilhar
Exibir comentários
O Nivus tem a cintura alta, portanto a queda na traseira é suave e elegante.
O Nivus tem a cintura alta, portanto a queda na traseira é suave e elegante.
Foto: Renato Aspromonte / OverboostBR

Ainda no primeiro semestre a Volkswagen começa a vender o novíssimo Nivus. O primeiro SUV cupê compacto do mercado -- que pode ser visto sem camuflagem nas projeções do OverboostBR -- será um meio termo entre o Polo e o T-Cross. Ou seja: é mais que um hatch e é menos que um SUV (ou mais, dependendo do ponto de vista). A própria Volks, que o chama de New Urban Coupé, não se sentirá ofendida se o Nivus for chamado de crossover ou de SUV cupê. Mas, apesar do design marcante, o Nivus é uma releitura de um cupê abaulado da marca nos anos 1990: o Pointer.

Como se sabe, o Nivus terá motor 200 TSI 1.0 de 128 cavalos, câmbio automático de seis marchas, suspensão reforçada, carroceria elevada, pneus de perfil alto, grande foco nos equipamentos de segurança, uma nova central multimídia e um grande porta-malas (415 litros). Mas seu grande atrativo será mesmo o design. Inovador? Nem tanto. Quando foi apresentado, no final de 1993, o Volkswagen Pointer surpreendeu. Tanto que o presidente mundial da montadora, Ferdinand Piech, disse na Alemanha que o Pointer era o Volkswagen mais bonito do mundo. Não era, mas parecia.

O sucesso do Pointer durou menos de um ano (até começar a ser vendido). Quando as vendas começaram, somente no segundo semestre de 1994, o carro mostrou seu verdadeiro caráter. Nelson Rodrigues diria que ele era bonitinho mas ordinário. Na verdade, o Pointer era um Volkswagen no corpo de um Ford Escort. Considerado a versão hatch do VW Logus (1993), o Pointer usava a plataforma dos Ford Escort e Verona. Era a fase final da Autolatina (holding entre Ford e Volkswagen). Essa plataforma tinha a seguinte correspondência: Ford Escort-VW Logus/Pointer, Ford Verona-VW Apollo.

O Nivus deve surpreender com um aplique com partes luminosas na tampa traseira.
O Nivus deve surpreender com um aplique com partes luminosas na tampa traseira.
Foto: Renato Aspromonte / OverboostBR

Os motores do Pointer eram os ótimos AP-1800 e AP-2000, ambos da Volkswagen. O carro tinha quatro versões. A proposta do Pointer lembrava também a do Chevrolet Kadett, que fez muito mais sucesso no Brasil. O Pointer tinha a última coluna inclinada, como um cupê, mas o design do carro não ajudava a parte traseira. Na frente ele era muito bonito. Seu formato em cunha exibia esportividade e trazia o conceito vencedor do Lotus 72, que ganhou dois mundiais de Fórmula 1, em 1972 e 1973. Mas, como a linha de cintura era baixa, na parte de trás o Pointer tinha uma enorme vigia depois da porta traseira. O porta-malas abrigava 323 litros.

O Nivus não corre o risco de repetir o fracasso comercial do Pointer. Embora seja um projeto brasileiro, como o carro dos anos 1990, o Nivus estreia na moderníssima plataforma modular MQB, que dá muito mais versatilidade aos designers e engenheiros. As imagens projetadas pelo OverboostBR (perfil do designer Renato Aspromonte no Instagram) foram divulgadas ontem num vídeo do canal De Carona com Leandro (do jornalista e youtuber Leandro Alvares). Elas mostram um carro extremamente bem desenhado. A linha de cintura é elevada desde os faróis. Portanto, a leve ascendência até a parte traseira não compromete o design como no Pointer; pelo contrário, permite que o porta-malas seja grande e conclui com suavidade a queda da coluna C.

O Pointer tinha a traseira abaulada e uma enorme vigia depois da porta.
O Pointer tinha a traseira abaulada e uma enorme vigia depois da porta.
Foto: Wikipedia / Reprodução

Ao desenhar o carro sobre as fotos camufladas que a Volkswagen divulgou, Aspromonte se surpreendeu com as lanternas traseiras. Como no VW T-Cross, o Nivus terá um enorme aplique de lado a lado sobre a tampa traseira. Segundo o designer, a parte que sobe na tampa também será luminosa. A proteção de plástico das caixas de rodas, que passam por toda a parte inferior do carro, dão ao Nivus um aspecto aventureiro que o Pointer não tinha. Pelo contrário. Nos anos 1990, a Volkswagen ainda apostava na mística da esportividade. Por isso, o Pointer ganhou uma versão GTI com o mesmo motor 2.0 do Gol GTi. Nessa releitura de um carro que durou apenas três anos (1994 a 1996), a Volkswagen não está cometendo os mesmos erros de 16 anos atrás. O Nivus certamente será um carro equilibrado e adequado à sua proposta de ser um cupê urbano. Já o Pointer, apesar da sigla GTI e do motor 2.0, tinha uma péssima distribuição de peso: 39% na dianteira e 61% na traseira. Para piorar, sua proposta “estradeira” foi danificada pela relação de marchas, que “amarrava” o Pointer GTI em velocidades superiores e causou má impressão de cara perante os especialistas, antes de seu lançamento.

O Pointer era agressivo, com a frente em formato de cunha e uma versão GTI 2.0.
O Pointer era agressivo, com a frente em formato de cunha e uma versão GTI 2.0.
Foto: VW / Divulgação

Os tempos eram outros, claro. Em 1993, fazia apenas três anos que o Brasil tinha aberto seu mercado para carros importados. Hoje, o mundo é globalizado e nada que a Volkswagen faça aqui não passa antes pela aprovação mais criteriosa da Alemanha. Tanto que o Nivus já traz o novíssimo logotipo VW, minimalista, como promete ser o futuro pós pandemia de Covid-19. Ainda não sabemos ao certo que outras surpresas a Volkswagen guarda sobre o Nivus, que ela está revelando aos poucos e que praticamente desnudamos no GUIA DO CARRO, com as projeções do OverboostBR. O que não se pode negar, entretanto, é que o Nivus teve um distante ascendente na família Volkswagen: o Pointer. Usando os bons exemplos do antepassado e descartando os maus, o Nivus tem tudo para brilhar no século 21. O Pointer, se fosse um vovô, ficaria orgulhoso de sua evolução.

Guia do Carro
Compartilhar
Publicidade
Publicidade