Nicolás Maduro, sucessor de Chávez, é considerado 'moderado'
9 dez2012 - 12h05
(atualizado às 12h42)
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O chanceler e vice-presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, designado pelo presidente Hugo Chávez como seu sucessor caso fique "incapacitado para governar", é uma figura de tendência moderada, mas apreciada pela importante aliada Cuba. Chávez definiu Maduro como "um revolucionário por completo, um homem com muita experiência, apesar de sua juventude", e afirmou que é "um dos líderes jovens de maior capacidade para dirigir o destino da Venezuela com sua mão firme, com seu olhar, seu coração de homem do povo, com suas habilidades interpessoais, com o reconhecimento internacional que ganhou".
Seu nome apareceu com cada vez mais força como possível sucessor de Chávez desde a detecção de um câncer no presidente em junho de 2011, o que o obrigou a se submeter a várias intervenções cirúrgicas e a longos períodos de tratamento em Havana. No início da crise de saúde, e com Chávez afastado da vida pública por quase um mês, Maduro anunciou que o presidente havia sido operado de um "abscesso pélvico" e depois o visitou frequentemente em Havana durante seus tratamentos médicos.
Na última sexta-feira, Chávez retornou a Havana, onde se submeteu a um tratamento de oxigenação hiperbárica e a novos exames médicos, e o fez acompanhado de Maduro, que apareceu descendo as escadas do avião atrás do presidente, um gesto que alguns analistas leram como uma chave sucessória.
Maduro, 49 anos, foi nomeado após a reeleição de Chávez no dia 7 de outubro como vice-presidente e foi ratificado à frente do Ministério das Relações Exteriores, cargo que ocupa desde meados de 2006, pouco antes de o presidente ter sido reeleito na presidência para seu segundo mandato em seis anos.
Anteriormente, este ex-motorista de ônibus e líder sindical foi presidente da Assembleia Nacional (2005-2006), embora sua atividade parlamentar tenha começado no cargo de deputado em 1999, como membro do Movimento Quinta República (MVR), fundado por Chávez. "Vejam aonde vai Nicolás, o motorista de ônibus Nicolás. Era motorista de ônibus (...), e como zombaram dele", afirmou Chávez ao nomeá-lo no novo cargo.
Maduro é considerado da ala moderada do círculo mais próximo ao presidente venezuelano, diferentemente de outros estreitos colaboradores, como Diosdado Cabello, o outro nome que soava com força, um ex-militar que participou do frustrado golpe de Estado liderado com Chávez em 1992 e que é atualmente presidente da Assembleia Nacional. O cientista político Ricardo Sucre destaca as qualidades de Maduro: "Não é ruidoso verbalmente e parece ser uma pessoa com natureza de chanceler, disposta ao diálogo".
"Além disso, é a opção dos (líderes cubanos Fidel e Raúl) Castro", acrescenta este professor da Universidade Central da Venezuela. Da mesma opinião é a historiadora Margarita López Maya, que destaca "a fidelidade deste político, que se posicionou como o melhor porta-voz internacional do governo de Chávez". Como chanceler, Maduro adotou ao pé da letra o discurso anti-imperialista do presidente, hostil aos Estados Unidos, assim como a defesa dos regimes da Síria ou do falecido líder líbio Muanmar Kadhafi.
Em julho, Maduro foi acusado pelo governo do Paraguai de ingerência, por ter incitado os comandantes militares paraguaios a evitar a destituição do presidente Fernando Lugo em um julgamento político no Congresso. Ao mesmo tempo, participou dos processos de integração regional impulsionados pela Venezuela nos últimos anos, como a Celac, assim como das negociações com os novos sócios político-econômicos da Venezuela, como China e Rússia.
Nos últimos meses, durante a recuperação de Chávez, o chanceler adotou um papel mais protagonista na diplomacia venezuelana, substituindo-o em conferências internacionais, como a Cúpula das Américas realizada em Cartagena (Colômbia) em abril.
Em 2000, ele propôs e conseguiu implementar uma nova constituição, na qual mudava o nome do país para República Bolivariana da Venezuela, e abria espaço para uma série de projetos populares, facilitados pela ferramenta jurídica da Lei Habilitante. Uma das medidas mais marcantes foi a Lei de Hidrocarbonetos, que colocava em 51% a participação estatal no setor petrolífero
Foto: AFP
A alteração da Constituição exigia que novas eleições fossem realizadas para a formação de um novo governo. Em 2000, Chávez e seus aliados foram eleitos sem dificuldades (o presidente inclusive superou o desempenho de 1998, abocanhando 60% dos votos)
Foto: AFP
Em 2001, cerca dez anos depois das tentativas de golpe contra Pérez, foi a vez de Chávez enfrentar uma revolta.
