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Quem é Arthur do Val, deputado que retirou pré-candidatura ao governo de SP após ter áudios vazados

Segundo deputado estadual mais votado de São Paulo, 'Mamãe Falei' viu sua aliança com Sérgio Moro derreter após gravar áudios machistas sobre mulheres ucranianas

5 mar 2022 - 16h47
(atualizado em 7/3/2022 às 10h30)
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O deputado estadual Arthur do Val (Podemos-SP) viu sua potencial candidatura ao governo de São Paulo derreter após ter áudios em que depreciava a condição de refugiadas ucranianas vazados. Membro do Movimento Brasil Livre (MBL), o deputado viajou ao país para, segundo divulgou em suas redes sociais, distribuir suprimentos às vítimas do conflito com a Rússia. Ele era o nome escolhido pelo Podemos para sustentar a candidatura do ex-juiz Sérgio Moro ao Planalto no Estado.

Em seu retorno ao Brasil, porém, enviou gravações a um grupo de amigos no WhatsApp em que dizia que mulheres ucranianas são "fáceis porque são pobres". A atitude repercutiu mal entre integrantes do Podemos. Membros da bancada e a presidente do partido repudiaram suas declarações e engrossaram a resposta de Moro ao caso.

O presidenciável da legenda disse que as declarações do deputado "são incompatíveis com qualquer homem público". "Jamais dividirei meu palanque e apoiarei pessoas que têm esse tipo de opinião e comportamento", escreveu o ex-juiz, adotando postura diferente à que tinha na semana anterior, quando elogiou a viagem do deputado à Ucrânia.

Em áudios encaminhados a um grupo do Whatsapp, Arthur do Val teria dito que as mulheres ucranianas 'são fáceis porque são pobres'
Em áudios encaminhados a um grupo do Whatsapp, Arthur do Val teria dito que as mulheres ucranianas 'são fáceis porque são pobres'
Foto: Reproduçaõ Instagram / Estadão

Após a repercussão, o deputado pediu desculpas, disse que agiu errado e retirou a própria pré-candidatura ao Palácio dos Bandeirantes.

As articulações do deputado foram fundamentais para trazer ao Podemos uma série de integrantes do MBL, que pela primeira vez decidiram se filiar em bloco a um único partido para a disputa eleitoral.

"Mamãe Falei"

Nascido em São Paulo em 1986, Arthur do Val é formado em Engenharia Química e se tornou empresário nos ramos de reciclagem de resíduos metálicos, transportes, combustíveis e construção civil.

O parlamentar passou a ser chamado de "Mamãe Falei" por conta de seu canal no Youtube, hoje com 2,7 milhões de inscritos. Seus vídeos ganharam especial notoriedade após o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff, movimento também encampado pelo MBL e apoiado pelos membros do movimento.

Em seu canal, ficou conhecido pelo estilo provocador. Costumava ir a protestos de esquerda e provocar os manifestantes para expor o que, em seu ponto de vista, seriam contradições.

No segundo semestre de 2016, viajou ao Paraná em meio a uma série de manifestações secundaristas que estouraram no Estado e se espalharam pelo Brasil. Com a câmara na mão, Arthur do Val abordava manifestantes, alguns ocupantes de escolas públicas que protestavam contra a reforma do Ensino Médio, e os confrontava sobre as motivações do movimento.

Vídeos como estes atingiram milhões de visualizações. Um dos mais populares foi gravado em 2018 e seguia o mesmo modelo. Na ocasião, o "Mamãe Falei" confrontava apoiadores do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e gravava suas reações.

Naquele mesmo ano, Mamãe Falei se filiou ao DEM e concorreu a uma vaga na Assembleia Legislativa de São Paulo. Foi o segundo mais votado com quase 480 mil votos, perdendo apenas para Janaina Paschoal, popular à época por ser uma das autoras do pedido de impeachment de Dilma Rousseff.

Em 2019, quatro dias após ser lançado candidato a prefeito de São Paulo pelo MBL, foi expulso do partido pelo qual foi eleito, após decisão da Comissão Executiva Estadual da legenda. O deputado vinha fazendo críticas no plenário e nas redes sociais ao vice-governador do Estado, Rodrigo Garcia, e figuras como o então presidente do Senado, Davi Alcolumbre, também democrata, hoje membro do União Brasil. Antes apoiador do governador João Doria (PSDB), o deputado passou a chamar o tucano de "lobista que vê São Paulo do helicóptero".

Após deixar o partido, Do Val "ganhou" o mandato e ficou livre para se filiar a qualquer legenda. Escolheu o Patriota para concorrer à prefeitura de São Paulo em 2020, encerrando a corrida eleitoral na quinta posição, com 9,78% dos votos.

Podemos

Mais recentemente, o depuotado abraçou a oportunidade de concorrer ao Estado de São Paulo pelo Podemos, partido de Sérgio Moro. Em entrevista ao Estadão, disse que estava "sacramentada" a união entre ele e o ex-juiz e se mostrou confiante em derrotar os adversários nas urnas.

"(Em 2020) Eu fiz 10%, mesmo a pesquisa me dando 1%. Imediatamente após eu comecei a receber diversos convites de tudo quanto era partido. Hoje eu estou em uma posição diferente, de sentar e exigir. A gente fez uma lista de exigências para todos os partidos e estamos conversando", disse, semanas antes de confirmar filiação ao Podemos junto a um bloco de lideranças do MBL.

Agora, contudo, Do Val decidiu abandonar a pré-candidatura ao Estado na tentativa de preservar o que chamou de "construção de uma terceira via". "O projeto não merece que minhas lamentáveis falas sejam utilizadas para atacá-lo", justificou.

Além do processo interno no partido, Do Val também já é alvo de pedidos de cassação na Assembleia Legislativa de SP motivados pelos áud.

O caso também repercutiu no Senado. O senador Humberto Costa (PT-PE), presidente da Comissão de Direitos Humanos da Casa, afirmou que quer convocar Arthur do Val após as declarações ofensivas proferidas contra mulheres ucranianas.

Estadão
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