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Visita de Trump ao Reino Unido gera megaprotestos e mal-estar no governo com comentários sobre Brexit

Em entrevista a jornal britânico, presidente dos EUA critica proposta de primeira-ministra por acordo de livre comércio com UE, elogia ministro demissionário e diz que prefeito de Londres faz 'péssimo trabalho'.

13 jul 2018 - 09h28
(atualizado às 10h34)
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A visita oficial de Donald Trump, ao Reino Unido vem acompanhada de megaprotestos contra sua presença e colocou o governo britânico em uma situação delicada por causa de declarações dadas pelo presidente americano na véspera.

Manifestantes se organizaram para seguir o presidente por onde ele passar. Mais de 50 mil pessoas são esperadas para marchas na capital inglesa durante esta sexta, apesar de a agenda de Trump não incluir nenhum evento oficial em Londres.

Trump chegou na quinta-feira, 12, para uma visita de dois dias, no momento em que o governo britânico enfrenta uma profunda divisão interna por causa das negociações do Brexit - a saída do Reino Unido da União Europeia.

No mesmo dia em que participava de um jantar de gala com a primeira-ministra, Theresa May, no Palácio de Blenheim, o jornal britânico The Sun publicou na internet uma entrevista exclusiva com Trump, em que este critica a atuação de May na condução do Brexit, dizendo que ela não teria seguido seus conselhos de buscar uma saída mais radical do bloco europeu.

Na entrevista, que estampa a capa do The Sun desta sexta, o presidente elogia o ex-ministro das Relações Exteriores Boris Johnson, desafeto de May, critica o prefeito de Londres, Sadiq Khan, e insinua que o Brexit "suave" negociado por May poderia inviabilizar um acordo comercial bilateral entre Reino Unido e EUA.

Para Trump, a proposta de May, de buscar uma área de livre comércio de bens com a UE, "mataria" qualquer perspectiva de negócios com os EUA.

Encontro de May com Trump atraiu manifestantes na porta do Palácio de Blenheim
Encontro de May com Trump atraiu manifestantes na porta do Palácio de Blenheim
Foto: Reuters / BBC News Brasil

Trump também disse que o ex-ministro das Relações Exteriores Boris Johnson, que pediu demissão nesta semana por desentendimentos com May sobre o Brexit, seria um "ótimo primeiro-ministro".

"Acho que ele tem o que é preciso (...) Eu tenho muito respeito por Boris. Ele, obviamente, gosta de mim e diz coisas boas sobre mim", disse Trump, que chamou Johnson de "um cara muito talentoso". "Gosto muito dele".

'Hard Brexit' x 'soft Brexit'

O próprio jornal diz que as declarações de Trump jogam "nitroglicerina" em disputas internas de um governo abalado por renúncias de membros do Partido Conservador favoráveis ao chamado "hard Brexit" ("Brexit duro", em tradução livre), a ruptura mais radical com a UE sem participação no mercado único.

Boris Johnson anunciou que deixaria o cargo na segunda-feira, horas após o ministro especial para o Brexit, David Davis, também ter renunciado.

Outros integrantes do governo também deixaram seus cargos em reação ao plano divulgado pela primeira-ministra, chamado de "soft Brexit" ("Brexit suave") por prever a manutenção de laços econômicos com a UE após a saída do bloco, programada para março do ano que vem.

Johnson foi o segundo ministro do gabinete a renunciar, aprofundando a crise para o governo de May
Johnson foi o segundo ministro do gabinete a renunciar, aprofundando a crise para o governo de May
Foto: PA / BBC News Brasil

Para Johnson e Davis, que, ao contrário de May, fizeram campanha a favor do Brexit durante o plebiscito em junho de 2016, a proposta da primeira-ministra enfraquece a posição do Reino Unido.

Segundo as declarações de Trump ao jornal britânico, a solução proposta por May forçaria os EUA a negociar com a União Europeia ao invés de firmar acordos diretamente com os britânicos.

'Péssimo trabalho'

Ainda ao The Sun, o presidente dos EUA acusou o prefeito de Londres, Sadiq Khan, de estar fazendo "um péssimo trabalho" no combate ao terrorismo. Disse também que houve imigração demais na Europa.

Khan permitiu que manifestantes soltassem um balão gigante com um boneco representando Trump de fraldas como um bebê durante a visita do presidente a Londres.

