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Dono sai em defesa da Huawei: 'Os EUA não têm como nos destruir' 

Ren Zhenfei admite que cerco imposto por EUA e Canadá a megaempresa chinesa após suspeitas de espionagem tem potencial de causar perda de clientela, mas que ela sempre poderá 'reduzir operação'.

19 fev 2019 - 11h42
(atualizado às 15h45)
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O fundador da Huawei, Ren Zhengfei, disse que "não há a menor possibilidade de os Estados Unidos destruírem" a gigante de tecnologia chinesa. A declaração foi dada em entrevista exclusiva à BBC News.

Em dezembro do ano passado, Meng Wanzhou, diretora financeira da Huawei e filha de Zhengfei, foi presa no Canadá a pedido do governo americano. Ela foi solta posteriormente, mas continua sob vigilância no Canadá enquanto tramita um processo de extradição para os EUA.

O caso gerou uma crise diplomática envolvendo China, Estados Unidos e Canadá. Na entrevista à BBC News, Ren Zhengfei afirmou que a prisão de sua filha tem motivações políticas.

Os EUA acusam a Huawei e Meng Wanzhou de lavagem de dinheiro, fraude bancária e roubo de segredos tecnológicos. A Huawei nega ter cometido irregularidades.

Segundo Ren Zhengfei, sua empresa de tecnologia chinesa é "mais avançada" e, por isso, não tem como ser seriamente afetada ainda que os EUA convençam "mais países" a não comprarem produtos da companhia. "Sempre podemos reduzir um pouco nossa operação", disse.

Ele reconhece, porém, que a potencial perda de clientela pode ter um impacto significativo.

'Se as luzes do Ocidente se apagarem... Outras se acenderão'

Na semana passada, o secretário de Estado dos Estados Unidos, Mike Pompeo, alertou países aliados de que seria "mais difícil manter a parceria" se essas nações usarem tecnologia da Huawei.

Além dos EUA, Austrália e Nova Zelândia proibiram ou impediram que a Huawei fornecesse equipamento nos seus territórios para o futuro uso de tecnologia 5G. O Canadá, por sua vez, está analisando se os produtos da empresa chinesa representam uma "ameaça à segurança" nacional.

Já no Reino Unido, grandes companhias telefônicas, como Vodafone, EE e Three, trabalham em conjunto com a Huawei para desenvolver suas redes 5G. Elas aguardam uma avaliação do governo britânico, prevista para ser concluída em março ou abril, que decidirá se poderão continuar comprando tecnologia da empresa chinesa.

"Se as luzes se apagarem no Ocidente, as do Oriente se acenderão. Se as do Norte se apagarem, ainda há as do Sul. Os Estados Unidos não representam o mundo. Os Estados Unidos representam uma parcela do mundo", afirmou Ren Zhengfei.

Perguntado sobre a possibilidade de a Huawei ser banida do Reino Unido, Ren disse: "Ainda confiamos no Reino Unido e esperamos que o Reino Unido confie em nós. Vamos investir ainda mais no Reino Unido. Se os Estados Unidos não confiam em nós, vamos deslocar os investimentos para o Reino Unido numa escala ainda maior."

O dono da Huawei negou que a empresa participe de atividades de espionagem em prol do governo chinês
O dono da Huawei negou que a empresa participe de atividades de espionagem em prol do governo chinês
Foto: Getty Images / BBC News Brasil

O que Ren disse sobre a prisão da filha

Na entrevista à BBC News, Ren também comentou sobre a prisão de Meng Wanzhou. Ela e a Huawei são alvo de 23 acusações, divididas em dois inquéritos que correm no Departamento de Justiça dos EUA.

O primeiro abarca acusações de que a Huawei teria negócios secretos com o Irã - país que é alvo de sanções econômicas dos EUA. O segundo inclui a acusação de que a empresa chinesa teria tentado roubar segredos tecnológicos de companhias americanas.

"Primeiro, eu me oponho ao que os Estados Unidos fizeram. Esse tipo de ato com motivação política é inaceitável", afirmou o fundador da Huawei.

"Os Estados Unidos gostam de aplicar sanções aos outros. Sempre que há algum problema, eles usam esse tipo de método. Somos contra isso. Mas agora que já estamos nesse caminho vamos esperar a Justiça decidir."

Meng Wanzhou foi presa em Vancouver, no Canadá, em dezembro
Meng Wanzhou foi presa em Vancouver, no Canadá, em dezembro
Foto: Reuters / BBC News Brasil

O que Ren disse sobre alegações de que a Huawei faz espionagem

A Huawei, que é a maior empresa privada da China, é alvo de suspeitas de que seria usada para espionagem pelos serviços de inteligência chineses. Pela legislação da China, as empresas são obrigadas a "auxiliar, cooperar e colaborar com os trabalhos de inteligência nacional".

Mas Ren diz que permitir espionagem em prol do governo chinês é um risco que ele não assumiria. Ele afirmou que o governo chinês já disse que não instalará dispositivos para obter informações da empresa e que a própria Huawei não aceitaria isso.

"Não vamos arriscar ser alvo do desprezo do nosso país e de nossos consumidores no mundo todo por algo assim. Nossa empresa nunca vai participar de qualquer atividade de espionagem. Se tivermos esse tipo de atividade, então eu fecharei a empresa."

A Huawei é parte do Estado Chinês?

Análise de Karishma Vaswami, repórter da BBC Asia Business que entrevistou o fundador da Huawei

Para um homem conhecido por ser recluso e misterioso, Ren Zhengfei parecia confiante de que sua empresa, construída ao longo dos últimos 30 anos, é capaz de sobreviver ao escrutínio dos governos do Ocidente.

Ren está certo: o mercado norte-americano corresponde a apenas uma fração dos negócios da Huawei.

Mas em um momento, eu percebi essa confiança se diluir: foi quando perguntei sobre suas ligações com o Exército e governo chineses.

Ele se recusou a se aprofundar na conversa, dizendo apenas que esses não eram fatos, mas simples alegações. Ainda assim, alguns sinais das ligações próximas entre Ren e o governo chinês foram revelados durante a entrevista.

Ele também confirmou que há um comitê do Partido Comunista nas dependências da Huawei, mas argumentou que isso é o que todas as empresas - estrangeiras ou nacionais - que operam na China precisam fazer para cumprir com a lei local.

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