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Quais as provas contra Queiroz? Veja os motivos do MP para a prisão do ex-assessor de Flávio

Ministério Público do Rio apontou 'provas suficientes' da existência de crimes como peculato, lavagem de dinheiro, organização criminosa e obstrução da Justiça

19 jun 2020 - 12h20
(atualizado às 12h23)
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Na representação encaminhada à Justiça para deflagração da Operação Anjo, que prendeu o ex-assessor parlamentar Fabrício Queiroz nesta quinta, 18, o Ministério Público do Rio apontou "provas suficientes" da existência de diversos crimes, como peculato - materializados no esquema das "rachadinhas" dos salários de servidores da Assembleia Legislativa do Rio -, lavagem de dinheiro - praticados por meio de transações bancárias com saques e depósitos em espécie de forma fracionada -, de organização criminosa e de obstrução da Justiça.

No documento de 80 páginas, os investigadores do Ministério Pùblico do Rio também apontaram que a prisão preventiva era a única medida cautelar que impediria o ex-assessor de Flávio Bolsonaro e sua mulher, Márcia Oliveira de Aguiar, "de fugirem da Justiça ou de destruir provas, além de pressionar testemunhas na tentativa de obstaculizar o prosseguimento regular da investigação e da futura ação penal".

Veja parte delas:

PLANO DE FUGA

O Ministério Público do Rio descobriu que em dezembro de 2019, Fabrício Queiroz, o ex-assessor do senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ), sua mulher, Márcia Oliveira de Aguiar - foragida da Justiça - e o advogado Luiz Gustavo Botto Maia, também ligado ao filho mais velho do presidente, Jair Bolsonaro, teriam orientado a mãe do miliciano Adriano Magalhães da Nóbrega, o Capitão Adriano, a ficar "escondida".

"Foi possível verificar que Raimunda Veras Magalhães foi orientada por Fabrício José Carlos de Queiroz a permanecer escondida, temendo a retomada da investigação", informa os autos da Operação Anjo, deflagrada nesta quinta-feira, 18, que prendeu Queiroz. Capitão Adriano foi morto pela polícia, em fevereiro, na Bahia, após reagir à prisão. Desde janeiro de 2019, ele tinha prisão decretada na Operação Intocáveis - contra a milícia de Rio das Pedras.

ESCOLA E PLANO DE SAÚDE

O Ministério Público Rio de Janeiro afirma que o ex-assessor parlamentar Fabrício Queiroz custeou despesas pessoais do chefe e então deputado na Assembleia Legislativa do Rio, Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ). De acordo com as investigações, Queiroz transferia parte dos recursos para o 'patrimônio familiar' de Flávio através de depósitos fracionados e do pagamento de despesas pessoais do ex-deputado e de sua família.

Os investigadores detectaram pelo menos 116 boletos bancários referentes ao custeio do plano de saúde e das mensalidades escolares das filhas de Flávio e da esposa, Fernanda Bolsonaro, com dinheiro em espécie 'não proveniente' das contas do casal. Para os promotores, as despesas no valor total de R$162 mil podem ter sido quitadas por Queiroz.

Um vídeo obtido na investigação mostra o ex-assessor fazendo pagamentos no caixa de um banco. Cruzando horário, data, valores e movimentações bancárias, os promotores chegaram à conclusão de que ele foi o responsável por quitar as mensalidades escolares de outubro de 2018 das filhas de Flávio.

TRANSFERÊNCIA DE R$ 400 MIL

O Ministério Público do Rio de Janeiro estima que o miliciano Adriano Magalhães da Nóbrega, o Capitão Adriano, possa ter transferido mais de R$ 400 mil para as contas de Fabrício Queiroz, ex-PM apontado como operador financeiro de organização criminosa instalada no gabinete do senador Flávio Bolsonaro quando deputado estadual no Rio.

MP-RJ aponta 'provas suficientes' da existência de crimes como peculato, lavagem de dinheiro, organização criminosa e obstrução da Justiça por parte de Fabrício Queiroz
MP-RJ aponta 'provas suficientes' da existência de crimes como peculato, lavagem de dinheiro, organização criminosa e obstrução da Justiça por parte de Fabrício Queiroz
Foto: Reprodução / Estadão

Adriano foi morto em fevereiro deste ano pela polícia da Bahia, no município de Esplanada. Era apontado por investigadores do Rio como chefe do Escritório do Crime, grupo de pistoleiros da milícia na zona oeste da capital fluminense. Quando ainda era policial militar - chegou a ser capitão do BOPE -, Adriano trabalhou com Queiroz no batalhão de Jacarepaguá, também na zona oeste. Ele respondem juntos a um homicídio registrado como "auto de resistência".

A ex-mulher do miliciano, Danielle Mendonça da Nóbrega, e sua mãe Raimunda Veras Magalhães eram empregadas no gabinete de Flávio Bolsonaro na Assembleia Legislativa do Rio. Juntas as duas receberam R$ 1 milhão em salários e devolveram pelo menos R$ 202 mil em transferências identificadas para conta de Queiroz e outros R$ 200 mil ainda não identificados.

ELO COM A MILÍCIA

O suposto repasse de R$ 400 mil de Adriano para Queiroz foi apontado como um de dois aspectos da relação de Queiroz com grupos paramilitares, ligado à parte econômica, em razão de um suposto enriquecimento associado à milícia carioca. O outro aspecto destacado pelos investigadores é político e foi levantado a partir de suposta 'influência' exercida pelo ex-assessor entre os grupos de milicianos.

