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Prisioneiro se nega a abandonar Guantánamo apesar de livre

22 jan 2016 - 07h50
(atualizado às 08h40)
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O número de detentos na prisão de Guantánamo caiu de 242 para 91 nos últimos sete anos, mas o centro continua em funcionamento
O número de detentos na prisão de Guantánamo caiu de 242 para 91 nos últimos sete anos, mas o centro continua em funcionamento
Foto: Getty Images

Muhammad Bawazir passou os últimos 14 anos de sua vida recluso na prisão norte-americana de Guantánamo, em Cuba.

Nesta semana, ele teve a chance de pegar um avião e abandonar o centro de detenção para sempre - como fizeram outros dois detentos - mas decidiu ficar.

Esse iemenita de 35 anos recusou a oferta de recomeçar a vida em um país que havia aceitado acolhê-lo, pois não tinha parentes por lá.

A decisão surpreendeu o advogado de Bawazir, John Chandler, que disse ter passado meses tentando convencê-lo a deixar o centro de detenção.

O caso vem a público sete anos após o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, ter assinado uma ordem para fechar a prisão de Guantánamo.

A base é usada por autoridades americanas desde 2002 para conter suspeitos de terrorismo, e é alvo de campanhas de entidades de defesa de direitos humanos, por indícios de tortura e maus-tratos contra os presos.

A ordem de Obama é de 22 de janeiro de 2009, mas a cadeia continua em funcionamento.

"É cara, desnecessária e serve apenas como propaganda de recrutamento para nossos inimigos", disse Obama no último dia 12, em seu discurso anual sobre o Estado da União.

Problemas legais, oposição no Congresso e dificuldade em conseguir países para acolher os presos são fatores que impediram Obama de cumprir sua promessa.

Apesar disso, o número de presos na base caiu nos últimos anos de 242 para 91 - número que hoje seria 90 se Bawazir não tivesse se recusado a subir no avião no último momento.

Muhammad Bawazir em foto do Departamento de Estado dos EUA divulgada pelo jornal New York Times e pela organização WikiLeaks
Muhammad Bawazir em foto do Departamento de Estado dos EUA divulgada pelo jornal New York Times e pela organização WikiLeaks
Foto: BBC Brasil

Um preso teimoso

Bawazir chegou a Guantánamo aos 21 anos, após ser preso no Afeganistão.

Em 2008, ainda no governo George W. Bush (2001-2008), sua liberação foi aprovada, mas não pôde ser colocada em prática porque Washington se recusava a enviar prisioneiros ao Iêmen, temendo que alguns deles voltassem a representar ameaça aos EUA.

Hoje, não é possível enviar detentos para lá porque o Iêmen está em meio a uma guerra civil.

Nos 14 anos em Guantánamo, Bawazir protagonizou diversas greves de fome.

Em uma delas, chegou a pesar 41 quilos, o que levou autoridades a alimentá-lo à força para evitar sua morte.

"Ele está apavorado por ter que ir a um país onde não tem apoio garantido", disse o advogado John Chandler ao explicar a decisão de seu cliente.

Ele disse ter tentado por meses convencer Bawazir a aceitar a oferta, e que ele tinha concordado na noite de terça-feira - mas voltou atrás no dia seguinte.

"Não sei explicar a lógica da posição dele. É simplesmente uma reação muito emocional de um homem que está preso há 14 anos."

Problemas legais, oposição no Congresso e dificuldade em fechar acordos diplomáticos impediram o fechamento da prisão
Problemas legais, oposição no Congresso e dificuldade em fechar acordos diplomáticos impediram o fechamento da prisão
Foto: Getty Images

Depressão

O advogado afirmou que Bawazir estava deprimido e o comparou ao personagem do filme Um Sonho de Liberdade (1994) que não consegue acertar sua vida após passar muitos anos preso.

"Ele sempre foi muito sensível. Quando estava em greve de fome me disse: 'Tudo que quero é morrer'. Ele não aguentava o lugar", disse Chandler.

As autoridades americanas não informaram o nome do país que aceitou acolher o prisioneiro, mas o advogado disse ser "um país que eu iria sem pensar duas vezes".

O desejo de Bawazir era viver em um local onde possui parentes, como Emirados Árabes Unidos, Arábia Saudita ou Indonésia, mas aparentemente o governo dos EUA não conseguiu fechar acordo com esses países para que recebessem detentos de Guantánamo.

Agora, diante da decisão, há dúvidas sobre o destino do prisioneiro. O advogado disse estar preocupado com a situação, sobretudo depois que Obama deixar a Casa Branca, no começo de 2017.

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