Em entrevista ao The Sun, Trump diz que o ex-ministro das Relações Exteriores Boris Jonhson, que reuniciou esta semana, seria um ótimo primeiro ministro
Em entrevista ao The Sun, Trump diz que o ex-ministro das Relações Exteriores Boris Jonhson, que reuniciou esta semana, seria um ótimo primeiro ministro
Foto: EPA / BBC News Brasil

A editora de política da BBC, Laura Kuenssberg, disse que as declarações de Trump "passam como um rolo compressor" sobre Theresa May e seus argumentos em prol de um acordo comercial com a UE.

O gabinete da primeira-ministra, que se reuniu novamente com Trump nesta sexta-feira para discutir acordos bilaterais, não comentou as declarações do presidente. Além de reunião bilateral com May, ele visita a rainha Elizabeth 2ª no castelo de Windsor.

Em seguida, segue para a Escócia, onde pretende jogar golfe em seu próprio clube de golfe no sábado.

Trump viola protocolo, diz jornal

As polêmicas declarações de Trump divulgadas em meio à visita oficial foram classificadas pelo jornal americano New York Times como "uma violação notável do protocolo tradicional". O jornal diz que Trump "expôs sua marca de diplomacia de confronto....solapando a primeira-ministra Theresa May horas após o desembarque" no Reino Unido.

O New York Times resume a atual viagem de Trump pela Europa como "uma turnê de ruptura global diferente de qualquer coisa realizada por qualquer outro líder americano recente".

Antes de vir à Inglaterra, Trump esteve em Bruxelas, onde gerou tensão com países aliados na reunião da cúpula da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte), a aliança militar ocidental. Ele causou mal-estar ao afirmar que a Alemanha era "prisioneira da Rússia" por causa de acordos de fornecimento de energia, e questionou porque os EUA estavam investindo bilhões de dólares em uma aliança militar criada para contrabalançar o poderio russo, sendo que países europeus estariam gastando o mesmo montante fazendo acordos comerciais com Moscou.

Trump e a mulher Melania passaram a noite na residência oficial do embaixador dos EUA, Woody Johnson, em Londres
Trump e a mulher Melania passaram a noite na residência oficial do embaixador dos EUA, Woody Johnson, em Londres
Foto: Getty Images / BBC News Brasil

Na manhã desta sexta, sentando ao lado de Theresa May, Trump disse que provavelmente "nunca teve um relacionamento tão bom" com o Reino Unido e classificou a relação como "muito, muito forte". Ele declarou ainda que conversou por uma hora e meia com May sobre assuntos comerciais, militares e Oriente Médio.

Na coletiva de imprensa, perguntado se as duras declarações contra May poderia ser considerado comportamento de um aliado, Trump negou ter criticado a primeira-ministra. Ele disse que a única coisa que ele pede é que os EUA possam negociar com o Reino Unido."Acredito que, depois de falar com o pessoal do primeiro-ministro e especialistas em comércio, será possível um acordo", declarou.

May, por sua vez, não respondeu se ficou chateada com os comentários de Trump. Ela delcarou que "não há limites" para o Reino Unido depois de deixar o bloco. "Faremos acordos comercial com os EUA e outros ao redor do mundo", disse ela.

Reações contra Trump

Mais de 50 mil pessoas são esperadas para um megaprotesto contra Trump na capital inglesa
Mais de 50 mil pessoas são esperadas para um megaprotesto contra Trump na capital inglesa
Foto: AFP / BBC News Brasil

Manifestantes organizaram passeatas e protestos em diferentes cidades contra o presidente americano. Em Londres, o balão com Trump "bebê chorão", deve voar ao lado do Parlamento britânico. A ideia é levar o bebê, que custou mais de R$ 130 mil (cerca de 27 mil libras), até o clube de golfe de Trump na Escócia.

Vários políticos britânicos também fizeram críticas ao comportamento de Trump. O prefeito de Londres, Sadiq Khan, chamou de "desagradáveis" as críticas de Trump por causa dos ataques terroristas na cidade em 2017.

Khan defendeu a decisão de permitir que o inflável gigante Trump sobrevoasse Londres, dizendo que "a ideia de restringir o direito de protestar porque pode ofender um líder estrangeiro é um caminho perigoso".

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