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Renault muda estratégia e vai apostar em carros mais caros

Decisão partiu do CEO mundial, Luca de Meo. Um novo SUV maior que o Duster está nos planos; Sandero e Logan até Kwid perdem relevância

19 fev 2021 - 11h55
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Novo SUV médio da Dacia (que no Brasil será vendido como Renault): aposta no segmento C.
Novo SUV médio da Dacia (que no Brasil será vendido como Renault): aposta no segmento C.
Foto: Renault / Divulgação

A Renault dos carros grandes e baratos vai ficar no passado. Depois de anos de sucesso com Sandero e Logan, que trouxeram maior espaço para o segmento de carros compactos, a Renault decidiu mudar sua estratégia para o Brasil. O anúncio foi feito pelo CEO mundial, Luca de Meo, em entrevista ao jornal Automotive News Europe.

A Renault não parece disposta a desistir de produzir carros no Brasil, como fez a Ford, mas jogou uma pá de cal na estratégia iniciada no começo da década passada, quando o mercado brasileiro estava acima de 3 milhões de unidades/ano e apontando para 5 milhões.  Por causa disso, a nova aposta será colocar veículos mais caros no mercado, para vender menos e lucrar mais. 

O carro mais cotado para iniciar essa fase é o Dacia Bigster, um SUV médio que pode ser fabricado no Brasil para disputar espaço com Jeep Compass, Toyota Corolla Cross, Volkswagen Taos e Ford Bronco Sport. Entretanto, trata-se de um projeto novo, apresentado este ano, junto com o programa “Renaulution”, e levará algum tempo até ganhar as ruas.

Onde se lê Dacia, aparecerá o nome Renault para os carros vendidos no Brasil.
Onde se lê Dacia, aparecerá o nome Renault para os carros vendidos no Brasil.
Foto: Renault / Divulgação

“Como a economia está um pouco incerta, vamos congelar os investimentos no curto prazo. Mas vamos reutilizar o dinheiro em coisas como Bigster e Duster, nas versões Renault, para que possamos aumentar o preço médio de transação”, disse De Meo.

O impacto da nova estratégia da Renault pode ser grande em sua linha de carros no Brasil. Recentemente, a empresa desistiu de fazer uma carroceria sedã para o Kwid. O próprio hatch subcompacto tem o seu futuro relativamente ameaçado, pois não há perspectiva de uma nova geração. Entretanto, na Europa, o Kwid começa a ser vendido como Dacia Spring totalmente elétrico. Seria uma boa solução para ganhar um novo mercado no Brasil, mas o país não oferece qualquer incentivo para carros elétricos.

Terceira geração da família Sandero, Logan e Stepway: por enquanto, somente na Europa.
Terceira geração da família Sandero, Logan e Stepway: por enquanto, somente na Europa.
Foto: Dacia / Divulgação

No caso da dupla Sandero e Logan, o projeto de uma nova geração foi congelado. É possível que a atual geração dessa família tenha que ficar no mercado mais tempo do que estava previsto (isso inclui o aventureiro Stepway). Recentemente, a Renault tirou de linha o câmbio CVT do Sandero e do Logan, que era a grande novidade do facelift realizado em 2019. Os carros ficaram muito elevados (e mais caros) para receber o câmbio e o público rejeitou. O Logan CVT ainda é vendido para PcD.

Renault Duster: SUV forte e velho de guerra continua sendo a melhor aposta da marca.
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Foto: Sergio Quintanilha / Guia do Carro

“Enquanto buscávamos volume e participação de mercado, entramos em todos os mercados do segmento inferior para facilitar o escopo dos volumes e estabelecer uma fábrica que fosse grande o suficiente para ser eficiente”, explicou Luca de Meo. “Mas não demos o próximo passo. Isso significa, por exemplo, que no Brasil teríamos um carro barato como o Logan e quando ele atingisse sua participação de mercado de 5 a 6 por cento encheria a fábrica com 150.000 ou 200.000 veículos por ano. Então, o correto seria introduzir um carro em um segmento superior para estabelecer a marca em uma posição consistente com a posição da marca globalmente, e talvez também um carro que lhe desse mais margem. Isso não aconteceu.”

Nesta sexta-feira (19), o Grupo Renault divulgou seus resultados financeiros de 2020. A margem operacional representou prejuízo de 337 milhões de euros no ano passado  (-0,8% do faturamento), devido à pandemia de coronavírus, mas no segundo semestre já houve margem operacional positiva (+3,5%). Apesar de a Divisão Automotiva ter deixado um rombo de 3,5 bilhões de euros no final de 2020, o Grupo Renault dispõe de reservas de liquidez de 16,4 bilhões de euros. De qualquer forma, o conselho de administração vai propor em abril que não haja distribuição de dividendos referentes ao exercício de 2020.

Luca de Meo, CEO mundial da Renault: aposta em carros baratos não vingou no Brasil.
Luca de Meo, CEO mundial da Renault: aposta em carros baratos não vingou no Brasil.
Foto: Renault / Divulgação

“No Brasil, por exemplo, a equipe recebeu a meta de uma participação de mercado de 10%, então em um mercado de 3 milhões de carros preparamos uma capacidade de 300.000 carros. Então vendemos 200.000, depois 150.000 e 80.000. O que temos que fazer no Brasil é, antes de tudo, baixar o ponto de equilíbrio. Isso significará cortar turnos, infelizmente demitindo mais de 800 pessoas”, disse De Meo. A Renault do Brasil já havia anunciado o corte de 747 trabalhadores da fábrica de São José dos Pinhais (PR) como uma das medidas para recuperar a lucratividade.

Em fevereiro, o carro mais vendido da Renault nas primeiras três semanas (até o dia 18) foi o Kwid, um carro de baixa rentabilidade, com 2.279 unidades, o que o coloca em 16º lugar no ranking de vendas. Os demais carros da Renault estão com vendas muito baixas. Atrás do Kwid vem o Duster com 760 emplacamentos, seguido do Sandero com 651 e da picape Oroch com 632. O furgão Master obteve 420 vendas em fevereiro. Já o Captur emplacou apenas 259 e o Logan -- que nasceu para encher a fábrica com 300 mil unidades -- vendeu apenas 248 unidades.

Renault Sandero: fim do câmbio CVT e apenas 651 vendas em fevereiro.
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Foto: Renault / Divulgação
Guia do Carro
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