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Qual é o impacto do corte de verba dos EUA à Colômbia?

22 out 2025 - 18h41
(atualizado em 22/10/2025 às 04h41)
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Para especialistas, tensão entre Donald Trump e Gustavo Petro e possível fim do financiamento contra o narcotráfico rompem parceria histórica e favorecem o crime organizado.O anúncio do presidente americano, Donald Trump, de que seu governo encerraria a ajuda financeira milionária que aporta à Colômbia para combater o narcotráfico levou Bogotá a convocar o embaixador colombiano em Washington - um sinal de estremecimento nas relações antes próximas entre os dois países.

Política de "paz total" de Gustavo Petro não impediu retomada de confrontos entre grupos guerrilheiros
Política de "paz total" de Gustavo Petro não impediu retomada de confrontos entre grupos guerrilheiros
Foto: DW / Deutsche Welle

Trump ainda acusou o presidente da Colômbia, Gustavo Petro, de ser um "lider do tráfico" e incentivar a produção de drogas. O colombiano, por sua vez, rebateu taxando seu homólogo americano de "grosseiro e ignorante".

O desencontro entre Trump e Petro teve início já no início da nova gestão do republicano, quando fez suas primeiras ameaças de sobretaxa a Bogotá, à época motivadas por desacordos em relação à deportação de imigrantes colombianos. Mais recentemente, a Casa Branca ordenou um desdobramento militar no Caribe, com ataques a embarcação associada a um grupo armado colombiano que supostamente transportava drogas.

Embora o assessor econômico de Trump Kevin Hassett tenha afirmado nesta segunda-feira (20/10) que Washington não pretende aumentar tarifas contra produtos colombianos, o governo de Petro vê o movimento como uma "ameaça de invasão dos EUA".

A ameaça de corte da ajuda financeira, porém, se mantém. Se concretizada, ela pode romper uma relação de três décadas de colaboração entre a Justiça, os serviços de inteligência e as forças policiais e militares da Colômbia e dos Estados Unidos, afirma à DW Elizabeth Dickinson, analista sênior do International Crisis Group (ICG).

"Seria um golpe muito duro para a Colômbia, principalmente na cooperação entre as forças de segurança de ambos os países", afirma. Para especialistas, o resultado imediato será o fortalecimento do narcotráfico (leia mais abaixo).

Viviana García Pinzón, especialista em segurança e pesquisadora do instituto Arnold Bergstraesser (ABI), associado à Universidade de Freiburg, ressalta que a dependência de Bogotá aos EUA extrapola os termos econômicos, já que envolve também questões de segurança, ajuda humanitária e desenvolvimento.

A Colômbia é o país da América do Sul que mais recebe verbas de Washington, segundo os dados mais recentes do governo americano, com mais de 740 milhões de dólares (cerca de R$ 4 bilhões) pagos em 2023. Metade desta verba é destinada ao combate do tráfico de drogas, enquanto o restante é gasto em programas humanitários e de alimentos.

Além de enviar um sinal negativo sobre a relação bilateral, o corte pode afetar diretamente programas de fortalecimento da justiça, lembra o economista Luis Fernando Mejía, diretor executivo do Centro de Pesquisa Econômica e Social Fedesarrollo, de Bogotá. "A perda desses recursos poderia retardar projetos de desenvolvimento e agravar a incerteza econômica e diplomática", aponta à DW.

Em setembro, Trump já havia retirado a Colômbia da lista de países que lutam contra o narcotráfico e revogou o visto do presidente colombiano.

Nesta terça-feira, porém, a disputa pública arrefeceu após Petro anunciar que teve uma reunião "longa, franca e construtiva" com o encarregado de negócios dos EUA, John McNamara. "Os altos funcionários reafirmaram o compromisso de ambas as partes em aprimorar as estratégias de combate às drogas", disse o ministério das Relações Exteriores da Colômbia.

