PUBLICIDADE

O mistério da presença militar russa na Venezuela

Rússia enviou aviões com cem soldados e 35 toneladas de material não especificado, inclusive caminhões pesados, a Caracas

25 mar 2019 - 15h59
(atualizado às 16h34)
Compartilhar
Exibir comentários

Quando dois aviões militares russos pousaram no aeroporto de Caracas no sábado passado (23), alguns observadores cogitaram um possível envolvimento da Rússia na luta pelo poder na Venezuela.

O que está por trás da presença militar russa na Venezuela?
O que está por trás da presença militar russa na Venezuela?
Foto: DW / Deutsche Welle

De acordo com relatos da mídia, as aeronaves do tipo Ilyushin IL-62 e Antonov AN-124 transportaram cerca de cem soldados uniformizados e 35 toneladas de material não especificado, inclusive caminhões pesados.

Consta que o chefe de gabinete das forças terrestres russas, o general Vasily Tonkoshkurov, estava num dos aviões. E, também, que, no caminho para Caracas, as duas aeronaves teriam aterrissado na Síria, onde a Rússia está militarmente ativa desde 2015, apoiando o governante Bashar al-Assad.

Seria chegada a hora de uma missão semelhante na Venezuela? O Kremlin e suas Forças Armadas ajudarão o abalado presidente Nicolás Maduro? Talvez até mesmo a ponto de uma invasão, como em 1979 no Afeganistão?

As autoridades responsáveis em Moscou pouco falaram. Mesmo na mídia russa, a chegada de duas aeronaves de transporte na Venezuela foi uma questão secundária.

De acordo com reportagem desta segunda-feira da agência estatal de notícias RIA-Novosti, que menciona um diplomata russo em Caracas, os militares foram discutir questões relacionadas a acordos anteriores de fornecimento de armamentos e "não há nada de misterioso nisso".

A Rússia fornece há anos armamentos para a Venezuela, avaliados em mais de 10 bilhões de dólares, incluindo aviões de combate, helicópteros, sistemas de defesa antiaérea e tanques de guerra. Em breve haverá uma fábrica de metralhadoras do tipo AK-47, como também uma de cartuchos.

Além dos investimentos na indústria petrolífera venezuelana, esses fornecimentos de armas são os dois principais interesses da Rússia no país em crise.

Nos últimos meses, o Kremlin negou relatos de uma possível presença militar da Rússia no país sul-americano. Os rumores incluíam também a presença de mercenários russos com experiência de combate no leste da Ucrânia e na Síria, conhecidos como Tropa Wagner.

Segundo o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, Maduro não pediu ajuda militar à Rússia durante uma conversa telefônica que teve com o presidente Vladimir Putin no fim de janeiro.

Até agora, a Rússia mostrou de forma simbólica a sua disposição de ajudar a Venezuela militarmente. Em dezembro de 2018, por exemplo, Moscou enviou dois bombardeiros nucleares de longo alcance do tipo Tupolev TU-160 para Caracas e participou de um exercício conjunto com a Força Aérea Venezuelana.

Pequeno detalhe: na época, os bombardeiros foram acompanhados pelas mesmas aeronaves que aterrissaram agora em Caracas, um Ilyushin IL-62 e um Antonov NA-124. No entanto, isso aconteceu antes do agravamento da crise e antes de o político oposicionista Juan Guaidó ter se declarado presidente interino e ser reconhecido por muitos países ocidentais.

A mídia russa menciona duas possíveis razões pelas quais Moscou até agora tem se mantido militarmente reticente na Venezuela. Por um lado, o Exército do governo venezuelano é consideravelmente mais forte do que, por exemplo, na Síria antes da missão russa.

Por outro lado, a distância geográfica entre os dois países é significativamente maior e o apoio logístico às tropas, mais difícil. Nas redes sociais, especula-se que a Rússia quer, acima de tudo, dissuadir os EUA de uma intervenção militar na Venezuela.

As atuais ações da Rússia no país sul-americano não permitem uma comparação com a atuação de Moscou na Síria, e muito menos com a missão soviética no Afeganistão. A presença dos aviões russos em Caracas só permite especulações, disse o especialista militar russo Alexander Golts. E nada pode ser descartado.

"Talvez eles [militares russos] estejam se preparando para retirar Maduro, talvez queiram transportar ouro para fora do país ou enviar reforços para defender Maduro", disse Golts.

Deutsche Welle A Deutsche Welle é a emissora internacional da Alemanha e produz jornalismo independente em 30 idiomas.
Compartilhar
Publicidade
Publicidade