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A tragédia de Elon Musk

Em meio a escândalos e investigações, o dono da Tesla está derretendo em público

24 ago 2018 - 05h12
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A história parece vinda de um site de fofocas de celebridades, daqueles com muito veneno e ironias. Mas está em toda imprensa especializada de tecnologia. A rapper Azealia Banks saiu publicando, entre sua conta de Instagram e a de Twitter, uma série de conversas por chat que teve com Grimes, a excêntrica cantora namorada de Elon Musk, CEO da Tesla. Envolvem sexo, drogas e a devolução de um celular. Tudo num momento delicadíssimo para Musk, que enfrenta uma investigação por parte da SEC, equivalente americano da CVM.

O CEO da principal empresa automobilística do Vale do Silício está derretendo em público.

No último dia 7, Musk foi ao Twitter informar que cogitava fechar o capital da Tesla recomprando as ações a US$ 420 cada. Dizia já ter acesso ao capital para fazer o movimento. Não tinha.

Wall Street é motivo de queixas do empreendedor faz já vários meses. A fábrica hiper-robotizada na qual ele pretendia montar o Model 3, seu primeiro carro voltado para a classe média, teve inúmeros problemas e demorou a pegar ritmo de produção. O resultado foi uma imensa lista de clientes esperando por seus automóveis. Enquanto isso, a cada trimestre, Musk precisava responder ao ceticismo de analistas com resultados pouco satisfatórios.

É uma queixa comum no mundo da tecnologia. O novo dá trabalho de fazer e erra-se muito até acertar. O mercado de ações, porém, funciona com a apresentação de resultados novos a cada trimestre.

O mercado de ações é, também, pesadamente regulado. E um CEO não pode simplesmente dizer, numa rede social, algo que provoque uma corrida por ações. A SEC abriu uma investigação que dará trabalho à Tesla e desvaloriza a empresa. Pior: o conselho de administração não estava informado dos planos de Musk.

E, ora, 420 é um número simbólico na cultura da cannabis. Meio mundo imediatamente pensou que Musk estava fumando maconha ao tuitar.

O conselho da Tesla pôs na rua uma equipe em busca de um novo executivo. Não para substituí-lo, mas para vigiá-lo. Ao mesmo passo, Elon Musk deu início a uma campanha de melhoria de imagem. Deu uma entrevista ao New York Times e fez um tour por sua fábrica com Marques Brownlee, um carismático youtuber de tecnologia. Os filmes com Brownlee foram ótimos. A entrevista com o Times, um fiasco. "Durante a conversa, Mr. Musk alternou entre gargalhadas e lágrimas", escreveram os repórteres que foram a sua casa. O empresário falou de noites viradas, falta de férias, amigos preocupados. Como se praticamente morasse na fábrica. E negou terminantemente que houvesse fumado maconha naquele momento.

"Ele entrou na erva por causa de mim", escreveu Grimes, sua namorada, à rapper em um dos chats. "E ficou todo animado com 420, então quando calculou que o preço das ações bateria em US$ 419, arredondou para 420 de brincadeira e agora a SEC está investigando por fraude."

Naquele início de agosto, justamente quando Musk iniciava seu flerte com o inferno, Grimes convidou Azealia Banks para a casa do executivo, em Los Angeles. Iriam trabalhar numa colaboração musical. Banks se hospedou lá por alguns dias. E daí começou a metralhadora de acusações envolvendo sexo, drogas e rap. Ela também afirma que os advogados de Musk confiscaram seu smartphone para apagar material que fosse comprometedor.

Sul-africano, Elon Musk fez fortuna com a venda da PayPal, da qual era sócio, para a eBay. Desde então fundou a Tesla, que faz os melhores carros elétricos do mercado, a SpaceX, para exploração espacial, e investe pesado em tecnologia para que casas possam se alimentar de energia solar. É uma das grandes estrelas do Vale. E está derretendo em público.

Estadão
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