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Usinas nucleares na rota de furacão Florence nos EUA reacendem fantasma da explosão de Fukushima

Sete anos depois de usina japonesa explodir após tsunami, pelo menos duas usinas nucleares americanas podem ser afetadas por furacão Florence

12 set 2018 - 21h35
(atualizado em 13/9/2018 às 12h32)
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Brunswick tem equipamentos semelhantes aos da usina japonesa de Fukushima
Brunswick tem equipamentos semelhantes aos da usina japonesa de Fukushima
Foto: BBC News Brasil

Além da evacuação de 1,7 milhão de pessoas em três estados, americanos correm contra o tempo para garantir a segurança de reatores nucleares que serão atingidos pelo furacão Florence, que deve chegar ao continente nesta quinta-feira.

Rebaixado nesta quarta-feira para categoria três, com ventos de até 195 km, o furacão ainda é descrito como "extremamente perigoso" e "catastrófico". Segundo o Serviço Nacional de Meteorologia dos EUA, mais de 10 milhões de moradores da Carolina do Norte, da Carolina do Sul e da Virgínia estão sob observação ou aviso de tempestade.

Mapa
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Foto: BBC News Brasil

Não bastassem os impactos naturais previstos para quando chegarem ao chegarem ao continente, os ventos e tempestades também levantam preocupação sobre a integridade das 16 usinas de energia nuclear que existem nos três estados - 12 delas nas Carolinas do Sul e do Norte, onde os efeitos do furacão devem ser mais dramáticos.

Em 2011, no Japão, a usina nuclear de Fukushima explodiu após um terremoto seguido por um tsunami que deixou milhares de mortos, feridos e desabrigados. Enquanto países europeus anunciavam planos para o fechamento definitivo de suas plantas nucleares após a tragédia, os EUA defenderam o modelo e o presidente Donald Trump, há três meses, deu ordens a seus auxiliares para reverterem o fechamento de usinas nucleares pouco lucrativas com novos incentivos.

A lembrança japonesa desperta preocupação entre moradores das regiões atingidas, que temem o vazamento de bacias de substâncias tóxicas (como a que transbordou após chuvas torrenciais na cidade mineira de Mariana, em 2015) e danos aos reatores nucleares.

Além das usinas nucleares, outras 9 siderúrgicas, 9 áreas de armazenamento de lixo tóxico e depósitos de restos da produção de carvão, segundo a imprensa americana, estão próximas a área que deve ser tomada pelo furacão Florence, trazendo riscos novas tragédias no esteio da passagem do furacão.

Dona de seis das usinas nucleares da região - duas delas próximas a rota prevista -, a Duke Energy diz ter criado uma megaoperação emergencial e afirma ter deslocado 20 mil funcionários para atuarem durante e depois do furacão.

A estimativa da empresa é que entre 1 e 3 milhões de clientes ficarão sem energia após esta "tempestade de magnitude que vai além da vista em muitos anos".

Reatores desligados

À BBC News Brasil, Catherine Butler, porta voz da Duke Energy, disse a empresa tem funcionários treinados para atuação em tragédias naturais e obedece às regras determinadas pela Comissão de Regulação Nuclear (NRC - Nuclear Regulatory Commission, na sigla em inglês) do governo americano em caso de furacões.

A reportagem pergunta sobre medidas se segurança em relação aos reatores nucleares.

"A recomendação é que o reator seja desligado pelos menos duas horas antes dos ventos chegarem à planta e acontece quando a velocidade média do furacão está entre 113 e 121 km/h", disse Butler.

"Mas ainda é impossível prever a antecedência com que desligaremos porque isso depende do caminho que o furacão tomar, da intensidade e outros fatores."

Mapa
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Foto: BBC News Brasil

Ainda segundo a porta-voz, "duas das nossas usinas estão mais próximas da área atingida: Brunswick e Shearon Harris".

Elas têm capacidade, respectivamente, de 1870 e 932 megawatts - para efeito de comparação, um megawatt alimenta em torno de mil casas nos EUA.

Segundo Butler, todos os materiais que possam ser levados pelos vendavais e torrentes estão sendo retirados das usinas, comida e água estão sendo estocados para os funcionários que continuarão trabalhando durante o furacão e inspeções regulares estão sendo realizadas junto a autoridades americanas.

"Nossas usinas foram desenhadas para suportar furacões e contam com as tecnologias mais complexas dos Estados Unidos", disse a executiva por telefone à BBC News Brasil.

Ainda assim, a empresa, que atende a 4 milhões de clientes nas duas Carolinas, afirma que, dada a magnitude das tempestades, a recuperação dos serviços pode levar semanas, em vez de dias, como previsto inicialmente.

Mais próxima entre as usinas na rota do furacão, Brunswick chama atenção por ter equipamentos semelhantes os da usina japonesa de Fukushima.

Fukushima

Em 2011, após um desastre natural, três reatores nucleares derreteram e liberaram material radioativo, gerando o segundo maior acidente nuclear da história (depois de Chernobyl).

O episódio levou autoridades americanas a reforçarem as regras de segurança nas 99 usinas nucleares espalhadas pelo país.

Apesar da criação de novos mecanismos de contenção de danos em emergências e desastres naturais, os EUA se mantiveram como os principais produtores de energia nuclear do planeta e defendem o uso da matriz energética.

O gesto vai na contra-mão de países como a Suíça, que depois da tragédia japonesa anunciou o encerramento de atividades nucleares até 2034 e a Alemanha, que foi mais longe e fechou 8 reatores logo após a explosão de Fukushima, além de prometer fechar todos os seus reatores nucleares nos até 2022.

Nesta quarta, a Comissão de Regulação Nuclear disse que enviou mais inspetores para as usinas e criou um centro de respostas a acidentes para apoio em tempo real durante a tempestade.

"Nós estamos preparados e nossos protocolos de inspeção são muito sérios", disse a porta-voz da Duke Energy à BBC News Brasil.

Segundo a empresa, os dois reatores de Brunswick têm capacidade de suportar ventos com velocidade superior a 250 km/h e foram projetados a 6 metros acima do nível do mar para garantir que não serão afetados pelas inundações.

A usina de Harris também está na rota do furacão
A usina de Harris também está na rota do furacão
Foto: BBC News Brasil

'Um soco de Mike Tyson'

Além das Carolinas do Sul e do Norte e da Virginia, a Georgia declarou estado de emergência nesta quarta-feira. Mais ao norte, a capital dos Estados Unidos, Washington, também recorreu ao estado de emergência no início da semana.

À BBC News em Washington, um técnico do Serviço Nacional de Meteorologia disse que "esta provavelmente será uma tempestade de uma vida inteira para partes da costa da Carolina"

"Não posso enfatizar o suficiente sobre o potencial de danos inacreditáveis causados por vento, tempestade e inundações com esta tempestade", continuou.

Jeff Byard, da Agência Federal de Gerenciamento de Emergências, definiu o furacão como "um soco de Mike Tyson na costa da Carolina".

Analistas estimam prejuízos de mais de US$ 170 bilhões e danos em 759.000 casas e prédios comerciais.

Veja também:

As assustadoras imagens do furacão Florence visto de cima:
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