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Por US$ 100 ao ano, serviço promete limpar caixa de e-mails

Lançado pela startup americana Basecamp, Hey promete usar filtros para limpar a bagunça geral

29 jun 2020 - 05h12
(atualizado às 08h32)
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De todos os males da internet, o e-mail é uma fonte de sofrimento sem plano de tratamento. Não há controle: qualquer pessoa - de um ex-namorado até atendentes de telemarketing - pode mandar um email. É irritante: ao comprar um produto online e compartilhar nosso endereço, uma empresa bombardeia a caixa de entrada com mensagens inúteis. E é um círculo vicioso: com muitos e-mails inúteis, muita gente também ignora a avalanche de mensagens que chegam todos os dias.

Mensagens de emails podem ser apagadas com a contratação de um serviço
Mensagens de emails podem ser apagadas com a contratação de um serviço
Foto: Pixabay

A Basecamp, uma startup dona de uma ferramenta de colaboração online, está tentando reinventar o email com um novo aplicativo. Na semana passada, eles apresentaram o Hey, um serviço que custa US$ 99 ao ano e promete deixar uma interface mais limpa para a navegação na caixa de entrada. Seu principal atributo é uma ferramenta de triagem que podemos usar para decidir quem tem autorização para nos enviar emails - o que, teoricamente, ajuda a retomar o controle sobre nossas caixas de entrada. Não é muito diferente da possibilidade de bloquear remetentes em serviços como o Gmail, mas o Hey tem filtro por pessoas.

"As pessoas odeiam o email porque não conseguem mais controlá-lo", disse Jason Fried, presidente executivo da Basecamp. "Inverter as coisas e dar o controle ao usuário realmente é uma mudança radical".

Depois de mais ou menos uma semana de testes, é triste relatar que não senti que havia recuperado o controle sobre a minha caixa de entrada. E suspeito que a maioria das pessoas continuará achando que serviços gratuitos como o Gmail são bons o suficiente - e quando algo é gratuito e bom o suficiente, é difícil de batê-lo. O Hey deu um primeiro passo bem pensado, mas terá de fazer mais para convencer as pessoas a pagar US$ 99 por ano.

Além do mais, saí convencido de que a própria ideia de email está tão estragada que muitas pessoas já levaram a maior parte das conversas para outro lugar. Mais sobre isso logo adiante.

Eis aqui o que o Hey faz.

Semelhante aos primeiros tempos do Gmail, o Hey é um serviço aberto apenas para convidados. Para se inscrever, você precisa mandar uma mensagem para iwant@hey.com e contar à empresa como você se sente em relação ao email. Aí você recebe um código de inscrição.

Você pode acessar a sua caixa de entrada do Hey por meio de um navegador da Web ou de aplicativos criados para dispositivos Apple, Android, Windows e Linux. A grande estrela do Hey é a ferramenta de triagem. Quando você recebe um email de alguém pela primeira vez, uma mensagem na parte superior da tela o convida a filtrar o remetente. Em seguida, você é levado ao menu Filtros, que mostra uma lista de remetentes inéditos e oferece a opção de clicar em Sim ou Não para receber emails desses endereços. Mas ele também tem outros benefícios.

>> Tecnologia anti-rastreamento: os rastreadores de email vêm de várias formas, como um único pixel invisível ou fontes especiais da web, e os profissionais de marketing costumam usá-los para detectar quando alguém abre uma mensagem e até mesmo onde a pessoa está quando abre o email. O Hey detecta automaticamente emails que têm rastreadores e alerta quando são bloqueados. É um passo à frente dos serviços gratuitos como o Gmail, que oferece pouquíssimas proteções contra rastreamento.

>> Um local para recibos e notas fiscais: quando você recebe as notas de transações comerciais ou viagens a trabalho, você pode clicar no botão "Mover" para enviá-lo para "Papelada", que é essencialmente uma pasta para documentos importantes.