Em mensagens trocadas com a mulher, Márcia Aguiar, o ex-assessor parlamentar se compromete a 'interceder pessoalmente' junto a milicianos em favor de um homem que pede sua ajuda após receber ameaças de paramilitares no Itanhangá, também na zona oeste carioca

Os promotores também apontaram que em dezembro de 2019, Queiroz sua mulher e o advogado Luiz Gustavo Botto Maia, também ligado ao filho mais velho do presidente teriam orientado a mãe do Capitão Adriano, a ficar 'escondida'.

MP-RJ aponta 'provas suficientes' da existência de crimes como peculato, lavagem de dinheiro, organização criminosa e obstrução da Justiça por parte de Fabrício Queiroz
MP-RJ aponta 'provas suficientes' da existência de crimes como peculato, lavagem de dinheiro, organização criminosa e obstrução da Justiça por parte de Fabrício Queiroz
Foto: Reprodução / Estadão

CONSELHOS E PONTO RETROATIVO

Alvo de mandado de busca e apreensão, Luiza Souza Paes, ex-assessora do atual senador Flávio Bolsonaro, buscou, por meio do pai, a ajuda de Fabrício Queiroz, preso no âmbito da mesma investigação, para saber como agir. Os primeiros registros desse movimento se deram em dezembro de 2018, quando o caso foi revelado pelo Estadão, e chegaram a resultar em uma manipulação do ponto dela na Assembleia Legislativa do Rio (Alerj).

"Deixa passar essa semana pra ver. Eu vou passar um áudio aqui pro Queiroz, perguntar pra ele ver lá com aquele advogado lá qual é a melhor atitude pra tomar. Entendeu? Depois eu te falo", disse, em áudio, o pai dela, Fausto Antunes Paes. Depois, a orientou a levar extratos para casa a fim de que ele pudesse "trabalhar" neles antes de falar com Queiroz.

Outros alvos de buscas e apreensões entraram na mira dos investigadores neste contexto. São eles: a assessora Alessandra Esteves Marins; o advogado Luis Gustavo Botto Maia; e o funcionário da Assembleia Legislativa do Rio (Alerj) Matheus Azeredo Coutinho, que no Departamento de Pessoal da Alerj e teria marcado registros de ponto retroativos para Luiza.

ANOTAÇÕES SOBRE DINHEIRO

Em buscas feitas na casa de Márcia Oliveira de Aguiar, a atual mulher de Fabrício Queiroz, o Ministério Público de Janeiro apreendeu documentos com anotações sobre os gastos do ex-assessor do senador Flávio Bolsonaro (Republicanos/RJ) com despesas hospitalares e também sobre possíveis contatos com policiais e milicianos, caso fossem presos.

Anotações manuscritas em caderneta apreendida na residência de Márcia e os recibos do Hospital Israelita Albert Einstein também comprovam que a mulher recebeu pelo menos R$ 174 mil, em espécie, de origem desconhecida e pagou as despesas do hospital com dinheiro vivo", anotam os promotores, no pedido de prisão de Queiroz e sua mulher. Ela é considerada foragida da Justiça.

MP-RJ aponta 'provas suficientes' da existência de crimes como peculato, lavagem de dinheiro, organização criminosa e obstrução da Justiça por parte de Fabrício Queiroz
MP-RJ aponta 'provas suficientes' da existência de crimes como peculato, lavagem de dinheiro, organização criminosa e obstrução da Justiça por parte de Fabrício Queiroz
Foto: Reprodução / Estadão

MEU PAI É BURRO!

Em conversas por mensagem às quais o Ministério Público do Rio teve acesso, a filha e a mulher de Fabrício Queiroz criticam o fato de o pai ainda continuar tentando mandar na política mesmo sendo o principal alvo da investigação contra o senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ). Nathalia Queiroz, a filha, diz que o pai é burro. Márcia Oliveira Aguiar, a mulher, questiona quando ele vai fechar 'o caralho da boca dele'.

As conversas estão citadas na decisão judicial que autorizou a prisão de Queiroz na manhã desta quinta-feira, 18, obtida pelo Estadão. Ambas também são investigadas, e Márcia chegou a ser alvo de mandado de prisão, mas está foragida. Ao encaminhar para Márcia uma reportagem do jornal O Globo que mostrava um áudio de Queiroz falando sobre cargos em Brasília, em outubro do ano passado, Nathália escreveu: "Meu pai não se cansa de ser burro né?"

Márcia respondeu: "Cara, é foda! Não sei cara, quando é que teu pai vai aprender a fechar o caralho da boca dele? Eu tô cansada!" As conversas não pararam por aí. Nathália, inconformada com a suposta burrice do pai, voltou a mandar textão para a mulher dele, que não é sua mãe.

"Márcia, eu vou te falar. De coração. Eu não consigo mais ter pena do meu pai, porque ele não aprende. Meu pai é burro! Meu pai é burro! Ele não ouve. Ele não faz as coisas que tem que fazer. Ele continua falando de política. Ele continua se achando o cara da política." Ela diz ainda que, sempre que o encontra, Queiroz insiste em falar em política em nomeações. "Quando tá tudo quietinho. Tudo quietinho. Aí vem uma bomba. E vem a bomba vindo do meu pai, né? Pra piorar as coisas, pros advogados do 01, todo mundo fica puto, revoltado. Com certeza todo mundo vai comer o cu dele falando", emendou em possível referência aos advogados de Flávio, o '01', como o próprio Bolsonaro costuma se referir ao filho mais velho.

Estadão
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