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ONU recebe relatos de crimes dos dois lados na Costa do Marfim

1 abr 2011 - 13h10
(atualizado às 13h43)
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Enquanto os confrontos se intensificam na Costa do Marfim, a ONU anunciou nesta sexta-feira ter recebido informações de que os dois grupos políticos que disputam o poder no país são acusados de sérias violações de direitos humanos.

Laureant Gbagbo acena ao passar pela Guarda de Honra do palácio presidencial de Abidjan. Gbagbo, presidente da Costa do Marfim até o final de 2010, se declara vitorioso com o apoio do Sul do país
Laureant Gbagbo acena ao passar pela Guarda de Honra do palácio presidencial de Abidjan. Gbagbo, presidente da Costa do Marfim até o final de 2010, se declara vitorioso com o apoio do Sul do país
Foto: AFP

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Tropas leais ao opositor Alassane Ouattara - reconhecido internacionalmente como o vencedor do pleito presidencial de novembro passado - realizam ataques na principal cidade marfinense, Abidjan, em áreas ainda controladas pelo rival Laurent Gbagbo, que se recusa a deixar a Presidência.

Intensos confrontos tem sido registrados nos arredores da residência presidencial, onde testemunhas disseram ter visto uma nuvem de fumaça, e num quartel militar. Simpatizantes de Ouattara dizem ter tomado o controle da televisão estatal, que saiu do ar no fim da noite de quinta-feira.

Aliados de Gbagbo dizem que, mesmo com a intensificação da violência em Abidjan, ele ainda está na cidade.

A ONU, que ajudou a proteger Ouattara no período pós-eleitoral, disse que há relatos de que as tropas leais a ele cometeram crimes como sequestros, maus-tratos de civis, prisões arbitrárias, saques e extorsão durante seu avanço rumo a Abidjan.

Rupert Colville, porta-voz do Alto Comissariado de Direitos Humanos da ONU, pediu que Ouattara mantenha controle sobre os atos praticados por seus simpatizantes.

"Ao mesmo tempo, forças pró-Gbagbo também continuam a cometer violações diárias, incluindo a morte de dois civis que supostamente foram queimados vivos por milicianos", disse Colville em comunicado. A ONU ameaçou os responsáveis pelos crimes com ações "sob a lei internacional".

Ofensiva

Segundo analistas, o risco é crescente de uma nova guerra civil e de um banho de sangue no país.

As forças leais a Ouattara, vindas do norte do país, começaram a avançar na última segunda-feira e parecem já ter tomado cerca de 80% do país. Há indícios de que milhares de militares, incluindo líderes do Exército, desertaram para o lado de Ouattara.

Segundo o correspondente da BBC John James, tudo indica que Gbagbo - que não é visto em público há semanas - esteja prestes a ser forçado a deixar o poder.

Além da ofensiva de seu adversário, Gbagbo está sob sanções impostas pela ONU, pela União Europeia e por grupos africanos, mas ainda mantém o apoio de milícias e da Guarda Republicana.

O ministro do Exterior do gabinete de Gbagbo, Alcide Djedje, disse à BBC que Gbagbo quer negociar com Ouattara - indicando que o presidente não está disposto a renunciar de imediato.

"Vamos ver as negociações primeiro, e veremos qual será o resultado das negociações. Mas nós temos um esboço de uma solução e queremos nos sentar e encontrar uma via política para encerrar a crise. Gbagbo não é o tipo de pessoa que quer manter o poder, só quer negociar a salvação das vidas dos marfinenses."

Aviação

Depois da suspensão de todos os voos no país na quinta-feira, nesta sexta-feira o governo formado por Ouattara anunciou que o tráfego aéreo pode ser retomado.

A ONU e tropas francesas tomaram o controle do aeroporto internacional de Abidjan, que está sob toque de recolher até domingo. A crise política tem raízes em problemas econômicos e humanitários no país.

Sanções externas e vetos à exportação de cacau - do qual a Costa do Marfim é a maior produtora mundial - derrubaram a economia marfinense, e os bancos estão fechados há mais de um mês.

No campo humanitário, a ONU estima que 500 pessoas já tenham morrido em episódios de violência pós-eleitoral. O conflito deixou até agora 1 milhão de deslocados, a maioria para países como Gana e Libéria.

Na noite de quinta-feira, uma sueca a serviço da ONU foi morta a tiros em sua casa em Abidjan.

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