>> Outras ferramentas de gerenciamento de emails: quando você recebe um e-mail importante do qual não quer se esquecer, pode fixá-lo para que uma pré-visualização da mensagem permaneça na parte inferior da tela do aplicativo. Você também pode sinalizar os emails aos quais planeja responder depois tocando no botão "Mais tarde".

Testar, testar, testar

Para testar o Hey, configurei duas das minhas contas do Gmail para encaminhar automaticamente todas as mensagens para o meu endereço @hey.com, na tentativa de ver se as ferramentas de triagem ajudariam minha caixa de entrada a ficar menos lotada. Logo de cara encontrei algumas falhas. Em alguns casos, a ferramenta de triagem foi útil: filtrei emails desagradáveis de campanhas políticas, promoções e locadoras de carros só clicando em "Não" para os remetentes.

Mas, quando se tratava de empresas que eu queria ouvir, a triagem virava uma tarefa árdua. Por exemplo: recebo muitos emails de marketing da companhia de seguros que contratei para minha casa, mas quero ouvi-la sobre recibos ou alterações contratuais. Como filtrar isso? Às vezes, as empresas enviam mensagens importantes e emails de marketing de diferentes endereços, mas nem sempre, e filtrar só os endereços com cara de spam se tornou um exercício tedioso.

A tecnologia anti-rastreamento do Hey também pareceu incompleta. O serviço bloqueia principalmente pixels de rastreamento e fontes especiais, que, quando carregados, avisam servidores externos para informar terceiros quando você abre o email.

Mas os rastreadores da web também vivem em outros lugares dos emails. Quando você clica numa palavra com hiperlink dentro de uma frase ou na foto de um moletom da Uniqlo, isso também pode alertar terceiros que você abriu o email e interagiu com seu conteúdo. (No passado, os bloqueadores de rastreadores de email que testei retiravam os hiperlinks que continham rastreadores).

Fried disse que as pessoas geralmente entendem que os links de email são direcionados para sites que os rastreiam. Eu discordo, respeitosamente. Minha preocupação é que, quando o Hey informa às pessoas que os rastreadores foram bloqueados, elas têm a falsa sensação de segurança.

Gostei muito de alguns dos outros recursos do Hey. Adorei a ferramenta que fixa os emails importantes na tela do aplicativo. A pasta "Papelada" também foi um recurso interessante para arrumar os recibos. Mas, mesmo assim, não pagaria pelo Hey, por causa de algumas das falhas que observei.

O email voltará a ser divertido?

Testar o Hey me fez relembrar da época em que o email era motivo de alegria. Nos dias da AOL, nos anos 1990, dependíamos do email para mandar mensagens a amigos e familiares. Quando o Gmail surgiu, em meados dos anos 2000, o Google ofereceu uma caixa de entrada gratuita e pesquisável, com mais armazenamento, o que acabava com a necessidade de excluir e-mails. Mas esse serviço tão usado não mudou muito desde então.

Em outras palavras, o email ficou chato. Muitas empresas tentaram oferecer uma experiência de email mais agradável. Em 2013, o Dropbox pagou US$ 100 milhões para adquirir o Mailbox, um aplicativo que ajudava os usuários a organizar a caixa de entrada. O Dropbox matou o aplicativo em 2015, depois de concluir que não era possível "fazer um conserto fundamental no email".

Depois de testar o Hey, olhei atentamente para meus dispositivos e percebi uma tendência. A grande maioria das minhas conversas digitais com familiares, amigos e colegas de trabalho acontece em aplicativos de mensagens como o iMessage, Google Hangouts e Slack. Minhas contas de email se transformaram num canal passivo para receber notas fiscais e newsletters.

Muitas pessoas talvez sintam a mesma coisa. Gente de 16 a 44 anos de idade passa mais tempo em aplicativos como Facebook Messenger, WhatsApp e Twitter do que no Gmail. E pessoas mais velhas gastam mais tempo no Gmail do que em aplicativos de mensagens, disse Amir Ghodrati, diretor de insights de mercado da App Annie, uma empresa de pesquisa.

Estadão
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