Violência cresce na Colômbia

Víctor Mijares, cientista político da Universidade dos Andes, na Colômbia, vê risco imediato de o atrito desestabilizar os equipamentos militares colombianos, em um momento em que o país enfrenta uma nova crise de segurança que revive o fantasma da violência política dos anos 1980 e 1990. Nos últimos meses, Bogotá não escalou a tensão apenas com Washington, mas também com Israel, seus principais fornecedores de armas e aliados em segurança.

O governo de Petro, de esquerda, vem sendo criticado pela dificuldade de arrefecer os conflitos internos por meio de sua Justiça Especial para a Paz, a chamada "paz total" que se revelou lenta em sua promessa de reintegrar guerrilheiros à sociedade.

No início do ano, Petro suspendeu suas negociações de paz com guerrilheiros após uma onda violência eclodir na região de Catatumbo, retomando rotina de conflitos armados e deslocando a população civil. Em agosto, o senador e pré-candidato à presidência da Colômbia, Miguel Uribe Turbay, morreu após sofrer um atentado.

A ofensiva de Trump ainda pode pressionar a fronteira colombiana com a Venezuela, onde atuam grupos guerrilheiros. O país vizinho também vê uma intervenção cada mais incisiva dos EUA na região. "A situação é bastante delicada. Isso coloca sob muita pressão o empresariado, a sociedade civil e a economia colombiana", diz Mijares.

Cortes geram "vazio de poder"

O enfraquecimento militar colombiano pode resvalar nos próprios objetivos dos EUA de combater o narcotráfico na região, apontam os especialistas.

"Se concretizado, o retiro de apoio enfraqueceria a capacidade do Estado de manter presença nos territórios mais afetados pelo conflito e pelo narcotráfico. Isso geraria vazios de poder que poderiam ser aproveitados por grupos criminosos, afetando a segurança e a implementação dos acordos de paz", aponta Luis Fernando Mejía, da Fedesarrollo. "Em última análise, beneficiaria o crime organizado ao reduzir a capacidade operacional do Estado para enfrentá-lo."

Viviana García Pinzón também entende que o vácuo deixado pelo corte financeiro seria ocupado pelo narcotráfico. "Por onde se olha, essas decisões dos Estados Unidos fortaleceriam esse terreno fértil para o crime organizado, para as economias ilegais e para as economias de guerra", enfatiza.

Tensão diplomática como debate eleitoral

A tensão diplomática com os EUA também ganha apelos eleitorais para o pleito presidencial de 2026. Para Camilo González Posso, presidente do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento e a Paz, de Bogotá, o interesse americano de contrabalancear a crescente influência da China na região leva a uma narrativa de que o voto em Petro, primeiro presidente de esquerda eleito no país, é um voto anti-EUA.

"Ao usar a linguagem que usam, tanto [o secretário de Estado dos EUA, Marco] Rubio quanto Trump estão exercendo ingerência nas eleições", afirma o especialista da Indepaz. Para ele, o efeito é contrário, e leva Petro a inclinar seu país ainda mais para a Europa, China e o Brics.

"Ambos os líderes, com suas posições, tentam influenciar o resultado eleitoral", concorda Elizabeth Dickinson, analista do International Crisis Group . "Trump foi muito claro em sua preferência de que vença a direita na Colômbia".

Os especialistas, contudo, não esperam uma resposta homogênea da população à disputa, dada a polarização política crescente no país. Petro, assim como Trump, tem usado as redes sociais para atacar o adversário, um movimento que leva a críticas de má condução da política exterior.

"A direita está mais próxima da posição de Trump. Mas, tratando-se de dois presidentes muito explosivos e irresponsáveis em sua comunicação por meio das redes sociais, não acredito que possamos esperar uma reação homogênea, nem dos pré-candidatos, nem da população colombiana", conclui Mijares, da Universidade dos Andes.

Deutsche Welle A Deutsche Welle é a emissora internacional da Alemanha e produz jornalismo independente em 30 idiomas.
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