Foto: AFP
Em 11 de abril de 2002, manifestantes protestaram contra a demissão da direção da Empresa Nacional de Petróleo. O protesto ganhou corpo, e os manifestantes tomaram o palácio presidencial. Após confrontos entre as forças do governo e de oposição, Chávez renunciou
Foto: AFP
Seu afastamento gerou uma série de revoltas por todo o país, pedindo seu retorno. O tenente retomou à presidência dois dias depois
Foto: AFP
A pressão contra Chávez, oriunda especialmente das classes média e alta, manteve-se. Contestado, Chávez enfrentou em 2004 um referendo sobre sua permanência no poder. Com aprovação maciça de 58,25% dos votos, ele usou o ensejo para expandir seus programas sociais
Foto: AFP
Um ano depois, a oposição boicotou as eleições parlamentares. Todos os assentos acabaram tomados pelos aliados de Chávez
Foto: AFP
Chávez reelegeu-se presidente em 2006 com 74% dos votos a seu favor
Foto: AFP
Uma das primeiras medidas de Chávez em seu terceiro mandato foi a criação do Partido Socialista Unido da Venezuela (Psuv), formado com o objetivo de unificar as forças de esquerda do país
Foto: AFP
No entanto, à medida que o mandato andava, o bolivarianismo de Chávez caminhava para uma vertente cada vez mais personalista de política. Em 2009, após aprovação em um novo referendo, ele reelaborou a Constituição, na qual estabelecia reeleições infinitas para a presidência, abrindo espaço para especulações sobre um novo mandato a partir das eleições de 2012
Foto: AFP
Esta agenda começou a ser interrompida em 30 de junho de 2010, quando Chávez anunciou que se recuperava de um câncer. (Na foto, de 2011, Chávez fala à imprensa)
Foto: AFP
Desde então, foram diversas idas e vindas a Cuba, onde buscou tratamento, permeadas por escassas declarações oficiais sobre seu estado de saúde. Nunca foram dadas informações concretas sobre o tipo de câncer do presidente, e Caracas se reduzia a afirmar que Chávez - que, nas suas ausências, nunca cedeu temporariamente o posto de presidente ao vice Elías Jaua - rumava a uma recuperação plena da doença
Foto: AFP
Em 2012, Chávez anunciou o fim da luta contra o câncer e confirmou sua candidatura à terceira reeleição. Na foto, o presidente canta na chuva no último dia de campanha, 4 de outubro
Foto: AP
Em 1998, já conhecido e contando com amplo apoio popular, Chávez concorreu e venceu as eleições presidenciais, com expressivos 56% dos votos no primeiro turno
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Em 1999, em uma de suas primeiras ações, dissolveu o Congresso e convocou uma Assembleia Nacional Constituinte
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Há duas décadas, Hugo Chávez se faz presente na política venezuelana, quase sempre tomando o centro do palco. Veja, a seguir, alguns dos principais momentos desta história que, neste domingo de outubro de 2012, inicia um novo capítulo com um inédito quarto mandato de mais seis anos
Foto: Arte Terra / AFP
Hugo Chávez Frias nasceu em Sabaneta, no Estado de Barinas, em 28 de julho de 1954. Era o segundo de seis filhos de uma pobre família, encabeçada por um professor de colégio. Aos 17 anos, entrou para a Academia de Ciências Militares da Venezuela. Formado em 1975, aos 21 anos, iniciou carreira dentro do Exército, na qual acumulou recomendações e chegou ao posto de Lugar-Tenente. Ficou famoso por discursos, nos quais criticava o governo, e começou a cultivar o conceito do bolivarianismo
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Em 1989, Caracas foi o cenário de violentos protestos contra medidas neoliberais tomadas pelo governo do presidente Carlos Andres Perez. Foi neste cenário que, em 1992, Chávez e outros militares tentaram um golpe de Estado, que acabou neutralizado, e Chávez, preso
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Perez, no entanto, não resistiu a um escândalo de corrupção que acabou o derrubando, em 1993. Rafael Caldera, vencedor das eleições de 1994, perdoou Chávez, concedendo-lhe anistia. O tenente saiu da prisão e, deixando a carreira militar de lado, entrou para a política
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Em 1997, Chávez transformou o até então clandestino Movimiento Bolivariano Revolucionario 200 MBR em partido político, criando o Movimento da Quinta República